Desde que Steven Spielberg filmou "Tubarão" em 1975, criou-se um novo subgênero dentro dos filmes de terror e suspense. Este estilo é capaz de, com baixo orçamento e poucos atores no elenco, levar milhões de espectadores aos cinemas. Isto, simplesmente, pela oportunidade que o contato de um ou mais personagens com o mar e os tubarões fornece aos cineastas para criar um clima de medo e apreensão capaz de deixar o público com os cabelos em pé. "Medo Profundo" é mais um destes filmes, embora certamente não seja dos melhores a utilizar esta premissa. Tal fórmula, por sinal, já havia sido testada, em outro ambiente, pelo próprio Spielberg no telefilme "Encurralado" que, de tanto sucesso que fez em audiência, acabou sendo lançado ao cinema. Nesta obra feita em apenas 13 dias, ele acompanha um motorista que passa a ser seguido por alguém que quer brincar com ele perigosamente na estrada. É a mesma lógica destes tantos filmes de tubarões que vem surgindo nos últimos anos - e, dos quais, apenas o ótimo "Águas Rasas", com Blake Lively, conseguiu trazer alguma novidade. Este longa-metragem surpreende por focar na força da protagonista, além de oferecer boas doses de tensão. O último elemento citado também está presente no recente "Medo Profundo". A trama é simples: de férias no México, duas irmãs estão prestes a passar pelos momentos de maior tensão em sua vida: presas em uma gaiola de tubarões a 47 metros de profundidade no oceano, eles terão que lutar contra o tempo para permanecerem vivas. Mas com apenas uma hora de oxigênio e com tubarões brancos rondando o local, as chances se tornam cada vez menores.
Filmes de terror têm uma série de liberdades poéticas que devem ser relevadas, mas mesmo levando isto em conta, "Medo Profundo" é um filme com problemas. O roteiro é bastante pobre e isto quase compromete o eficiente trabalho de Johannes Roberts na direção. Obras como essa precisam ter compromisso não necessariamente com o realismo, e sim com a verossimilhança, e mesmo nisso "Medo Profundo" fracassa. Para piorar, não há diálogos inteligentes ou momentos em que o texto é capaz de prender a atenção do espectador. Pelo contrário, o que se vê é uma sucessão de clichês, jogados burocraticamente na tela. Outro grande problema está na conclusão que, tentando ser o elemento-surpresa que falta na obra, revela-se ainda mais decepcionante e frustrante ao criar uma ruptura com tudo que vimos até então. Enquanto os poucos personagens secundários passam na tela sem deixarem marcas, Claire Holt e Mandy Moore têm a difícil missão de tornarem envolventes heroínas que dependem da aprovação masculina e não apresentam nenhuma característica interessante, sendo mostrado apenas o que é óbvio para diferenciarmos uma da outra. Moore, cantora e atriz que já foi até indicada ao Globo de Ouro pela ótima série "This is Us", em particular, merecia um papel melhor. Apesar disto, elas fazem o que podem com as personagens, e isto não é muito.
Por outro lado, o cineasta Johannes Roberts, figura relativamente especializada em filmes de terror, consegue prender e envolver o público com bons momentos de tensão crescente, mesmo com todos esses defeitos do longa contra ele. Além disso, a trilha sonora é eficaz ao sugerir não apenas suspense e terror, mas também todo o drama e a emoção que a história poderia ter mostrado. Ela é melhor que o próprio filme. Entre erros e acertos, "Medo Profundo" cumpre a função básica de entreter. Ainda assim, ao final o que fica é a sensação de que já vimos esta mesma fórmula várias vezes em embalagens bastante superiores.
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