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Críticas

Cineplayers

Uma sociedade que confunde vítimas e vilões.

5,5

A Guerra da Bósnia deixou milhares de civis mortos. O conflito aconteceu entre 1992 e 1995 e envolveu, além da Bósnia, a Croácia e a antiga Iugoslávia, hoje divida em Sérvia e Montenegro. Com causas políticas e religiosas após a queda do comunismo na região, o conflito entre cristãos conservadores, católicos romanos e muçulmanos deixou de herança uma geração de órfãos. Crianças de Sarajevo (Djeca, 2012) é sobre isso, sobre as maiores vítimas dessa batalha: os pequenos sobreviventes.

Rahima é uma jovem com pouco mais de vinte anos de idade, mas que carrega nas costas o peso de ser como uma mãe solteira para o irmão mais novo, completamente dependente dela após os pais serem vitimados na guerra. Com essa embalagem, o filme preocupa-se em mostrar como a estrutura de poder da sociedade da Bósnia criminaliza as vítimas como se vilões fossem. O aparato estatal está sempre lá para repreender, controlar, nunca para dar o devido apoio àqueles que, repentinamente, ficaram desamparados sob todos os aspectos.

Neste sentido, a fé é completamente inocentada, tanto que Rahima encontra conforto no islamismo. Isso porque a protagonista cometia pequenos crimes como forma de sobreviver, mas com a nova crença, mudou o rumo de sua vida, dedicada ao trabalho sério na cozinha de um restaurante sofisticado e também a cuidar do irmão mais novo, que, conforme ela percebe aos poucos, segue o errado caminho percorrido por ela no passado.

Crianças de Sarajevo discute ainda as próprias perspectivas dessa sociedade. Como esperar um futuro melhor sob um Estado exclusivista e protecionista de uma minoria? Rahima é sempre repreendida pelos órgãos do governo, seja pela polícia, pela assistência social ou por um ministro, cujo filho se envolveu em uma briga no colégio justamente como o irmão dela, Nedim. Assim, a Bósnia aparece como um lugar sufocante, retratado sempre em planos fechados, que pouco revelam.

Aliado a isso, a sonorização adequada, talvez um dos maiores trunfos do filme, mantém constantemente barulhos de disparos, à época da guerra, e fogos de artifício às vésperas do réveillon. Entretanto, o clima construído, até pela câmara que pouco revela, faz o barulho dos fogos de celebração se confundir com tiros, justamente para representar um país que ainda não superou o período de conflitos.

A direção de Aida Begic opta por postar a câmera perto da protagonista. A câmera na mão a persegue pelas costas com enquadramentos bastante fechados. Não há visão do todo, nunca há planos abertos, abrangentes. O enfoque é naquela mulher, em seus passos, na sua luta diária. É ela a representação da geração de crianças que cresceu sob um ambiente hostil e que, mesmo com o fim do conflito, ainda não achou o seu lugar.

Entretanto, apesar de curto, Crianças de Sarajevo parece arrastado justamente por essa opção de pouco revelar. Enclausurado no mundo claramente desgastante de Rahima, o público se sente sufocado sem a recompensa de um sentimento de libertação. É como se a personagem pudesse dividir toda a sua dor, mas não fosse capaz de compartilhar a esperança da chegada de novos tempos.

Mesmo com toda a intepretação possível, faltou estabelecer um laço com o público que, por vezes, sente-se desconfortável em seguir a protagonista, principalmente quando esta gasta parte de seu tempo no trabalho, onde pouco parece acontecer em termos de significados.

Comentários (1)

Rodrigo Cunha | quarta-feira, 14 de Novembro de 2012 - 16:17

Você tem razão, Thiago. Já troquei em todos os lugares. :)

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