É difícil escrever sobre um filme de Lars Von Trier justamente por sua obra conter uma complexidade digna de admiração embora, ele divida o público sem parecer se preocupar com a opinião destes e muito menos com a crítica especializada. Conheci Von Trier alguns anos com Nymphomaniaca e ali, muitas coisas me chamaram a atenção de primeira e não pude deixar de perceber que o diretor possui um certo perfeccionismo que encheram meus olhos logo de cara! Na verdade, embora eu seja negro, não liguei para suas declarações polêmicas porque o diretor é realmente notável, por saber conduzir uma história (mesmo com um roteiro simples) de maneira magistral como no caso desse longa Europa de 1991.
Cada sequência desde os primeiros minutos nos suga para a história que se seguirá, narrada por um homem de voz calma, segura, sombria de forma psicológica bem lentamente, nos envolvendo com o protagonista sem saber de seu futuro voltando a seu país de origem completamente devastado pela guerra. O som da linha férrea nos primeiros minutos, dão uma inquietação profunda com a voz do narrador que nos apresenta o jovem Leopold Kessler, inseguro, tímido e imaturo, parece não se importar com as desgraças da guerra, mostrando seus horrores aos poucos aos olhos do rapaz. Seu tio duro e frio, se mostra descontente com sua chegada, explica-lhe como será seu trabalho dali para frente e as cautelas que Kessler deverá tomar em relação aos alemães.
O tom em preto e branco com os enquadramentos são fascinantes ao ponto de nenhum “Stanley Kubick” metido a perfeccionista botar defeito. A trilha sonora é algo marcante que corta o coração, principalmente em destaque na cena de casamento na catedral entre Kessler e Katharina no momento em que o padre coloca a hóstia na boca de Katharina, nas sutilezas belíssimas da neve, nos olhares ansiosos do povo olhando para o casal e a beleza da missa celebrada em latim. Da tensão provocada nos diálogos intensos e claro... das cores fortes que mostram um pouco de beleza em meio a uma Alemanha completamente destruída pelo terceiro Reich. A trama vai se intensificando até seu trágico fim e a loucura de kessler culminar em seu ápice de desespero, angustia e dor.
Europa pode ser considerado o preludio de A Lista de Schindler ou um dos melhores filmes dos anos 90, ou seja, uma pequena obra-prima que cativa. Uma pena que o diretor não seja reconhecido pela academia passando abatido aos olhos até mesmo de muitos cinéfilos aqui no Brasil. Cada cena parece uma obra de arte olhada cuidadosamente por cada ângulo, cada detalhe impossível de alguma falha ou deslize, elevando Von Trier ao título de mestre facilmente, considerado por seus fãs um gênio incompreendido. Somente agora que estou aprofundando na obra desse diretor (somente seus trabalhos para o cinema), tão controverso, criativo (em sua loucura) e genial (ao menos aqui em Europa ele foi). Espero não me decepcionar em seus próximos trabalhos.
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