Crítica: A Primeira Profecia (2024) - Sophia Mendonça
Há algum tempo tem me chamado a atenção como o terror e o horror podem ser um excelente pano de fundo para metáforas sobre a experiência feminina em sociedade. Do já clássico cult Garota Infernal (2009), escrito por Diablo Cody, até o futuro lançamento A Substância, que rendeu muitos elogios à atriz Demi Moore no circuito de festivais, alguns exemplos tem me feito perceber aí um terreno fértil para cineastas femininas. O que não me surpreende, porque, do mesmo jeito que o terror é percebido como um gênero menor, visto a presença escassa de obras do estilo em grandes premiações, as percepções feministas sobre si sempre estiveram à margem da sociedade. Isso inclui desde estudos acadêmicos até, é claro, aos filmes de maior orçamento e bilheteria de qualquer nicho. E a cineasta Arkasha Stevenson, que dirige este interessante A Primeira Profecia, sabe disso.
O filme tem enredo e até algumas situações que lembram bastante outro terror igualmente inteligente e curioso, Imaculada, que também teve lançamento em 2024. Mas, se em qualidade e provocações os filmes se aproximam, eles se separam muito no que cada equipe entende ser melhor para despertar o medo, o susto e as reflexões. Nesse sentido, A Primeira Profecia é um filme muito menos rasteiro na abordagem que leva a um clima tenso, imprevisível e assustador. Na verdade, a obra tem momentos de lentidão que até parecem enfraquecê-la, mas que pouco a pouco vão constituindo uma atmosfera bastante intrigante. Isso porque a diretora sabe desenvolver habilmente um certo clima de paranoia, capaz de revelar imagens simbólicas que conversam entre si.
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