Harry Potter e o Enigma do Príncipe, é provavelmente o filme mais distinto da série Harry Potter até agora, e o melhor. O diretor David Yates adotou um tom que nunca havia se visto na saga: o humor. Com boas tiradas, o filme se torna o melhor da série, não por causa disso apenas, mas também pelas melhores do que nunca atuações e parte técnica do filme.
A história de Enigma do Príncipe é mais como uma preparação para as duas partes do capítulo final, Relíquias da Morte. Com a comunidade bruxa agora sabendo que Voldemort realmente voltou, o Lorde das Trevas começa o seu período de terror pelo mundo bruxo. Ao voltar a Hogwarts, Harry começa a ter aulas particulares nas quais Dumbledore lhe ensina sobre o passado de Tom Riddle (Voldemort) para se preparar para a iminente guerra. Ao mesmo tempo, os hormônios dos adolescentes estam à flor da pele, e as aulas cada vez mais difíceis (agora que entraram no nível máximo de educação bruxa, os NIEMS). Na aula de Poções, Harry recebe a ajuda do misterioso Príncipe Mestiço.
E é justamente nesse ponto que o roteiro peca. Steve Kloves, de volta após ter sido afastado em Ordem da Fênix, preferiu abordar a parte do amor adolescente e acabou se esquecendo de temas importantíssimos no filme, como as memórias de Tom Riddle (essenciais em Relíquias da Morte) e a história do Príncipe Mestiço (até porque o príncipe dá nome ao filme). Temas como esses poderiam ter sido melhor acabados, fazendo com quem nunca leu o livro (o segundo melhor da série) se sinta perdido. De resto, o roteiro é razoavelmente bem construído.
Se David Yates foi ruim em Ordem da Fênix com seu tom televisivo, em Enigma da Príncipe ele é um bom diretor. A impressão de que o filme foi feito para a televisão desaparece totalmente aqui, o que torna o filme o menos cansativo da série. Os 153 minutos do filme passam voando. Yates conduziu bem o filme, mostrando-se bom diretor para filmes de comédia. Seu problema é com cenas mais dramáticas. David passa pouca tristeza na morte do personagem no final, por exemplo. Mesmo assim, o diretor evoluiu bastante.
As atuações são, de longe, as melhores até agora. Daniel Radcliffe (Harry), que sempre tivera uma atuação bem fraca, mostra que agora está bem a vontade no papel principal, além de exibir um bom timing cômico. Outro ator jovem que se destaca nas cenas de comédia é Rupert Grint (Rony). O ator, que sempre considerei o melhor do elenco jovem, se mostra extremamente engraçado no filme, responsável por quase todas as risadas. Emma Watson (Hermione) também é razoavelmente boa no gênero, embora se destaque mais nas cenas dramáticas (como a cena em que chora). Bonnie Wright (Gina Weasley), que tinha tido uma atuação boa em Ordem, regrediu e se tornou a pior do elenco nesse filme, principalmente pelo seu modo apressadíssimo de falar. Tom Felton, que desde o início da saga vinha fazendo o papel do irritante Draco Malfoy, finalmente ganhou destaque, mas dessa vez como um personagem sofredor (no final fica claro o porquê). Sua atuação é boa, embora um pouco forçada em algumas partes. Do elenco jovem também se destaca Hero Fiennes-Tiffin, aparecendo brevemente como o Tom Riddle de 11 anos. Ele aparece por menos de 2 minutos, mas é capaz de gelar a espinha de qualquer um.
No sempre ótimo elenco adulto, as atuações estão ainda melhores que antes. Michael Gambon faz sua melhor atuação como Dumbledore até agora, mostrando o porquê de ele ser o maior mago de todos os tempos. Maggie Smith está novamente maravilhosa como a professora Minerva McGonagall. Helena Bonham Carter aparece muito pouco como a louca Belatriz Lestrange, mas faz uma atuação magnífica da Comensal. Alan Rickman, que sempre foi impecável como Severo Snape, aqui está mais perfeito ainda. Como no filme Snape está mais misterioso que nos anteriores, houve uma boa oportunidade de Alan Rickman brilhar, e ele o fez facilmente. Outro nome maravilhoso do elenco é Jim Broadbent. O ator faz uma atuação inspiradíssima do novo professor de poções Horácio Slughorn, ora engraçadíssimo, ora dramático.
A parte técnica também é ótima. A direção de arte continua impecável. Os poucos cenários novos (a Torre de Astronomia e a Caverna) se juntam à maravilhosa Hogwarts. A fotografia, justamente indicada ao Oscar, é muito bem trabalhada, dando um tom sombrio às cenas mais sérias e reforçando o clima romântico nas mais descontraídas. Os efeitos especiais beiram a perfeição, como na cena da Caverna (o círculo de fogo conjurado é magnífico), mas precisam de um pouco de aperfeiçoamento, como na ótima cena da destruição da ponte Millenium (os efeitos da destruição poderiam ter sido mais realistas). A trilha sonora, do mesmo compositor de Ordem da Fênix (que tinha uma trilha bem limitada), Nicholas Hooper. Hooper, em Enígma do Príncipe, compôs a segunda melhor trilha sonora até agora (atrás da de Prisioneiro de Azkaban). Algumas composições, como Journey to the Cave, apenas reforçam o bom filme. Outras composições de Ordem da Fênix foram bem retomadas em Enigma, como Fireworks (embora a música originalmente composta para a cena seja melhor) e Dumbledore's Army (que funcionou melhor nesse filme do que no anterior).
Enigma do Príncipe possui qualidades que o tornam não apenas o melhor da série até agora, mas um dos melhores blockbusters até hoje. E o mais importante é que, depois desse filme, pode ser oficialmente considerada implicância continuar dizendo que Harry Potter é uma série infantil.
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