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Perfis

Foto de Sydney Pollack

Sydney Pollack

Idade
73 anos
Nascimento
01/07/1934
Falecimento
26/05/2008
País de nascimento
Estados Unidos
Local de nascimento
Lafayette, Indiana

Se a filmografia de Sydney Pollack não cumpriu todas as promessas iniciais, resta a imagem de um diretor competente, de narrativa clássica e hábil no trato com os atores.

Quando escrevi nesse site sobre Destinos Cruzados, que acabou sendo o antepenúltimo trabalho do diretor Sydney Pollack, eu disse que sua obra já demonstrava sinais de evidente declínio. O cineasta fechara a década de 1990 com apenas quatro filmes no currículo, cada um representando um retrocesso em relação ao anterior. De 2000 para cá, o cenário não mudou muito. Pollack assinou apenas mais dois filmes, nenhum deles particularmente interessante. Era nítido que a atividade por trás das câmeras já não o completava como no passado. Em seu lugar, Pollack foi cada vez mais se envolvendo com a produção de outros longas-metragens, e com a interpretação, arte pela qual, aliás, começou no mundo da televisão e do cinema. Apesar disso, para os cinéfilos, a imagem de Pollack que permanecerá será a do cineasta que, se não chegou a ser especialmente brilhante (ele próprio não se considerava um estilista), sempre foi competente em seu ofício, em especial na direção de atores.

 

Sydney Irwin Pollack nasceu em 1º de julho de 1934, na cidade de Lafayette, estado de Indiana. Seus pais eram imigrantes russos. A mãe, Rebecca, era dona de casa. O pai, David, fora boxeador profissional e àquela altura se aventurava como farmacêutico. Eles se separaram quando Pollack ainda era muito jovem. Aos 37 anos, Rebecca morreu vítima do alcoolismo. Pollack tinha 16.

 

No ano seguinte, ele se mudou para Nova York já com o objetivo de iniciar seus estudos de arte dramática na Playhouse Neighborhood, sob a batuta de Sanford Meisner, famoso instrutor de futuros astros como Steve McQueen, Grace Kelly, Diane Keaton e Robert Duvall. Pollack tornou-se assistente de Meisner, com quem trabalhou durante seis anos, até 1960. Durante esse período, já dava seus primeiros passos nos palcos. Em 1955, por exemplo, ele esteve ao lado de Zero Mostel em A Stone for Danny Fisher (Elvis Presley filmaria a versão para o cinema em 1958, chamada no Brasil de Balada Sangrenta). Em 1956, dividiu as atenções da platéia com Tyrone Power, em The Dark is Light Enough.

 

Foi por volta dessa época que Pollack serviu a carreira militar. Lá fez amizade com John Frankenheimer, cujo talento como diretor estava começando a ser notado. Em 1959, quando ambos foram dispensados, Frankenheimer o escalou em diversas adaptações para a televisão dos livros de Hemingway. Em 1960, Pollack foi levado à Hollywood na condição de revisor de diálogos do novo filme do colega, Juventude Selvagem, a ser estrelado por Burt Lancaster e Shelley Winters.

 

Seu interesse pela direção começava a aparecer. Ainda inexperiente no ofício, Pollack resolveu fazer uma espécie de estágio, ao dirigir variados episódios de séries televisivas, como The Alfred Hitchcock Hour, O Fugitivo, Ben Casey e The Defenders.

 

Paralelamente a essas primeiras experiências, Pollack continuava a trabalhar como ator. Em 1962, estreou em longas metragens feitos para cinema na produção Obsessão de Matar. O filme nunca pretendeu entrar para a história mas ao menos serviu para que Pollack conhecesse seu ator fetiche, Robert Redford, com quem trabalharia em sete de seus futuros filmes.

 

Pollack resolveu encarar pela primeira vez a direção de uma produção cinematográfica em 1965. A escolha recaiu sobre Uma Vida em Suspense, baseado num artigo publicado na revista Life, a respeito da história real de uma mulher em depressão que telefona para uma clínica de reabilitação anunciando que irá se matar. Do outro lado da linha, um estudante negro tenta mantê-la acordada o máximo de tempo possível até que o socorro chegue. Nos papéis principais, Pollack conseguiu de cara dois atores em alta em Hollywood: Anne Bancroft e Sidney Poitier, ela vencedora do Oscar em 1962, ele, em 1963. Pollack revelava um estilo elegante de filmar, que parecia ter um pé no cinema clássico americano, com a tensão se acentuando ao final, e outro no europeu, com os flash-backs silenciosos e atemporais. Apesar das qualidades, o filme fracassou nas bilheterias.

 

Pollack seguiu em frente e decidiu que seu projeto seguinte seria a adaptação de Esta Mulher é Proibida, peça menos conhecida de Tennesse Williams. Novamente o elenco era encabeçado por dois nomes importantes: Natalie Wood, linda e no auge do sucesso, e Robert Redford. O roteiro ficou sob a incumbência de Francis Ford Coppola, então começando a botar suas asinhas de fora. Apoiado nesta combinação de talentos e mais na fotografia do craque James Wong Howe, o filme trazia um belo acabamento, um certo tom melancólico, de um Estados Unidos que já não existia mais. Novamente a fita não emplacou junto ao público.

 

Após dois trabalhos sem muita repercussão, ambos estrelados por Burt Lancaster, Pollack resolveu adaptar o romance Eles Matam Cavalos, Não Matam?, de Horace McCoy (no Brasil, o filme chamou-se A Noite dos Desesperados), impiedoso retrato da época da depressão americana dado por meio de vários personagens que disputam um prêmio numa maratona de dança. A protagonista foi vivida com incrível garra e talento por Jane Fonda, recém saída da ficção-pop Barbarella. O restante do elenco mesclava atores veteranos (Red Buttons e Gig Young), com nomes ainda novos (Michael Sarrazin, Bruce Dern, Susannah York e Bonnie Bedelia). O filme agradou em cheio aos críticos. O National Board of Review o elegeu o melhor do ano. Jane Fonda foi escolhida a melhor atriz pelo pessoal de Nova York. Além disso, o filme recebeu 9 indicações ao Oscar, levando a de melhor ator coadjuvante para Gig Young, no papel do animador da maratona. Definitivamente, Sydney Pollack estava na área.

 

Após tamanho sucesso, o diretor esperou três anos para ver qual rumo seguir. A opção recaiu sobre o faroeste ecológico Mais Forte que a Vingança. Novamente com Robert Redford no papel principal, o filme é uma espécie de precursor de Dança com Lobos. Em 1973, Pollack contou com a dupla Redford (sempre ele) e Barbra Streisand (no auge da popularidade) para realizar Nosso Amor de Ontem. Desbragadamente romântico, a fita conta a história de um amor que atravessa um período de 20 anos, passa pela 2ª Guerra Mundial, marcatismo e até mesmo os bastidores de Hollywood. Mesmo com o inesperado unhappy end, o filme permanece como um dos mais lembrados pela sua geração e um dos mais rentáveis da carreira de Pollack. A canção The Way we Were, de Marvin Hamlisch, vencedora do Oscar daquele ano, ficou famosa.

 

Nos dois anos seguintes, Sydney Pollack mudou um pouco o tom da sua filmografia, até então formada por dramas de conteúdo sócio-político. Em 1974, enveredou pelo caminho do thriller de ação (para os padrões da época), com Operação Yakuza, estrelado pelo veterano Robert Mitchum. Em 1975, em meio à turbulência do escândalo Watergate, realizou Três Dias de Condor, thriller de espionagem, em que Robert Redford interpreta um agente da CIA com apenas 72 horas à disposição para descobrir quem está tentando assassiná-lo. Espécie de antecipação da série Bourne, Três Dias de Condor também se deu bem nas bilheterias.

 

Um Momento, Uma Vida, de 1977, marcou a única colaboração entre Sydney Pollack e Al Pacino. Por algum motivo que não se explica, a história do piloto de corrida Bobby Deerfield não deu certo e o filme é um dos menos lembrados da carreira do diretor e do ator.

 

A década de 70 foi fechada com O Cavaleiro Elétrico, misto de faroeste contemporâneo e comédia romântica, estrelado por Robert Redford e Jane Fonda. Redford interpreta um ex-campeão de rodeio que foge com seu cavalo pelos EUA afora quando descobre que esse seria drogado para participar de um comercial televisivo. Fonda faz a repórter que acompanha a jornada do herói. Apesar dos talentos envolvidos, era possível esperar mais de O Cavaleiro Elétrico, que ainda assim deu excelente retorno de caixa.

 

Sydney Pollack tornava-se um diretor confiável aos olhos da indústria cinematográfica. Sabia contar uma história, era hábil na direção de atores, cumpria orçamentos e, o melhor de tudo, fazia filmes rentáveis. Pra que pedir mais?

 

Ausência de Malícia foi o filme com o qual Pollack adentrou nos anos 80. Na história original, uma repórter de um jornal de Miami, vivida por Sally Field, publica uma falsa matéria contra um vendedor de bebidas, interpretado por Paul Newman. Na época, a fita foi interpretada por muitos como uma resposta do diretor a Todos os Homens do Presidente, filme de 1976, de Alan J. Pakula, e que trazia um retrato romanceado dos repórteres do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, responsáveis por trazer à tona o escândalo Watergate.

 

Em 1982, com Tootsie, Sydney Pollack finalmente entrou para o time titular dos cineastas americanos. Como é possível não gostar de Tootsie? A primeira comédia de sua carreira tinha tudo no lugar certo: um Dustin Hoffman botando pra quebrar, empatia entre o casal central, ótimas piadas e situações, uma simpática canção-tema e tudo o mais que se pode querer de um filme. Indicado a 11 Oscars (vencedor de apenas um, para Jéssica Lange), Tootsie rendeu U$ 177 milhões nas bilheterias americanas (perdeu apenas para ET), quantia inimaginável para a época e respeitáveis até mesmo para os padrões atuais, ainda mais para uma comédia.

 

Três anos depois, Pollack lançou seu maior sucesso artístico, o romance em escala épica Entre Dois Amores. Baseado nas memórias da escritora Isak Dinensen, interpretada por Meryl Streep, o filme conta sua trajetória na África, primeiro como dona de uma plantação de café, no Quênia, e em seguida seu envolvimento como o caçador Denys Finch Hatton (Robert Redford). Longo (um pouco demais), repleto de belas paisagens (um pouco demais) e escorado em uma portentosa trilha sonora de John Barry (um pouco excessiva), Entre Dois Amores tem todas as qualidades – e infelizmente alguns defeitos também – de um filme de amor (ficaram famosas as seqüências aéreas com o casal central). Pollack pode não ser um David Lean, mas seu trabalho está longe de fazer feio. Prova disso são os dois Oscars que o filme lhe proporcionou, na condição de produtor e diretor.

 

Se Entre Dois Amores marcou o apogeu da carreira de Pollack, não é muito errado dizer que ele também representou o começo do seu desinteresse pela direção e, consequentemente, do declínio da qualidade das suas obras seguintes. O diretor passou a espaçar cada vez seus projetos. Suas escolhas continuaram recaindo sobre adaptações literárias e os elencos sempre se mantiveram em alto nível. Mas algo se perdeu pelo caminho.

 

Em 1990, realizou Havana, espécie de refilmagem desajeitada e anacrônica de Casablanca. Um envelhecido Robert Redford não convenceu no papel central e seu par romântico com a sueca Lena Olin fez água. Em 1993, transpôs para a tela o livro A Firma, de John Grisham, então em alta pelos lados de Hollywood. Com Tom Cruise liderando o cast, não foi surpresa que o filme tenha sido a 4ª maior bilheteria do ano, o que não o coloca entre os melhores filmes do diretor. Dois anos depois, resolveu refazer Sabrina, a comédia clássica de Billy Wilder. Era o mesmo que pedir pra bater com a cara na parede. Afinal, como encontrar uma substituta para Audrey Hepburn? Pollack comprou a briga e, claro, se deu mal. Harrison Ford (repetindo o papel que, 41 anos antes, pertencera a Humphrey Bogart) estava nitidamente pouco à vontade (como, aliás, Bogart também estivera no original). Pior ainda era ver Julia Ormond (alguém se lembra hoje dessa atriz?) tentar repetir as graças de Hepburn. Sabrina não funcionou nem mesmo para o público mais jovem, que nunca ouvira falar na versão anterior e para quem Wilder, Bogart ou Audrey deviam ser marcas de sabonete. Por fim, em 1999, Pollack chegou ao fundo do poço com o insosso Destinos Cruzados, novamente com um apagado Harrison Ford e a bela Kristin Scott Thomas nos papéis centrais. O diretor tinha jogado a toalha.

 

Entre 1999 e 2005, Pollack preferiu dar um tempo da direção. Até que resolveu voltar para trás das câmeras com o thriller A Intérprete, com Nicole Kidman e Sean Penn encabeçando um elenco all-star. Se não era de todo péssimo, A Intérprete era daqueles típicos filmes cuja qualidade do material estava nitidamente abaixo do nível do talento das pessoas envolvidas.

 

Pollack encerrou sua filmografia com Esboços de Frank Ghery, documentário a respeito da vida do famoso arquiteto.

 

Sempre que podia, o diretor Sydney Pollack voltava às suas raízes de ator. Sem contar as inúmeras participações em seriados televisivos, como Frasier e Mad About You, Pollack fez um médico que não acreditava no que via, em A Morte lhe Cai Bem, de Robert Zemeckis; esteve excelente em Maridos e Esposas, de Woody Allen; e interpretou variações do mesmo personagem em A Qualquer Preço, de Steven Zaillian, De Olhos Bem Fechados, de Kubrick; Fora de Controle, de Roger Mitchell e Conduta de Risco, de Tony Gilroy.

 

Durante as últimas duas décadas, Pollack também se dedicou fortemente à produção. Através de sua empresa, a Mirage Enterprises, ele financiou filmes como Acima de Qualquer Suspeita, Loucos de Paixão, Voltar a Morrer, Lances Inocentes, A Isca Perfeita, Paraíso, Susie e os Baker Boys, Razão e Sensibilidade, O Talentoso Mr. Ripley, Iris, Cold Mountain, Invasão de Domicílio, O Americano Tranqüilo e Conduta de Risco (sua única indicação ao Oscar nessa condição).

 

Pollack foi casado com Claire Griswold durante 50 anos. Tinha três filhos, Rebecca, Rachel e Steven, que morreu aos 34 anos num acidente aéreo.

 

Sydney Pollack dirigiu 21 filmes. Produziu mais de 40 (incluindo os seus próprios). Atuou em outros tantos. O início da sua carreira como diretor coincidiu como uma época de mudanças radicais pelas quais passava o cinema americano. Os grandes estúdios perdiam força, pressionados por produtores independentes. A temática quadrada dos anos 50 vinha sofrendo rápidas transformações, inspirada pelo cinema europeu, o qual, por sua vez, era porta voz dos idéias libertários mundiais da época. Pollack aproveitou esse espaço e, ao menos em seus primeiros filmes, conseguiu tocar o dedo em algumas feridas. Com o tempo, ele próprio foi perdendo o interesse na função e a qualidade das suas obras, claro, caiu junto.

 

Difícil dizer que Sydney Pollack possuía um estilo próprio de filmagem, aquele toque pessoal que nos permitisse dizer “olha aí um filme do Pollack!”. Ainda assim, ele nunca foi daqueles cineastas do chamado “piloto automático”, que filmava qualquer material que lhe caia às mãos. É verdade que nunca foi um esteta, um pintor da câmera. Mas é também provável que Pollack nunca tenha tido a ambição de ser o grande cineasta que os críticos sempre esperaram dele. Antes disso, Pollack simplesmente tentou verbalizar, através dos filmes, sua visão de mundo, seus ideais progressistas, sua luta pelos direitos dos artistas e de um homem que, da sua forma, contribuiu para a evolução do cinema.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
De Olhos Bem Fechados
Victor Ziegler
1999
8,4
8,2
1992
6,1
5,9
Jogador, O
Dick Mellon
1992
8,1
7,9
Destinos Cruzados
Carl Broman
1999
4,8
Lugar na Platéia, Um
Brian Sobinski
2006
6,9
Conduta de Risco
Marty Bach
2007
6,8
7,1
2005
2003
7,9
A Qualquer Preço
Al Eustis
1998
6,5
Fora de Controle
Stephen Delano
2002
6,7
1992
7,8
8,1
2001
8,0
Obsessão de Matar
Owen Van Horn
1962
Tootsie
George Fields
1982
7,4
7,7