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Críticas

Cineplayers

Apesar de ser mais voltado ao público norte-americano, o filme diverte mais do que desagrada.

6,0

Chazz Michael Michaels (Will Ferrell), além de ser viciado em sexo, é um dos melhores na patinação no gelo. No mesmo patamar de perfeição de Chazz está o ex-menino prodígio Jimmy MacElroy (Jon Heder), que foi descoberto por um olheiro enquanto morava em um orfanato. Depois de empatarem na primeira colocação de um campeonato de patinação, os dois extrapolam a rivalidade e iniciam uma briga corporal diante de uma multidão, logo após terem recebido a medalha de ouro. Devido ao incidente, ambos são banidos do esporte para o resto da vida. Três anos e meio depois, devido a uma brecha na legislação esportiva, os dois descobrem que não podem mais participar de competições individuais, mas que não há restrições para competições em duplas. Cansados dos rumos que suas vidas tomaram após o banimento do esporte, Chazz e Jimmy resolvem se juntar, originando, assim, a primeira dupla da patinação formada por dois homens.

Uma premissa dessa já é garantia de diversão. São dois homens tendo que adaptar a pessoas do mesmo sexo coreografias realizadas por pessoas de sexos distintos. Não é difícil imaginar as situações engraçadas e “constrangedoras” que os dois patinadores enfrentam. Em contrapartida há certos passos que só dois homens teriam capacidade de realizar. Quando a dupla está se apresentando, a diversão está garantida com a rotina de danças preparadas para a competição. São passos impossíveis de serem realizados, ou de grande dificuldade, mas isso pouco importa. Eles encantam enquanto se apresentam. Os atores foram submetidos a treinos intensos de patinação no gelo, mesmo com algumas cenas tendo sido realizadas por meio de fios. O humor mostra toda sua sagacidade ao mostrar dois coreanos que tentaram executar um passo inédito. E é justamente esse passo, que não foi realizado adequadamente, o escolhido pelo treinador da dupla para ser realizado na final da etapa do mundial do Canadá. Nos treinos, são repetidas tentativas de acertar um passo que pode ser mortal.

Piadas sobre a reação das pessoas com o fato de dois homens competirem juntos são ótimas. As piadas até podem ser encaradas como preconceituosas, entretanto, é inegável que o humor sarcástico diverte da mesma maneira. Porém, Escorregando para a Glória, mesmo possuindo piadas homofóbicas como “patinação já é um esporte gay demais sem que dois homens precisem dançar juntos”, pode ser intepretado, também, como uma produção contra qualquer tipo de preconceito. Afinal, de uma maneira diferente, o filme mostra que dois homens podem dar certo juntos. Mas a lição principal do longa não é sobre sexualidade. A amizade constituída por dois adversários é a mensagem passada pelo filme. Colaborando um com outro, torcendo um pelo outro, e se ajudando mutuamente, eles podem alcançar a glória. É o espiríto esportivo. A competição deve ser limpa.

Escorregando para a Glória tem sua boa dose de diversão assegurada. Algumas passagens são ótimas, principalmente as que envolvem a dupla de patinadores, outras não têm tanta graça, em sua maioria as cenas com a dupla adversária, formada por irmãos (homem e mulher) patinadores. Quando os adversários estão em cena, o filme se aprofunda em um velha fórmula de vilões que jogam sujo para alcançar seus objetivos. Ou seja, a produção segue uma certa fórmula pré-estabelecida por outros filmes, mas sabe, em compensação, como fugir dessa fórmula em alguns momentos para garantir ao público uma quantidade satisfatória de boas risadas.

O início do filme, antes que comece a comédia propriamente dita, chama a atenção. Uma bela música nos apresenta a um dos protagonistas, ainda criança, no momento em que está sendo adotado por um olheiro de talentos. A edição logo trata de dar um salto gigantesco no tempo de maneria bem esperta. Em seguida, momentos marcantes da vida dos dois personagens são apresentados agilmente (enquanto eles esperam o anúncio das notas de suas apresentações no torneio que acabou por colocar fim a carreira solo dos dois). Em pouco tempo já conhecemos melhor a personalidade dos dois homens que protagonizam o filme.

Os Estados Unidos são exaltados no longa por um personagem, meio abobado, que a todo momento enaltece seu país. “Você cheira a vitória, você cheira a USA” afirma esse personagem, fã de Jimmy. Nada capaz de incomodar, porque o personagem mostra ser um pouco louco (“eu ainda vou te matar”, sugere a Jimmy) e alienado. Mas, se assim não fosse, quem pode negar que os Estados Unidos, no esporte, cheiram a conquistas? Só um outro louco. Juntando esse fato com outros – como fazer parte de uma fórmula comum -, conclui-se que, onde poderia errar feio, o filme não escorrega em busca de sua glória. Os protagonistas possuem uma boa quimíca. Ferrell está melhor que de costume. Os diretores Will Speck e Josh Gordon conseguem inovar dentro do conhecido, e o humor apresentado agrada mais do que desagrada. Não merece medalha de ouro, mas satisfaz dentro de suas limitações.

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