Em 2001 a Universal Pictures trazia de seus estúdios um projeto sem muitas pretensões, de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos até então. Velozes e Furiosos. Esse era o nome da série que, ao contrário do que todos os envolvidos com o filme jamais poderiam imaginar, seria um título responsável não apenas por um enorme sucesso nas telas, mas por erguer de vez a carreira dos envolvidos, além de revolucionar toda uma cultura. Tudo iria além de um filme: nascia uma marca. Roupas estampadas, séries de jogos famosos como Need for Speed seguindo a tendência do tunning, materiais escolares, peças e acessórios automotivos, e uma gama enorme de filmes ( hollywoodianos ou não ), loucos para imitar o sucesso da Universal, todos mal sucedidos.
Mas qual o segredo dessa fórmula então? O que teria Rob Cohen acertado, mesmo sem querer, em algo que fosse tão além? Simples. Velozes e furiosos trazia essência, química entre os personagens, e um sentimento que muitos filmes ainda não trazem: o de fazer o espectador torcer para o errado, para o oposto à lei, para o anti-herói, pois muitas vezes o vilão possui em si um lado mais humano que muitos heróis.
Enfim, chega aos cinemas, ( e quem diria ), dez anos depois, mais uma sequência da série, mundialmente conhecida por unir belos carrões, mulheres exóticas e músicas características, muitas vezes personalizadas e feitas para o filme, num mesmo lugar: o mundo underground dos rachas.
Justin Lin dirige seu terceiro filme na série, e pode-se considerar um sortudo, pois na minha opinião, depois desse trabalho muito bem feito, com certeza terá seu currículo mais valorizado. Sua direção é consciente, detalhista, sabe introduzir ao filme seu estilo ao mesmo tempo em que respeita as limitações do roteiro, e por vezes, modifica a personalidade dos personagens, como fizera em Velozes 4, mas sem deixar que se perca a química entre eles.
Velozes e Furiosos 5 é sem dúvida o filme com mais ação da série, e também o que possui maior tempo de duração.Mas com certeza os fãs mais acostumados com rachas e personagens maloqueiros vistos nos primeiros títulos da franquia vão sentir muito a falta desses elementos.
A primeira continuação de verdade da série traz novas idéias, efeitos visuais da atualidade, mas deixa de lado alguns dos principais elementos que consagraram a franquia. Não que isso seja ruim, já que , sem a necessidade de desenvolver os personagens já bem conhecidos, não faria sentido ficar vendo rachas sem objetivos pelas ruas do Rio.
Porém, em alguns momentos, sentimos um vazio como se estivéssemos vendo mais um filme de ação. Alguns rachas, como aquele em que Toretto (Vin Diesel) aposta um carro com um corredor carioca, logo depois de sermos apresentados à vários carros e mulheres ( sim, esse foi um dos únicos momentos que me fizeram reviver o passado da série), simplesmente não foi mostrado, e quando achamos que vai começar um pega, Dom e Brian aparecem com o Porche Azul na garagem.
Outros erros e furadas do roteiro acabaram se encaixando bem ao propósito final da película, como o trem e o deserto que não existem no Rio de Janeiro, mas serviram como base para uma emocionante sequência de ação logo no início do filme, além de terminar com um belo salto de carro rio abaixo, lembrando, inclusive, uma cena parecida do ótimo Triplo X.
Outro acerto da produção foi encaixar mais um personagem, dessa vez, nada simpático, à trama. Dwayne Johnson, o famoso The Rock, encarna muito bem seu papel de agente federal. Ele é destemido, corajoso, lidera muito bem sua equipe e não vê limites por trás dos muros e barracos da favela carioca.Com certeza The Rock fez aqui sua melhor e mais séria atuação no cinema.
Ver Toretto e o agente Hobbs lutarem como dois tanques de guerra é mais uma atração à parte na história.
Vin Diesel é também, além de ator, produtor do filme. E mais uma vez seu personagem, Toretto, faz tudo girar em torno de si. O anti-herói da série ainda pode ser considerado o principal personagem. Mesmo estando longe de suas origens, consegue liderar a equipe, com seu lado descontrolado de agir, como na cena que, após ver sua irmã cercada pelos agentes, tem um ataque de fúria e quase destrói o rosto de Hobbs com uma chave inglesa. Mais um ponto para o Justin Lin, pois isso foi um dos motivos que levou Toretto à prisão há 10 anos atrás, mostrando aqui para os fãs como poderia ter sido isso naquela ocasião.
O ex-agente, agora fugitivo ( mais uma vez...) Brian O´Conner continua sendo mais como um coadjuvante.A única diferença é que agora lida mais com certas responsabilidades, seu futuro como pai, seu relacionamento com Mia. Seus melhores momentos no filme continuam sendo os mesmos já conhecidos na série: quando tenta ser melhor que Toretto atrás do volante e se dá mal...
Roman Pearce volta 8 anos depois e foi um dos melhores acertos nessa sequência também. Interpretado por Tyrese Gibson, ele continua engraçado, e com falas que caem bem ao seu estilo. O momento em que conhece Toretto era um dos mais esperados pelos fãs, e suas melhores cenas são quando vai à delegacia tentar enganar o guarda, e na cena final, quando aparece com um carrão tentando se exibir para o Tej e também se dá mal.
Os demais personagens continuam os mesmos. Destaque para os dois latinos perturbados, e para Mia Toretto, que evoluiu bem nas cenas de ação com carros: destaque para o resgate do irmão, logo no início do filme.Só fiquei na dúvida se ela queria resgatá-lo ou matá-lo...meu Deus...capotar um ônibus daquele jeito...
O vilão português é o pior da série. Pouco faz ao longo do filme e ainda fracassa com diálogos xulos e ofensivos à cultura brasileira, além de mostrar que entende muito mal de história, (repare na cena em que ele cita como os portugueses teriam conquistado o Brasil). Sua presença é quase dispensável.
Os carros, que também não deixam de ser os protagonistas, continuam ao estilo "original", desde Tokyo Drift, de 2006, onde o tunning e os neons foram deixados de lado, mostrando a preferência de Justin Lin por eles. Temos um número menor de Muscle cars antigos, como em velozes 4, e somos apresentados à máquinas exuberantes, em vez de alguns carros esquisitos vistos no filme anterior, que desagradaram muitos fãs.
A polícia carioca tem carros que provavelmente nunca veremos por aqui, mas isso caiu muito bem ao estilo fanfarrão do filme. Até um tipo de "caveirão" do BOPE foi adicionado.
Enfim, Velozes e furiosos 5 funciona muito bem como um filme de ação, traz um único racha ( talvez um dos melhores da franquia ), e dá prioridade mesmo para os personagens, deixando de lado a hegemonia da série. Algumas cenas são forçadas ao extremo, como a sequência do cofre, onde eles mataram meio mundo arrastando o tal cofre. Outro detalhe apresentado é a imagem do Cristo redentor, aparecendo pelo menos por tres vezes ao longo do filme, e a boa reconstrução da cidade carioca em vários momentos filmada em Porto-Rico.
A fotografia dá ênfase justamente a isso. As vezes a enorme favela vertical mostrada em um tela com mais de 300 polegadas bem na frente de nossos olhos, dá a impressão de que estamos dentro do filme, olhando pra favela. E isso é uma experiência bem interessante proporcionada unicamente pelo cinema, que só faltou incrementar o 3D para funcionar ainda melhor.
Ainda que falho, e longe de ter o carisma do filme original, Velozes e Furiosos 5 vale mesmo a pena, tanto visto pelos olhos dos fãs, tanto pelos olhos dos críticos, que sempre torceram o nariz para a série, e vão ter que aguentar mais um, que como os créditos finais mostraram, está a caminho.
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