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Críticas

Cineplayers

A redescoberta do viver a partir de depoimentos de pessoas que chegaram a situações-limite.

6,5

O limite entre a vida e a morte surge de forma bastante delicada em Sobreviventes. As diversas pessoas que prestam testemunho ao longa de Miriam Chnaiderman e Reinaldo Pinheiro chegaram ao limite de suas vidas, morreram simbolicamente – o significado verdadeiro da vida chegou a se perder – mas por distintos motivos reergueram-se e redescobriram a vida e as implicações de vivê-la com outros valores após perceber a fragilidade do ser humano, que com o domínio sobre a natureza, com o avanço da medicina e tecnologia acredita cada vez mais ser controlador de todos seus caminhos, sem pesar os efeitos de suas escolhas sobre si próprio.

Sobreviventes encontra uma identidade narrativa interessante. Cada história termina na passagem em que começa, já que os depoimentos são complementares aos anteriores, com certas rimas temáticas. O problema maior é a falta de um caso novo. As histórias obviamente são fortes, algumas mais pesadas e interessantes em comparação com outras, como é o caso da garota que viu o fim da linha por seu envolvimento com a cocaína. Mas, a ausência de um depoimento que mostre algo além de relatos que não são exclusivos daquelas pessoas, deixa o documentário um pouco frio, sem emoção real em histórias claramente concebidas para comover. Os dramas pessoais são tristes, mas o breve tempo que os depoentes têm para dividir suas experiências com o espectador prejudica um envolvimento mais profundo.

O grande problema de filmes mosaicos é quando alguns relatos mostram-se mais interessantes do que outros. No caso de Sobreviventes, toda história tem sua importância, mas seria interessante explorar melhor a ideia de alguns entrevistados que passam a impressão de ter muito mais a dizer, detalhes a mais para compartilhar e formas particulares de enxergar o mundo que poderiam acrescentar conteúdo ao espectador. O que elevaria a reflexão pós-filme a um patamar além do proporcionado pelo resultado final.

O local escolhido para a gravação dos relatos guarda um significado interessante. A cadeira em um local fechado lembra um ambiente de clausura, de fim da linha, de esgoto, reproduzindo a condição que muitos deles estiveram em suas vidas. E a claridade que emerge ao lado é, porque não, a luz no fim do túnel de cada um. Se há algum controle do homem sobre suas vidas, esse poder reside nas escolhas. E a principal delas é como se reerguer depois da certeza de ter chegado ao fim.

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