A obra de arte Cisne Negro é uma drama psicológico de 2011 dirigido por Darren Aronofsky. Com destaque na mente da personagem principal, a bailarina Nina, o realizador estadunidense concebeu um filme fantástico e um dos melhores do ano de 2011, completamente injustiçado na premiação do Oscar, apesar de ter levado o prêmio de melhor atriz, pela impecável atuação de Natalie Portman. Mas convenhamos, se Cisne Negro não tivesse arrebatado pelo menos tal prêmio, definitivamente não existiria justiça na premiação do Oscar.
A obra de Aronofsky retrata a trajetória de Nina, bailarina de uma companhia de balé que pretende realizar, na abertura da temporada, a famosa peça, O Lago dos Cisnes. Para conseguir o papel principal, a protagonista irá travar um intrigante e cansativo duelo com seu interior em busca do perfeccionismo. No entanto, a chegada de uma promissora bailarina, Lily, acaba por complicar ainda mais o processo de conquista do almejado papel, já que Lily teria as características apropriadas para o papel do cisne negro, ao passo que Nina só teria as características do cisne branco: aparentemente uma garota doce, inocente e pura. Deste modo, durante o andamento da película, perceber-se-á a deterioração mental de Nina em busca da perfeição e da descoberta do seu adormecido cisne negro interior, reprimido por sua mãe conservadora e super protetora.
A partir disto é possível fazer duas interpretações distintas do filme. A mais ousada, e da qual eu sou adepto, ressalta que Lily é apenas invenção da cabeça de Nina. Não passaria de uma ilusão de sua paranoia resultante do processo desgastante dos ensaios realizados sob a direção de Thomas, interpretado de forma impecável por Vincent Cassell. A constante busca de seu reflexo negro teria feito Nina criar um obstáculo externo, ou seja, Lily, em busca de seu grande objetivo, a conquista do grande papel da peça O Lago dos Cisnes. Interpretado desta maneira, o filme identificaria com filmes como Clube da Luta (1999), de David Fincher, e Ilha do Medo (2010), de Martin Scorsese. Reforça esta teoria as alucinações de Nina com Lily na cena final, na qual acaba atacando-a, contribuindo para o grande desfecho. A segunda interpretação e mais comum, é aquela em que Lily realmente existe, na qual Nina sofreria de distúrbios psicológicos – a esquizofrenia – decorridos da superproteção de sua mãe e a complexa busca pelo perfeccionismo.
Acompanhamos, outrossim, no decorrer do filme, a metamorfose da personagem interpretada por Portman, de uma bailarina assustada, inocente e frágil num ser que apenas consegue dar as caras nas cenas finais da película. Este monstro – o cisne negro - que desponta é despido de qualquer inocência consistindo exatamente no inverso da personagem inicial, o cisne branco.
A direção de Aronofsky é excelente na parte técnica e na forma de representar a dor de seus personagens, característica marcante do diretor, presente também em outros filmes de sua filmografia como Requiem Para um Sonho (2000) e O Lutador (2008). A bela direção aliada ao competente roteiro coloca o filme num patamar acima dos demais. Aliás, o roteiro do filme merecia o oscar de melhor roteiro original. Outro destaque do filme fica pela grande e contundente intepretação de Natalie Portman. A atuação como Nina é visceral, precisa e vibrante, consistindo numa das melhores atuações femininas deste começo de século, tendo, merecidamente, ganhado o oscar de melhor atriz. A forma como Portman sacrificou-se pelo papel lembra (e muito) Robert de Niro em Touro Indomável. Impressionante!
Diante das inúmeras qualidades supracitadas, Cisne Negro desponta neste começo de século como um potencial clássico que deve se eternizar com o decorrer do tempo. É um daqueles filmes geniais que o tempo só o fará bem e dificilmente será datado. Darren Aronofsky nos presenteia com uma belíssima obra-prima retratando a esquizofrenia de uma bailarina e sua complexa busca pela perfeição. Um filme vibrante e visceral. Isto é, meus amigos, cinema de verdade.
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