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Críticas

Cineplayers

Narrativa experimental que exige muito do espectador.

5,0

O iraniano Voz da Primavera (Sedaye Cheshme, 2012) é daqueles difíceis filmes contemplativos. Não que sua compreensão seja complicada, mas a forma, bastante particular, desafia o espectador – do menos até o mais disposto. Isso porque se não bastasse o nível de experimentação, a narrativa ainda não obedece a uma ordem cronológica. Só que isso só fica claro quando as peças do xadrez começam a encaixar, depois de passados bons minutos de projeção.

Assim, as frases ora sussurradas, ora gritadas revelam a perturbação mental de um garoto que parece preso à sua realidade. Na escola, a pressão por um bom desempenho na prova o atormenta; em casa, os pais o cerceiam e ele não consegue a sonhada bicicleta ou a pipa para interagir com os demais garotos; estes, por sua vez, o excluem das atividades. Pressionado, o protagonista parece uma bomba relógio prestes a explodir.

Até que este cenário se desenhe na cabeça do público, Voz da Primavera é um exercício de paciência – assim como a realidade do garoto. É como se, em sintonia, plateia e personagem passassem pelo mesmo desespero interior. Até que ponto isso é benéfico para a obra enquanto peça de comunicação, não se sabe. Mas, detalhes de linguagem compensam.

Os planos são fechados como se sugerissem que, a qualquer momento, possam se expandir com rapidez para representar tanto a resolução dos problemas, com a integração do menino ao todo, quanto a explosão de sentimentos interior de forma a se rebelar contra aquilo tudo. O que acontece, de fato, é um misto dos dois.

O grande problema é que boa parte do longa gera um distanciamento inadequado, sobretudo para uma história de busca por aproximação. O cinema experimental de Houshang Falah Rezaei falha ao entregar imagens excessivamente frias, sem o toque sensorial adequado para tornar o pacote de imagem e som poderoso como um todo. O que se vê, de fato, é uma narrativa não usual que chega a seus objetivos, mas não percorre os melhores caminhos até lá.

Por isso, não permite a reflexão adequada sobre os seus significados, sobre o garoto como representação de uma sociedade árabe em busca de novos direitos e novas liberdades, e por isso a primavera do título parece, erroneamente, restrita apenas a um simbolismo de flores como a representação do brotar/renovar da vida.

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