Lupas (51)
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Deslumbrante exemplo do poder da micro-história, um cinema verdade que mergulha fundo na essência da vida e da natureza. O ciclo das coisas, o poder de renovação e os impactos do ultrapassar limites naturais foi capturado de forma deslumbrante nesse precioso documentário macedônio. Tensiona questões semelhantes às do filme "As Quatro Voltas". Um cinema verdadeiro, profundo, humano, autêntico. Recomendadíssimo!
Pedro Garcia | Em 29 de Janeiro de 2020. -
Se o filme em si apresenta excelência mas não arrebata como outras obras de Chaplin, o final potencializa tudo, numa muito simples e emotiva cena final merecidamente tida como uma das mais encantadoras da história do cinema.
Pedro Garcia | Em 27 de Dezembro de 2019. -
Tocante fábula sobre como os sonhos que temos são tolidos de forma implacável pela realidade. Pacarrete é o desajuste que encanta, a vivacidade que falta na vida de muitos de nós, entregues a uma rotina com a qual não há um mínimo de empatia. Aprendemos a viver abdicando de nossas fantasias e delírios... As opções estéticas exageradas - principalmente na atuação e na trilha sonora - encaixam perfeitamente bem com a trama, ainda que provoquem certo desconforto inicial.
Pedro Garcia | Em 13 de Dezembro de 2019. -
Da falácia de ser seu próprio patrão e ter sua autonomia, o que na verdade custa uma jornada de trabalho doentia e desestrutura por completo a vida dos indivíduos e das famílias. Loach repete fielmente o estilo e a estrutura utilizados em "Eu, Daniel Blake" (são filmes gêmeos), porém nesse novo trabalho , mesmo que contundente, não alcança o mesmo vigor dramático de seu predecessor.
Pedro Garcia | Em 13 de Dezembro de 2019. -
A saga de Iya e Masha é uma bricolagem de diferentes relatos coletados pela escritora Svetlana Aleksiévitch e presentes em seu livro "A Guerra não tem rosto de mulher". A opção por fazer a dupla de personagens viver distintas situações dramáticas acaba por atrapalhar a narrativa ao enfraquecer o efeito dos clímax, os quais quase nunca (exceto pelas cenas com Pashka) atingem uma plenitude. Também atrapalham o ritmo da narração alguns elementos cômicos dispostos de forma descuidada.
Pedro Garcia | Em 13 de Dezembro de 2019. -
Tocante melodrama sobre a tão perversa história de uma geração de mulheres subjugadas, as quais para se enquadrarem no "papel social" abdicaram de maneira compulsória de seus sonhos e de suas vidas para viverem enquanto donas de casa e mães à sombra da instituição pétrea da família liderada por um homem. Embora o elenco desigual, o filme é visualmente deslumbrante e possui fortíssimo e emocionante epílogo com Fernanda Montenegro, ponto alto da narrativa.
Pedro Garcia | Em 30 de Novembro de 2019. -
Mati Diop aparece para o mundo cunhando belas cenas e mostrando domínio estético no captar imagens. O romance vivido por Ada consegue fugir da armadilha do piegas e reverbera de muitas formas interessantes ao longo do filme, transitando na camada do fantástico para tensionar as desigualdades sociais e evocando belíssimas metáforas afetivas. As atmosferas criadas são notáveis. Entretanto, alguns braços do roteiro - como os elementos policiais e o jovem comissário - pecam em sua elaboração.
Pedro Garcia | Em 29 de Novembro de 2019. -
O filme é um marco incontestável de nossa época. Chega a vez em que o filme de heróis de quadrinhos, filão mais rentável da indústria cinematográfica hollywoodiana, resolve romper as amarras sanitizantes do status quo das grandes produções e olha pela janela da fantasia para o mundo real - seu irmão esfarrapado do outro lado da metáfora.
Pedro Garcia | Em 06 de Outubro de 2019. -
Como de costume, Kleber Mendonça Filho nos entrega um filme denso e que discorre vagarosamente até engatar na sua questão motriz. Conserva-se aqui a temática comum do diretor - resistência e valorização do localismo frente a um globalismo homogeneizante e imperialista -, dessa vez empregada de forma mais inventiva e ousada, num híbrido de diversos gêneros. Muito impactante discussão (neo-)colonialista. Ecos inquestionáveis do Cinema Novo. Excelência técnica já característica do diretor.
Pedro Garcia | Em 18 de Agosto de 2019. -
Ao tentar construir todas as forças e questões da década de 60, o filme parece perder o foco e torna-se uma longa digressão (em muitos momentos pouco inspirada) sobre a Hollywood da época hippie. Além da perda das rédeas no campo do narrativo, outro elemento salta aos olhos de forma negativa: o sub-aproveitamento de Margot Robbie e a imbecilização/utilitarização de todas as personagens femininas. Sem dúvida, um trabalho menor de Tarantino.
Pedro Garcia | Em 18 de Agosto de 2019. -
Kusturica cria com notável organicidade um verdadeiro caos de personagens e situações, absolutamente satíricas mas transbordando genuinidade. O filme é uma aventura deliciosa sobre a cultura cigana, com todos os estereótipos possíveis. Uma frágil história de amor "impossível" entre dois jovens é o fio condutor para o verdadeiramente precioso da obra: um desfile de sujeitos inigualáveis, estranhos, sujos, corruptos, situações bizarras e caóticas. Um cinema de caricatura. Diversão garantida.
Pedro Garcia | Em 20 de Junho de 2019. -
Ancorado numa estrutura episódica que comporta as desventuras do personagem principal (alter ego de Gilliam), o filme emula em seu roteiro a esburacada e penosa jornada pela qual a película trilhou até a sua finalização. Infelizmente, o filme aposta todas suas fichas nesse fator de bastidores, nos entregando uma cacofonia de situações pouquíssimo amarradas. Ao mirar no caos tumultuoso felliniano, Gilliam mostra que está muito longe de ter a precisão do mestre italiano.
Pedro Garcia | Em 07 de Junho de 2019.