Minha Maratona Woody Allen:
PODEROSA AFRODITE (1995)
Muitos falam que a última grande obra de Woody Allen foi “Tiros na Broadway” e que, depois deste, ele nunca mais entregou um trabalho que prestasse. Pessoalmente acho que essa afirmação é não só errada, como (e desculpe-me se ofendi alguém) um tanto estúpida. É praticamente impossível ignorar obras como “Match Point”, “Poucas e Boas”, “Desconstruindo Harry”, “Todos Dizem Eu Te Amo”, “Meia-Noite em Paris” e este “Poderosa Afrodite”, isso só pra citar alguns. Tudo bem, ali na primeira metade dos anos 2000 ele fez obras menores como “Igual a Tudo na Vida”, mas ruim mesmo, só um projeto: o fraco “Scoop”.
Um coro grego anuncia uma narrativa que reflete os dramas e instabilidades que dominam o espírito humano desde o início dos tempos, mas ambientado no presente: trata-se da vida de Lenny (Allen), que é casado com Amanda (Helena Bonhan Carter) e, “juntos”, decidem adotar uma criança. Após algum tempo com Max, o filho adotado, Lenny decide ir atrás da mãe biológica, para saber de onde vêm os genes brilhantes do garoto. Ao encontrá-la, Lenny tem uma grande surpresa.
Seguindo o estilo mais, digamos, colorido de sua filmografia (remetendo a “A Era do Rádio”, por exemplo), o cineasta aposta em Carlo Di Palma para fotografar o longa com cores quentes e, em certo pontos, divertidamente gritantes. Seguindo a mesma lógica, os figurinos de Jefrey Kurland e a direção de arte de Santo Loquasto divertem ao impor sobre o quadrado Lenny um mundo muito diferente do que ele está acostumado, uma das rimas visuais mais charmosas do filme é o contraste entre a academia de boxe e o apartamento de Linda (Mira Sorvino), cheio de objetos peculiares. Além disso, a montagem de Susan E Morse para o filme instala uma agilidade muito eficiente na condução da narrativa propositalmente episódica, mas sem se perder durante o processo (como acontece em “Celebridades”).
Mais do que nunca, o elenco demonstra total entrega e prazer por trabalhar com Woody Allen. Helena Bonhan Carter, por exemplo, está muito bem e, diferente dos papeis que costuma criar, dá a Amanda uma sensação de firmeza de caráter em suas escolhas, ainda que sofra por se entregar eventualmente a paixões passageiras, o que salienta a decisão de Allen escolhê-la para o papel (a cena em que ela entrega um riso frente a um breve improviso do diretor é, além de uma curiosidade adorável, uma prova da postura profissional da atriz que imediatamente se recompõe e continua sua cena). Carter, aliás, consegue fragilizá-la ainda mais ao representar muito bem o arrependimento de Amanda de forma sutil, elegante e maravilhosamente sincera. Mira Sorvino, por sua vez, consegue a proeza de transformar Linda Ash em uma pessoa espirituosa ao mesmo tempo em que se fragiliza profundamente ao mencionar o filho, e sua curiosa escolha de voz retrata muito bem a sensação de falsa alegria (e a conclusão da história para sua personagem é algo realmente tocante). Além do próprio Allan, que está ótimo, temos o grande F Murray Abraham como o corifeu, Olympia Dukakis como Jocasta e Paul Giamatti e Peter Weller em papeis menores (ponta, no caso de Giamatti), mas não menos interessantes.
Após uma série de acertos ao longo dos anos anteriores a “Poderosa Afrodite” (incluindo aí o, sim, excelente “Tiros na Broadway”), é plenamente compreensível que um filme como este não alcance o nível de excelência de seus filmes mais famosos. Mas, mesmo que menor em qualidades estéticas e narrativas (a história é bem simples), não menos importante é sua qualidade como obra humanista e com uma visão otimista do futuro, ainda que incerto – ou, parafraseando o corifeu, “a vida é inacreditável, milagrosa, triste... maravilhosa”.
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