Crítica: "Três Anúncios Para um Crime" (2017) - Sophia Mendonça
O filme policial “Três Anúncios Para um Crime” é uma análise dura e, ao seu modo, poética da sociedade moderna. A obra traz oportuna reflexão para os dias atuais. Ela nos revela que ter valores descentes não significa algo positivo quando isto nos gera uma revolta que é canalizada para o ódio. Já o amor é o que nos torna capazes de ter maior discernimento, enquanto a raiva “germina”.
Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação.
O diretor e roteirista Martin McDonagh não poupa sua crítica a qualquer instituição, seja ela a polícia ou a imprensa, e denuncia um sistema falho, seja por incompetência, impotência ou mesmo comprometimento ético ou moral. Acima de tudo, porém, este é um filme sobre gente em suas humanidades e contradições, e é capaz de provocar sentimentos mistos no espectador ao longo das quase duas horas de projeção.
Frances McDormand confere força e bravura à personagem principal, num desempenho que, merecidamente, lhe rendeu sua segunda estatueta do Oscar (a primeira havia sido por “Fargo – Uma Comédia de Erros”, de 1996). Com essas características, seria fácil cair na armadilha de tornar Mildred uma protagonista fria. Contudo, o que se vê é justamente o contrário, e um turbilhão de emoções se passa pela personagem por meio de expressões e olhares contidos. Do luto à busca por esperança, Mildred passa longe de se marcar como uma heroína unidimensional.
Sam Rockwell, também condecorado pela Academia por sua performance, é brilhante na construção do ser mais odioso da produção, mas que passa por uma jornada de luta e tentativa de redenção (algo que não vou revelar se chega a acontecer). O ator mostra que, por traz do estereótipo de policial durão, há um homem que tenta, muitas vezes sem sucesso, lidar com as próprias fraquezas.
Woody Harrelson, com os erros e acertos de seu personagem, é a personificação de todos eles: pessoas humanas, mas cujos atos têm consequências. Ele interpreta um policial com câncer que tem de lidar com as dificuldades em sua vida pessoal e profissional.
Bem fotografado e inteligente, “Três Anúncios para um Crime” é especialmente contundente em sua cena final.
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