Ai que saudade de Lisboa que eu tenho, que eu sinto Meu Deus...
1973, esse é um ano ímpar em toda a carreira de Amácio Mazzaropi. Os fatores são vários:
É o segundo e ultimo filme internacional de Mazzaropi ( um ano antes ele havia rodado Um caipira em Bariloche), é também uma de suas fitas que mais resistiram ao poder do tempo, é um dos poucos filmes do astro que não se passa numa fazenda, é uma das melhores atuações daquele que é considerado um dos maiores nomes do nosso cinema e é o único filme dentre seus 32 que entra na categoria "Melodramático e com uma pitada de comédia", enfim, Mazzaropi cria em Portugal, minha saudade (1973) um filme diferente daqueles que vinha fazendo.
Nascido em Portugal, Sabino (Mazzaropi) veio para o Brasil ainda criança, deixando Agostino seu irmão gêmeo com os avós. Sabino cresce em terras tupiniquins e se casa com uma portuguesa. Ambos são pobres mas dignos de honestidade. Agostinho se torna um milionário em Portugal. O filho de Sabino, Juca ( um advogado) tem como sogra uma mulher que humilha sempre o casal feito por Mazzaropi e pela atriz portuguesa Gilda Valença. A sogra fazendo a cabeça de Juca, aconselha a internação do casal em um asilo. Agostinho porém fica sabendo disso e vai até o Brasil rever o irmão depois de mais de 40 anos e leva-lo para sua terra natal: Portugal.
Dessa vez a PAM Filmes ( a produtora de Mazzaropi) nos presenteia com uma produção mais esmerada se referindo ao seu visual. De certa forma é uma surpresa. Mas mesmo assim o filme ainda tem seus problemas.
A trama começa bem mas cai no melodrama excessivo durante a sequência da festa no asilo. As badaladas de um relógio mais toda a atmosfera da cena nos deixa quase rindo devido como o drama é aplicado nesse momento. Uma coisa que o roteiro não explica é para onde vai o macaco usado no começo do filme. Será que ele criou asas e saiu por ai? O roteiro não chega a ser um desastre. É regular e até que funcional, mas poderia ser bem melhor explorado e quem sabe até ampliado. Falando em ampliado e em duração é possivelmente o filme mais longo do comediante ( uma hora e quarenta minutos). O elenco é bom. Mazzaropi está muito bom como Sabino e Agostino ( Mazzaropi havia feito também em 1956 gêmeos no filme carioca "Fuzileiro do amor"), Gilda Valença é sua mulher e tem um desempenho bom. Pepita Rodrigues está adequada ao papel, David Neto é um Juca controlado e Dina Lisboa dá um show como a sogra. Participações especiais de um elenco português e de Carlos Garcia, o fiel escudeiro de Mazzaropi e da excelente atriz Elizabeth Hartmann nas cenas do hospital. Menção para a ótima atriz mirim que faz a neta de Sabino.
Portugal, minha saudade foi lançado na mesma época que Mazzaropi comprara a sua segunda fazenda e nela construiu mais estudios da PAM Filmes que o consagrou como o dono do maior estudio da América Latina até aquele momento.
A trilha sonora do maestro Hector Lagna Fietta é boa e bem superior aos seus trabalhos anteriores que nos faz lembrar algo como uma fanfarra. Portugal, minha saudade tem um bom conjunto de números musicais. A canção ( Portugal, minha saudade) que abre o filme e a abertura são excelentes. Angela Maria canta a celebre "Feliz Ano Novo" na cena do asilo e um grupo que canta um samba durante uma festa. Mazzaropi canta a enigmática "Eu sou assim", repare que talvez essa canção possa ser uma resposta do comediante aos criticos que não gostavam de seu trabalho.
A direção de arte é boa e bem feita e figurinos normais demais. Porém a direção de Pio Zamuner é deficiente, podemos comprovar isso por exemplo na sequência da visita do médico na casa de Juca e esta cena termina com um zoom totalmente sem noção num quadro da sala e até mesmo na sequência que se passa em Fátima ( quase no fim do filme), é uma desarmonia! E a mesma mania de sempre andar com a câmera em certos diálogos e sem falar no zoom que é muito usado e quase sempre de forma agressiva. O filme tem poucas piadas e quase vemos um Mazzaropi que não é Mazzaropi em cena mas mesmo assim tem um desempenho muito bom.
Talvez o maior defeito desse filme seja a ridicula piruca usada por Gilda Valença ( uma atriz mais velha seria ideal). Mas mesmo sem esses grandes deslizes o filme ainda mantém certo tom. Foi um dos maiores triunfos de Mazzaropi nos anos 70, mais de 3 milhões de espectadores ( média que o nosso cinema atual sofre para atingir).
Belissimas imagens de Portugal que nos encantam mas também nos decepciona na direção e cinematográfia do fraco Pio Zamuner. Mazzaropi também leva crédito de direção neste filme. O filme tem várias sequências usando um helicóptero, tanto que uma determinada hora podemos ver a sombra do mesmo no chão enquanto voa filmando pontos turisticos de Lisboa. A cena em que Agostinho anda com uma mala pelas ruas da cidade é desnecessária e sem ela o filme ficaria na mesma.
O desfecho acontece de forma rápida e de certa forma cuspida, mas mesmo assim é bem diferente de outros filmes do comediante.
Mais um grande sucesso de Mazzaropi! E chega a dar pena que falte tão pouco para o filme ser bom, a cotação regular se encaixa melhor e mesmo assim é um de seus filmes mais cuidados e bem produzidos e porque não dizer o mais ambicioso de toda a sua carreira?
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