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Críticas

Cineplayers

Dois mundos opostos aproximados por uma improvável amizade.

6,0

Em meio à mais uma grave crise entre Israel e a Palestina, chega aos cinemas brasileiros Alguém que me Ame de Verdade, que vinha tendo sua estreia constantemente adiada. Portanto, melhor hora não há para assistirmos a um filme que trata, acima de tudo, da tolerância entre dois seres humanos que, a princípio e a margem da racionalidade, deveriam se odiar.

O longa-metragem, rodado em apenas dezessete dias e de baixo orçamento, centra-se na judia ortodoxa Rochel (Zoe Lister Jones) e na muçulmana Nasira (Francis Benhamou). Apesar de serem de religiões conflitantes, elas possuem muitos pontos em comum: são extremamente jovens, bonitas, bem-educadas e possuem profundo respeito por suas crenças, ainda que meio sufocadas pela grande metrópole que é Nova York, a cidade em que vivem.

O encontro entre as duas se dá quando ambas ingressam como professoras em uma escola pública para crianças. Contra a incredulidade dos alunos e da própria diretora da instituição, Rochel e Nasira vão se aproximando cada vez mais, principalmente por verem no oposto singularidades que veem em si mesmas, enquanto que as demais moças ao redor parecem preocupadas com assuntos fogem às suas realidades.

Um outro fator as une ainda mais: elas estão sendo pressionadas por suas famílias a casarem através de encontros arranjados, como de praxe para as pessoas que seguem ambas as religiões. As moças passam a compartilhar suas inseguranças e seus anseios, e não apenas na questão matrimonial, mas como todo o resto. Ainda que vivam em uma cidade grande, o próprio zelo familiar não as permitiu conhecer o mundo real, e uma das boas sequências do filme é quando Rochel vai com uma prima “desgarrada” à uma festa e sente-se incomodada com o que vê, algo com o quê não sabe lidar.

É ancorado nesse conflito que Alguém que me Ame de Verdade se sustenta. Sem tomar partido entre a tradição e a modernidade, apenas expõe as diferentes escolhas que estas mulheres precisam fazer nesse difícil período. Elas acabam não se encaixando exatamente naquilo que foram criadas para serem, mas também não se veem em um mundo para o qual não foram preparadas para viver.

Infelizmente, o filme não se aprofunda muito nas raízes sócio-culturais de ambas e nos problemas que essa amizade não-usual poderia causar, uma escolha até certo ponto simpática por parte dos realizadores que deixam o filme leve e agradável, e seu final alto astral é de encher de esperança qualquer um que almeje um mundo mais pacífico. Ainda que possua eventuais falhas, como a histriônica personagem da diretora da escola e o uso de uma montagem errática quando Rochel conhece vários pretendentes – engraçadinha, mas contextualmente disforme -, o filme não deixa de levantar a bandeira da aceitação ao próximo, independentemente de credo, ou qualquer outro fator de exclusão social.

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