Lupas (823)

"Lightyear" é um derivado da franquia Toy Story que utiliza-se de uma trama alternativa e original sobre o famoso patrulheiro espacial, o que explica a confusão e estranhamento por parte do público. Conta com muitas referências à produções de ficção científica (Star Trek, Alien, Star Wars e Interestellar), uma parte técnica impecável e uma bela mensagem sobre a passagem do tempo e o valor da família. Apesar de irregular, oferece um entretenimento ágil e emocional que merece ser visto.

"O Telefone Preto" utiliza-se de uma estrutura minimalista, com uma direção elegante e atuações convincentes (seja da dupla infantil ou do vilão interessantíssimo de Ethan Hawke) para explorar os medos que compartilhamos na fase infantil (que ecoam por toda a vida), que vão muito além de um misterioso seria killer à solto na vizinhança. O clima setentista (seja no visual em tom sépia ou na trilha sonora característica) é bacana também. O roteiro simplista talvez seja seu "Calcanhar de Aquiles".

O melhor filme do David Gordon Green e uma das melhores atuações do Nicolas Cage (muito mais contido e melancólico que o habitual). Tye Sheridan também em ótima atuação, mostrando bastante talento desde cedo. Um retrato cru e indigesto sobre a dura vida em uma cidadezinha condenada, habitada por seres errantes e sem qualquer perspectiva de uma luz no fim do túnel, onde o garoto acaba sendo o único resquício de esperança em meio ao purgatório.

Trauma, fé, culpa e perdão são exorcizados nesse exercício de horror sobrenatural sobre uma entidade malévola que desafia a compreensão humana. Alguns dos melhores sustos dos últimos anos estão aqui, graças à uma atmosfera fúnebre e claustrofóbica milimetricamente calculados. Merece mais reconhecimento.

Cronenberg retorna ao horror corporal para falar sobre a sociedade moderna e seu processo de desumanização, além de temas como consumismo, arte e desejo. Ainda que sua narrativa excessivamente cadenciada e seu roteiro confuso comprometam a experiência, é mais uma obra original, bizarra e provocativa do cineasta.

Um daqueles raros casos de sequência superior ao filme original. Tom Cruise, o último grande astro genuíno do cinema, retorna a um de seus personagens mais famosos, com a mesma energia, carisma e talento esperados. Conta ainda com cenas de ação empolgantes, nostalgia na medida certa e um ótimo elenco de apoio (Jon Hamm, Miles Teller, Jennifer Connely e Val Kilmer). O roteiro é coeso, a narrativa fluída e a atmosfera bastante tensa nos combates aéreos. Um verdadeiro espetáculo áudio-visual.

Um dos melhores filmes de zumbi dos último anos. Tenso, brutal, direto, realista e envolvente. Hollywood deveria seguir o exemplo dessa produção "modesta" que quase passou despercebida pelo grande público.

O melhor filme de ação do cineasta dos últimos 15 anos. Tem todos os elementos do seu cinema, que aqui funcionam ao evitar grandes exageros, com boas cenas de ação (realizadas de forma prática em 90% das cenas), parecendo assim um filme bem mais caro do que os modestos US$ 40 milhões investidos. O bom elenco (Jake Gylenhaal e Yahia Abdul-Mateen II) eleva o material, além de ter uma boa trilha sonora. Lembra aqueles filmes de ação charmosos/divertidos dos anos 90 que andam escassos hoje em dia.

Fica praticamente no mesmo nível dos filmes do Venom (que muita gente parece ter gostado), apenas lhe falta o carisma da relação da dupla principal daqueles filmes, que assumem o pastiche sem medo. Morbius, por outro lado, se leva mais a sério, com um tom mais sombrio e menos humor, o que somado à fragilidade do roteiro, lhe confere um ar genérico e derivativo demais. Nem a direção de Daniel Spinosa (do ótimo Vida) e a atuação comprometida de Jared Leto salvam a produção, infelizmente.

Robert Eggers é um dos melhores cineastas em atividade, e mesmo em projetos de grande orçamento como este, mantém sua marca autoral e rigor histórico intactos. Brutal, intimista, evocativo e mitológico, conta ainda com um elenco perfeitamente escalado, deixando a desejar apenas na montagem, que não mantém o mesmo ritmo e coesão durante toda a projeção. Apesar de não ter o mesmo nível de excelência de A Bruxa (2015) e o Farol (2019), é um dos melhores filmes do ano.

A direção estilosa e subversiva de Sam Raimi compensa as fragilidades e conveniências do roteiro, contando ainda com boas atuações de Cumberbatch e Olsen, além de muitas participações especiais. Mesmo não estando entre os melhores filmes do estúdio (longe disso), é um dos mais autorais e diferenciados.

Um filme de terror japonês que se utiliza do formato "mockumentary" para retratar de forma crua e visceral como uma antiga maldição local vem afetando a vida de diferentes pessoas, que parecem compartilhar de estranhas visões e comportamento errático. De uma forma cadenciada e gradual, as peças desse intricado quebra-cabeça vão se encaixando, culminando num final maldito, perturbador e infernal.