Após assistir ao filme "Na Estrada" (On The Road, 2012) e ler um pouco sobre o livro que o originou, percebi o porquê de ele ter sido considerado inadaptável antes desta produção. Afinal, seus personagens, em uma análise mais superficial - como acontece no cinema, em que há menos tempo para desenvolvê-los - podem ser considerados idiotas, diferente do que parece ocorrer na obra literária. E se o roteirista José Rivera não conseguiu fugir dessa armadilha ao adaptar o trabalho de Jack Kerouac, ao menos o longa apresenta ótimo elenco e direção afiada. A obra gira em torno de Sal Paradise (Sam Riley), um aspirante a escritor que passa a ter como melhor amigo o irreverente e destemido Dean (Garret Hedllund) e se encanta com a vida de riscos oferecida por essa amizade. Ao longo da projeção, eles cruzam com diversos personagens.
Se o roteirista não consegue fazer com que o espectador não veja os protagonistas como idiotas, ao menos ele consegue contagiar o público com a alegria da vida descompromissada que eles levam. Com alguns diálogos grosseiros que dão realismo à obra e outros mais cômicos, Rivera nos transporta para o universo onde vivem esses personagens, que parece não ser o mesmo que o nosso. A trilha sonora é aliada do roteirista neste ponto, contando com muito jazz que dá alegria às várias festas que são exibidas no filme. Enquanto isso, se a fotografia opta por um tom melancólico verde-azulado no cemitério onde se encontra o falecido pai do protagonista, em outros momentos ela se aproveita da beleza das locações e de imagens do sol se pondo para criar um ambiente vivo e alegre. Assim, o público é levado reprovar o comportamento dos personagens ao mesmo tempo em que se diverte com eles, que acabam sofrendo com a falta de preocupação com as consequencias de seus atos. E nesse momento o filme escorrega feio. O ritmo se torna arrastado - propositalmente, é claro - mas não consegue passar emoção, vida.
O filme é beneficiado por um elenco homogeneamente competente, que conta com protagonistas carismáticos, e do qual Kirsten Dunst e Kristen Stewart são o destaque. A primeira é a única que parece saber o que está fazendo nas cenas mais melancólicas, e está ótima como a sofrida Camille. Enquanto isso, Stewart, atriz anteriormente considerada promissora mas que caiu na visão de muita gente por sua inexpressiva Bella de "Crepúsculo" (Twilight, 2008), volta a mostrar que tem talento. Sua presença é marcante em todas as cenas que aparece. Depois do ótimo "Diários de Motocicleta" (Diarios de Motocicleta, 2004), o brasileiro Walter Salles mostra mais uma vez saber dar um ritmo ágil e envolvente a suas obras, mas parece abandoná-lo na segunda metade da projeção, como já foi discutido. Ainda assim, ele acerta em momentos como quando mostra a passagem do tempo de maneira orgânica através do vidro da frente do carro, que vai se embaçando e desembaçando. De uma maneira geral, o saldo de "Na Estrada" é positivo. Mas é uma pena que o filme saia tão prejudicado por seus problemas na adaptação, que o fazem ser tão vazio quanto a vida de seus protagonistas.
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