Quando a Música Encanta, mas o Final Desafina
Um mega narcotraficante quer mudar de vida, talvez um pouco mais do que isso, mudar de sexo, e para realizar tal proeza contrata uma advogada - bem sucedida, mas que anda sempre à sombra em seu ambiente de trabalho - para que ela encontre uma clínica em qualquer lugar do mundo para que seja feita sua transformação.
O enredo pode parecer meio surreal, e de fato é, afinal por que uma advogada seria contratada para realizar tal tarefa? Enigmas a parte, o fato é que Emilia Perez funciona muito bem como musical (apesar de forçar algumas músicas em certos momentos) e funciona razoavelmente bem como um filme bem estruturado.
Não me leve a mal, é um filme bem montado, bem filmado, cativa com seus números musicais e apresenta personagens bem desenvolvidos (desculpe, Selena Gomez, mas não estou falando de você), mas que, infelizmente, desemboca num final pra lá de anticlimático.
Afinal, aqui seguimos o trajeto do narcotraficante Manitas Del Monte - um ser humano que já cometeu todo tipo de barbárie para chegar ao poder - em sua busca de viver verdadeiramente sua vida como mulher. Mesmo que para isso tenha que forjar sua morte perante sua mulher e filhos.
Superado este primeiro ato, acompanharemos a saga do personagem - juntamente com sua advogada - em sua busca por redenção. A já então Emilia Perez cria uma ong como único objetivo e encontrar os corpos de pessoas mortas pelo narcotráfico no México (um número que ultrapassa cem mil pessoas), um objetivo nobre a princípio, mas que de certo modo não apaga as monstruosidade que o antigo Manitas cometeu.
Mas como nem tudo pode ser perfeito, ao desenrolar da trama e devido aos conflitos pessoais que se instauram, a nossa querida Emilia Perez decide voltar às suas origens de Manitas Del Monte enveredando mais uma vez pelo mal caminho. Essa decisão inevitavelmente leva à tragédia, que, de fato, se concretiza, mas a forma que o diretor decidiu usar para contar este desfecho (um final "repleto de ação") acabou não sendo tão bem executado tirando a força de um filme que vinha bem até o seu último ato.
Certamente que tais deslizes não tiram o mérito das indicações de Gascón e Saldanã ao título de melhores atrizes de suas categorias, mas no fim, tudo que resta é aquele gosto agridoce na boca de algo que poderia ter sido mais saboroso, mas que está longe, muito longe de amargar.
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