Crítica: "Um Divã para Dois" (2012) - Sophia Mendonça
Embora seja classificado como comédia, "Um Divã para Dois" (Hope Springs, 2012) está mais para um drama com toques cômicos: embora faça rir em um momento ou outro, o roteiro de Vanessa Taylor tem como principal objetivo analisar os comportamentos e atitudes de seus personagens principais. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) são casados há mais de três décadas e levam uma rotina entediante: além de não fazerem sexo há cinco anos, os dois dormem em quartos separados. Sentindo-se solitária, Kay decide levar o marido a fazer terapia de casal, embora essa ideia o desagrade.
Encarnando Arnold como um sujeito sempre mal-humorado, Tommy Lee Jones consegue se destacar mesmo contracenando com Meryl Streep, excelente como sempre. Seu personagem, provavelmente por ter sido criado em uma época em que o papel do homem na sociedade era visto de forma rígida, mostra-se extremamente inseguro ao lidar com seus próprios sentimentos, reprimindo até mesmo a alegria - .algo que o ator ilustra perfeitamente em momentos como quando Arnold dá um sorriso contido ao ouvir a esposa descrevendo a relação sexual da qual tem melhores lembranças. Nunca querendo revelar ao terapeuta o que sentiu ou está sentindo, Arnold repete constantemente há quanto tempo ele e a esposa são casados como se isso provasse que a relação entre os dois é um sucesso. Enquanto isso, Meryl Streep retrata com sua habitual competência o cansaço que Kay sente ao seguir à risca o papel de esposa submissa que faz as mesmas coisas sempre e tem medo de perder o afeto pelo marido, que parece acreditar que, caso aceite o carinho da esposa, estará demonstrando fraqueza. Porém, Kay também tem seus medos e inseguranças, e isso fica perceptível em momentos como quando a protagonista mostra-se frustrada por uma tentativa sua de apimentar a relação não ter dado certo. Como casal, Streep e Lee Jones possuem uma química tão forte que nos convence que Kay e Arnold irão encontrar soluções para os problemas de relacionamento e nos faz torcer para que isso ocorra. A roteirista, aliás, mostra ter conhecimento de que o destaque da obra são seus protagonistas e escreve diálogos que sutilmente têm muito a revelar sobre o casal principal ao mesmo tempo em que exploram o talento dos dois atores. Além disso, ela acerta ao tratar as conversas sobre sexo com maturidade e realismo, nunca usando-as como fonte de humor fácil.
Voltando a trabalhar com Meryl Streep após o excelente "O Diabo Veste Prada" (The Devil Wears Prada, 2006), o diretor David Frankel mostra novamente a sensibilidade que já havia provado ter no belíssimo "Marley e Eu" (Marley & Me, 2008), focando constantemente a câmera nas expressões dos protagonistas e, assim, aproximando-os do espectador. A trilha sonora é outro elemento utilizado para provocar reações na plateia e, embora seu uso seja um pouco exagerado em alguns momentos, funciona. Contando com um Steve Carell contido que dá um ar confiável ao terapeuta que interpreta (perceba o tom de voz calmo que ele utiliza), "Um Divã para Dois" consegue fazer pensar mesmo sem trazer nenhuma grande novidade.
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