A série Harry Potter sempre foi bem difícil para se adaptar. Os livros, por terem muitos detalhes, dificilmente são levados às telonas de um jeito que agrade a todos. Harry Potter e o Cálice de Fogo poderia ter sido uma maravilhosa adaptação, justamente pelo alto teor de ação e pelo bom tratamento do amor no livro. Porém, ficou longe dessa boa adaptação.
No quarto capítulo da série, Harry Potter volta a Hogwarts depois de presenciar um misterioso rito de Comensais da Morte (seguidores de Lord Voldemort) após a Copa Mundial de Quadribol. Ao chegar lá, descobre que as escolas bruxas da Europa - Hogwarts, Durmstrang e Beauxbatons - decidiram resgatar um antigo evento, o Torneio Tribruxo, no qual três competidores (um de cada escola) competem durante três provas, e um deles se torna o Campeão após isso. Porém, misteriosamente, o Cálice de Fogo (o "juiz" do Torneio) escolhe quatro competidores, sendo que o quarto é... obviamente Harry. Potter então tem que competir pelo torneio, sozinho.
A história até que foi bem adaptada para as telas. O grande problema foram justamente as três tarefas, que não conseguiram passar nem metade da tensão do livro, principalmente a última. Também faltou a abordagem de alguns temas, como a história de Bartô Crouch e seu filho, que mesmo não sendo muito importante para a série, foi mal desenvolvida no filme. Pelo menos, essa menor fidelidade acabou de vez com o tom monótono que os dois primeiros possuíam.
Se o grande trunfo de Prisoneiro de Azkaban era a direção de Alfonso Cuarón, em Cálice de Fogo a direção de Mike Newell se mostra justamente o oposto. O diretor não conseguiu passar o clima de tensão e ação que as tarefas passavam, além de não conseguir conduzir o filme de modo muito coerente, tornando a história um pouco confusa para os leigos.
As atuações continuaram melhorando. Daniel Radcliffe (Harry), o único que não havia evoluído em Prisioneiro de Azkaban, finalmente melhorou neste, se mostranto muito mais à vontade no papel. Emma Watson (Hermione) e Rupert Grint (Rony) também evoluiram, muito mais à vontade. Os três outros campeões do tribruxo também têm boas atuações. Robert Pattinson (Cedrico Diggory), tem uma atuação menos pior que na nova modinha adolescente Crepúsculo, mas ainda assim é o mais fraco dos três. Clémence Poésy é a melhor dos três, interpretando de uma boa forma a bela e um pouco arrogante Fleur Delacour. Stanislav Ianevski também possui uma atuação razoável como o carrancudo Vítor Krum.
Já o elenco adulto, já conhecido pelas ótimas atuações, continua sem decepcionar. Michael Gambon (Dumbledore), Maggie Smith (McGonagall) e Alan Rickman (Snape) continuam maravilhosos, embora apareçam pouco. Já entre as novas adições, se destacam Miranda Richardson, o ótimo Brendan Gleeson e Ralph Fiennes. Miranda leva de modo engraçadíssimo a irritante repórter Rita Skeeter. Brendan interpreta muito bem o desconfiado Olho-Tonto Moody, um dos melhores personagens da série. Já Ralph aparece pela primeira vez como o grande vilão da série, Lord Voldemort. Sua atuação mostra porque ele é um dos mais famosos atores da realidade. Sua interpretação do vilão é extremamente natural, mas é capaz de arrepiar qualquer um. O ator consegue levar todo o medo que o personagem transmite para o filme de modo perfeito, seja pelos seua movimentos leves, seja pelo seu frio tom de voz.
A parte técnica do filme não evoluiu quase nada. Os efeitos especiais do filme melhoraram um pouco, representando de forma mais realista as criaturas como o dragão e os sereianos, assim como nas cenas das tarefas. A direção de arte, provavelmente o ponto mais forte da série, continua fortíssima, como pode ser evidenciado em cenários como o acampamento, o lago, o labirinto e o cemitério, além da sempre perfeita Hogwarts. A fotografia continua boa, dando um bom toque sombrio às cenas (o que o diretor não conseguiu sozinho). Por outro lado, a trilha sonora caiu muito em relação à de Prisioneiro de Azkaban, que foi maravilhosamente bem composta por John Williams. Com a saída de Williams e entrada de Patrick Doyle, praticamente toda a magia das composições sumiu, embora algumas se salvem.
Mesmo com seus defeitos, Harry Potter e o Cálice de Fogo consegue prender o espectador diante das cenas de ação, o que o torna um filme um tanto quanto diferenciado da série. Além disso, as boas atuações, a história envolvente e a maravilhosa parte técnica transformam o filme em uma ótima sessão.
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