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Críticas

Cineplayers

Péssima direção e personagens irritantes são apenas o início dos problemas deste verdadeiro desastre.

3,0

Uma das grandes surpresas de 2002 foi uma pequena e despretensiosa comédia romântica sobre uma família grega. Escrita e estrelada por Nia Vardalos, Meu Casamento Grego arrecadou mais de 350 milhões de dólares ao redor do mundo, abocanhando ainda diversos prêmios, inclusive uma indicação ao Oscar de melhor roteiro. Nos anos seguintes, porém, Vardalos parece ter sucumbido ao sucesso, já que nenhum de seus outros projetos conseguiu chamar o mínimo de atenção. E o cenário não vai mudar: com Eu Odeio o Dia dos Namorados, a carreira da atriz / roteirista e agora diretora atinge o fundo do poço.

O filme conta a história de Genevieve, funcionária de uma floricultura e romântica por natureza. A moça tem uma regra estabelecida para seus próprios romances: jamais passar do quinto encontro, para aproveitar somente a parte boa do relacionamento e evitar as dores de um rompimento. Quando o charmoso Greg abre uma loja ao lado da sua, Genevieve se interessa por ele, mas deixa bem clara a sua teoria. À medida que se conhecem melhor, porém, os dois começam a perceber que as regras de Genevieve nem sempre devem ser aplicadas.

Além de escrever e atuar, Nia Vardalos faz a sua estreia como diretora em Eu Odeio o Dia dos Namorados. Infelizmente. Mesmo com boa vontade, é impossível chamar o novo trabalho de Vardalos como qualquer coisa menor que abominável. É uma comédia que não consegue fazer rir, um romance sem um único momento inspirado e, acima de tudo, um filme sem qualquer resquício de qualidade cinematográfica. Roteiro, atuações, direção, parte técnica – tudo em Eu Odeio o Dia dos Namorados é avassaladoramente ruim.

Mas vamos com calma. Para começar, o maior erro de Vardalos foi ela própria ter assumido a direção. Desde a primeira cena, fica claro que a cineasta (?) não possui talento algum para a tarefa. Tanto na construção de cada cena como no desenvolvimento da trama como um todo, Vardalos demonstra a sua falta de experiência: planos deselegantes, história apressada e mão extremamente pesada, capaz de arruinar os momentos cômicos e os instantes supostamente românticos. Sua direção é tão precária e caótica que a sensação é a de se estar assistindo a um filme amador, feito por uma criança, e não apenas uma produção modesta e de baixo orçamento.

Ao invés de deixar a história se desenvolver com naturalidade, Vardalos prefere empurrar tudo goela abaixo no espectador. Não há tempo para conhecer qualquer um dos personagens ou, ao menos, se interessar por eles, uma vez que não passam de meras caricaturas que, por alguma razão, decidiram se apaixonar. A plateia jamais consegue entender qualquer motivo para aquele romance surgir e o tom meloso e exagerado que Vardalos imprime em cada cena faz de Eu Odeio o Dia dos Namorados uma experiência praticamente intragável – e a cena na qual o casal se encontra e fica perguntando um ao outro se está bem é séria candidata a momento mais constrangedor do ano.

Não que fosse esperado um grande desenvolvimento de personagens. Quem se presta a assistir uma comédia romântica sabe que esse não é o forte do gênero. Mas Eu Odeio o Dia dos Namorados não consegue fazer o mínimo necessário, ou seja, levar a plateia a torcer para que os protagonistas fiquem juntos. Vardalos atinge a façanha de tornar os personagens (principalmente os coadjuvantes) em criaturas de plástico: nenhuma de suas motivações ou atitudes soam reais e, por consequência, todas as cenas são recheadas por um artificialismo e superficialidade irritantes.

Esse aspecto está presente também no campo das atuações. Boa parte do sucesso de Meu Casamento Grego se devia ao imenso carisma da (então) gordinha Nia Vardalos, que encantava o espectador com sua simpatia. Agora, ocorre exatamente o contrário. Talvez deslumbrada com sua nova forma, Vardalos parece completamente apaixonada por si mesma, buscando a todo instante aparecer linda para a câmera. A atriz erra completamente a mão na composição da personagem, assumindo um sorriso constante e a mesma expressão durante todo o filme. O resultado é que Genevieve parece, acima de tudo, assustadora pelo aspecto bizarro, capaz de meter muito mais medo que a maioria dos vilões que surgem nas telas.

Provavelmente este é o maior empecilho para que o casal de protagonistas não funcione. John Corbett pode não se destacar, mas igualmente não compromete – o problema é que a dupla não consegue repetir a química de Meu Casamento Grego e o espectador não dá a menor importância para se vão ficar juntos ou não. Da mesma forma, o elenco secundário não consegue dosar o histrionismo, demonstrando péssimo timing cômico e falhando em qualquer tentativa de soar agradável ou estabelecer uma identificação com a plateia.

Simplista em suas soluções narrativas e extremamente ingênuo na visão sobre os relacionamentos, Eu Odeio o Dia dos Namorados é um completo desastre do princípio ao final. Nia Vardalos demonstra mais uma vez ter esgotado a sua criatividade em Meu Casamento Grego – que, por sinal, era nada mais que divertido – e exibe total falta de domínio e conhecimento como cineasta. Se a sua personagem odeia o Dia dos Namorados, é bom Vardalos começar a tomar cuidado: em breve, o público pode estar odiando a própria atriz.

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