Com Abre los ojos (1997) Alejandro Amenábar traz a tona reflexões profundas do nosso cotidiano. Valores sociais são colocados em dúvida, nos levando a refletir sobre questões efêmeras tidas como primordiais em nossa sociedade. A consciência é utilizada como trilha para estabelecer tais questionamentos, onde são exploradas as nuances do pensamento humano de forma enigmática e envolvente. O filme debate até que ponto somos influenciados por uma cultura enlatada e pré-estabelecida que coloca certos dogmas sociais como primordiais para o alcance da felicidade e da realização pessoal. Aspectos relacionados com a sociologia referentes ao processo de aceitação do individuo em determinados meios sociais, são debatidos de forma intrigante, demostrando como variações em tal conduta podem interferir no processo de satisfação pessoal, colocando o individuo como refém de suas próprias regras. Desta forma, o filme questiona até que ponto nossa felicidade depende exclusivamente do eu, e como os julgamentos externos influenciam na maneira que enxergamos a nossa própria vida. César (Eduardo Noriega) é um jovem bonito e herdeiro de uma fortuna, que vive sozinho em uma casa luxuosa e tem tudo que deseja sempre de forma fácil. Acostumado com os prazeres que a beleza e o dinheiro proporcionam, ele encara a vida de forma leve e descontraída rotulando tudo em volta como bens descartáveis e facilmente substituíveis. Porém as coisas começam a mudar durante a comemoração de seu aniversário, quando seu melhor amigo, Pelayo (Fele Martinez), lhe apresenta Sophia (Penélope Cruz). Na ocasião, César é arrebatado e sente-se perdidamente apaixonado por ela, e assim, segue disposto a fazer de tudo para conquista-la. A partir de um lampejo inconsciente, César começa a querer enveredar por caminhos ainda desconhecidos por ele, onde Sophia surge como um estopim proporcionando uma mudança de comportamento em sua vida. Percebendo o que estava acontecendo - Nuria (Najwa Ninri), que nutre um amor doentio por César - provoca um acidente de carro ceifando a própria vida e deixando César gravemente ferido na face, seu rosto ficou completamente desconfigurado. A partir daí é que Abre los ojos passa a questionar os apegos colocados como essenciais numa sociedade onde as aparências ganham destaque em detrimento de valores realmente sólidos e necessários. Tal situação faz com que César passe a viver preso em suas lembranças, com momentos já esquecidos pelo o tempo, porém tidos como fundamentais em sua vida, na medida que tais recordações é um refúgio que o alimenta de esperança. A partir de então, o personagem tenta de todas as formas recriar o universo perdido, porém seu comportamento acaba por deixa-lo louco e refém de seu passado, dificultando assim, o processo de aceitação de sua realidade: os julgamentos externos são mais importantes que a sua reinvenção pessoal. O filme apresenta um conteúdo denso, que requer concentração e paciência por parte do espectador, exigindo raciocínio e maturidade cinematográfica, por conta de sua montagem não linear, que gera elos desconexos em sua narrativa. Amenábar faz um ótimo trabalho, com uma montagem inteligente, a partir de um roteiro sólido e eficaz. Como ponto negativo da obra aponto o seu desfecho. Que na minha opinião, não corresponde as expectativas geradas durante o restante da película. O filme merecia um final mais sólido.
Críticas
7,5
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