Lupas (1215)

É um "Aftersun" do mainstream, sem as técnicas e delicadezas que poderia ter sido. A história é centrada na relação entre pai e filha, e ao menos a química entre os dois garante o interesse até o final. O filme começa com uma cena dos dois numa praia de nudismo, a qual será retomada em um momento chave da história, pois depois da abertura, o enredo retrocede um pouco para vermos como os personagens foram parar lá. Tem road, movie, doença terminal, final surpreendente e muito dramalhão bem feito.

Javier Bardem acha o tom correto entre a caricatura típica para filmes infantis e a personalidade mais humana, fazendo um artista que, para se reinventar no show business, depara-se como um crocodilo cantor! O começo do filme é ágil e com muita música, e me enganou completamente, pensava que estaria em um musical. Uma pena que todo decai em seguida, embora o menino Josh e a gata Loretta sejam bem fofos.

"Carvão" me surpreendeu positivamente, é aquele drama genuinamente brasileiro que vai se descascando aos poucos sob nossos olhos, em cada cena uma novidade, ou uma piada besta mesmo, mas que revela o essencial da cultura brasileira e da hipocrisia que nos cerca. A busca por sobrevivência ganha traços que igualam o traficante rico à mulher que degola galinha criada no quintal. Ambos vivem no mesmo ambiente, mas também, à sua maneira, compartilham da sociedade baseada no consumo e da ambição.

John Luther é um policial com um passado ou atitudes muito duvidosas, e o filme inicia freneticamente, mostrando um caso em que o policial é chamado mas logo é afastado e preso quando seus podres vem à público. Assim, como todo bom filme policial, a história gira em torno dos acontecimentos seguintes, geralmente jovens que somem e são mortos, e seguimos a pista para desvendar quem está por trás de tamanha violência. Faltou desenvolver mais Luther, e entender que a série é diferente do filme.

Interessante ter assistido a esse filme sem saber nada do enredo logo após ter assistido ao fraco "A morte no Nilo", baseado no livro de Agatha Christie. Aqui, termos um filme que também homenageia a rainha do crime, usando a peça "A ratoeira", mas usando um roteiro que se permite rir de si mesmo e alterando algumas partes da história. O filme já começa em tom metalinguístico, falando que todo filme basicamente é a mesma coisa: um mistério, um detetive, várias pistas até a revelação. Bonzinho.

Kenneth Branagh até que se esforça para oferecer dignidade ao excelente material original, fruto da rainha dos enredos de detetive. infelizmente seu filme de mais de duas horas tornou um aborrecimento à parte, mas vencida a hora inicial, até que ganha fôlego. Talvez tivesse que aprender com "Glass Onion" a apresentar de forma mais interessante os personagens. "Morte no Nilo", porém, opta por ser mais contido, sem a edição frenética ou música pop, o que está tudo bem também.

Windfal é o tipo de filme claustrofóbico que se passa basicamente em um único cenário, numa mansão rural quase que abandonada, e todo o enredo gira em torno de um ladrão que invade a tal propriedade justamente no momento em que o casal de donos chega e o pega em flagrante. Tinha tudo para ser um grande suspense, como em "Batem à porta" do Shyamalan, que consegue fazer do pouco espaço e do uso de câmeras algo inteligente o bastante para prender a atenção.

Mike Barker tem alguns filmes apenas decentes (Morte ao rei, encurralados), mas este aqui considero o máximo de sua filmografia, embora há que se dizer tratar-se de um roteiro adaptado, com um edição não-linear que finalmente ajuda e muito a contar a história. Mila Kunis consegue fazer da protagonista, Ani, uma mulher forte o suficiente para despertar o desejo masculino, assim como frágil o suficiente nos seus repentes ao relebrar do passado. E que passado!

Esse é o time de filme que cairia muito bem nas mãos de um diretor mais sutil, pois tem um enredo interessante demais para ser desperdiçada em um fraco desenvolvimento dos atores. Por exemplo, o filme foca em dois amigos que invadem mansões para deixar recados aos ricaços da cidade, e só aí já teríamos uma atitude muito digna de ser explorada, sobre a rebeldia, sobre a desigualdade de classes, ou mesmo se utilizavam isso para viralizar nas redes sociais. Mas nada disso é trabalhado com cuidado.

Um filme que enrola, enrola e enrola em cenas altamente repetitivas, ao menos há todo um propósito justificável, uma vez que vemos a mulher entrar num ciclo vicioso e de dependência emocional, mas não consegue sair do lugar. Danielle Arbid parece saber exatamente o que fazer, e compõe um filme com muitas cenas de sexo, nudez (até mesmo frontal), mas parece não saber direito terminar seu eterno ato masturbatório. São muitas as cenas, talvez até excessivas demais. Umas picantes, outras robóticas

Não dá pra exigir muito de um filme cuja proposta claramente é fazer rir, tratando seus personagens de forma idiotizadas, típico filme feito para não se levar muito a sério. Nesse sentido, ao menos podemos dizer que ele é eficiente. Não me canso de dizer que filmes infantis não precisam ser necessariamente idiotices puras. Temos aí filmes da Pixar/Disney para comprovar. Mas também não quer dizer que necessariamente precisam ser profundos. É divertido, mas meio ridículo mesmo.

A única coisa boa aqui, além dos figurinos e direção de arte, é que consegue criar boa dimensão do espaço cênico. De resto, decai muito do primeiro filme. A história já começa de forma frenético, sem nos fazer respirar. Pouquíssimos momentos contemplativos ou inspirados, ela sequer tem tempo de abraçar o amigo ao encontrá-lo, parecem que decidiram que uma boa história de detetive precisa ser frenética. O pior de tudo são as reviravoltas absurdas, eu me senti num roteiro de multiverso.