Crítica: "O Exótico Hotal Marigol" (2011) - Sophia Mendonça
"O verdadeiro fracasso é nunca ter tentado". Esta é uma das mensagens de "O Exótico Hotel Marigold" (The Best Exotic Marigold Hotel, 2011) e, por mais batida que essa ideia seja, o simples fato de ser utilizada em um filme protagonizado por idosos - algo tão raro no cinema - dá certo diferencial à produção. Por outro lado, a obra conta com alguns excessos que diluem sua força. O longa gira em torno de um grupo de aposentados que viaja à Índia para morar em um hotel que acreditam ser luxuoso, mas que na realidade não é assim. A apresentação de cada personagem é muito bem feita e, logo no início, percebemos uma crítica à frieza das centrais de atendimento por telefone, localizada em uma conversa envolvendo a personagem de Judi Dench. Essa ligação serve de gancho para uma divertida cena que ocorre muitos minutos depois, na qual a personagem de Dench treina uma atendente, e a veterana atriz se destaca ao mostrar um bom timing cômico.
A apresentação de Muriel (Maggie Smith) também se destaca. Em um hospital, ela exige ser atendida por um médico inglês. Esse tipo de preconceito, embora exista até hoje, é comum em pessoas mais velhas por causa da criação que elas receberam. No entanto, se a forma como a personagem é apresentada se destaca positivamente por mostrar o racismo dela, o roteirista Ol Parker (que baseou-se em livro de Deborah Moggach), exagera na quantidade de frases racistas ditas pela personagem e transforma-a num esteréotipo. Parker, entretanto, é hábil ao mostrar a fragilidade que a idade deu a cada um dos personagens. Em determinado momento, após descobrir que há uma espera de seis meses para ser operada, Muriel revela não poder fazer planos longos, o que leva o espectador a constatar, com melancolia, que os protagonistas desta obra não possuem muito tempo de vida. Igualmente triste é perceber que as pessoas acabam abandonando as outras quando elas chegam a uma idade avançada, como os patrões de Muriel fizeram. Outros julgam os idosos como incapazes, como faz o filho de Evelyn (Dench). Mas engana-se quem pensa que trata-se de um filme melancólico. Contando com alguns bons momentos cômicos como aquele que envolve uma referência à princesa Margaret, a obra mostra seus personagens idosos tentando se atualizar à medida que o mundo muda. Como diz a narradora Dench, "não há um passado que podemos trazer de volta, apenas um presente que se constrói enquanto o passado se retira".
Abordando alguns outros temas, como a homossexualidade (através do personagem de Tom Wilkinson) e o desejo de enriquecer (através da personagem de Celia Imrie), o filme convence graças às boas interpretações dos atores veteranos. Enquanto a direção de arte se destaca positivamente no aconchegante mas simples hotel, a trilha sonora é outro acerto: utilizando uma música instrumental de tom esperançoso enquanto os personagens conversam sobre a viagem que irão fazer, ela passa a utilizar outra de tom mais alto e ritmo mais acelerado quando eles chegam a seu destino. A fotografia em tons quentes na Índia também funciona, por nos fazer ver o lugar como um lugar alegre e movimentado. Entretanto, a subtrama envolvendo o possível fechamento do hotel e o relacionamento amoroso do dono dele (Dev Patel, péssimo com suas caras de choro manjadas) é descartável. O foco do filme são os idosos, então para que dar tanto destaque a esta parte da história, que é clichê e não envolve? Para piorar, ela ocupa a maior parte do terceiro ato que revela-se arrastadíssimo. Caso não tivesse essa subtrama e consequentemente fosse um pouco mais curto, "O Exótico Hotel Marigold" conseguiria passar suas mensagens de forma bem mais marcante.
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