Desperdiçando boa parte de seu talento, Michel Gondry chega com outro trabalho modesto.
Baseado na famosa série de rádio e televisão, na década de 30 pelo rádio e na de 60 na televisão, no qual, o astro Bruce Lee interpretava o parceiro Kato, O Besouro Verde chega em uma, já necessária, transição ao cinema, isso depois de outras duas produções, mas sem nenhuma delas serem produzidas por Hollywood.
O encarregado é o diretor Michel Gondry, que chegou ao sucesso por sua parceria com o roteirista Charlie Kaufman, mais precisamente, em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Nesta produção de 2004, estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet, ficava claro o quão talentoso eram Gondry e Kaufman, entretanto, hoje, apenas Charlie Kaufman conseguiu um reconhecimento em um nível, digamos, mundial. Depois de alguns trabalhos paralelos, Gondry decidiu ir à fundo em comédias, e estes seus dois últimos filmes, incluindo este O Besouro Verde e Rebobine Por Favor, são apenas produções modestas.
Filho de um dos magnatas mais respeitados de Los Angeles, o dono do jornal local Jack Reid (Tom Wilkison), Britt Reid (Seth Rogen) parece não muito preocupado em seguir os passos de seu pai, se preocupando apenas em curtir suas festas tão badaladas. Tudo muda quando, misteriosamente, seu pai morre, deixando então para Britt seu vasto império na mídia. Começando ao acaso uma amizade com um dos funcionários de seu pai, Kato (Jay Chou), a dupla vê uma chance de pela primeira vez em suas vidas, realizar algo realmente significativo: Combater o crime. Surgem então, o vigilante Besouro Verde e seu parceiro Kato.
Usando toda sua inteligência, Kato constrói um carro praticamente indestrutível, com um vasto poder de fogo, carro este, conhecido como ‘Beleza Negra’. Utilizando então este, como sua principal arma, a dupla começa a limpar a cidade de Los Angeles, varrendo os criminosos com as sempre inventivas armas de Kato e pela sua grande habilidade em artes marciais, logo então, a dupla ganha fama, passando a criar ódio do grande controlador do submundo, o ‘carismático’ e assustador, de nome ligeiramente complicado, Benjamin Chudnofsky (Christopher Waltz)
Se Gondry tivesse apenas demonstrado talento em Brilho Eterno, poderíamos dizer que fora apenas um trabalho isolado, porém, mesmo nestas produções não muito qualificadas, em determinados momentos, percebemos um grande talento em belas tomadas e em um visual espetacular, mas sem ainda assim, conseguir um trabalho tão bom quanto o que lhe fez receber sua única estatueta.
Sabendo explorar muito bem os recursos que a tecnologia já avançada hoje lhe proporciona, Gondry em O Besouro Verde utiliza um visual excelente, com um slow-motion ‘fatiado’ e duplicado, além de destacar com cores diferentes as ‘premonições’ dos golpes que a personagem de Kato irá executar. Mas a verdadeira amostra de quão talentoso é Gondry, é em determinado momento do longa quando o vilão vivido por Christopher Waltz decide se transformar em Bloodnofsky e pede que esta notícia, e sua ameaça ao Besouro Verde, sejam propagadas rapidamente. Utilizando um mosaico ágil e multifacetado, fluindo para diversos locais diferentes, tornando a edição de tais quadros praticamente imperceptíveis, Gondry realiza uma tomada belíssima e diferenciada. Que bom seria, se o resto do filme seguisse essa entoada.
Escrito por Evan Goldberg, Fran Striker e pelo próprio protagonista Seth Rogen (Ligeiramente Grávidos), o roteiro se preocupa excessivamente em acrescentar situações cômicas e piadas, que acaba escorregando feio, isso, por todas estas serem desnecessárias e forçadas. Do nada, logo Britt e Kato se encontram defendendo a cidade contra seus malfeitores, sem muitas explicações, o roteiro parece ter sido feito as pressas, não se preocupando em acrescentar nenhum arco dramático minimamente eficiente e sim, somente ficando nesta verdadeira insistência nas tais ‘Risadas Explosivas’.
Rogen, assim como seu roteiro, também não apresenta nada de novo, empregando as mesmas facetas de seus outros trabalhos, porém aqui, por culpa dele mesmo. Talvez se O Besouro Verde pendesse mais para a ação, e deixasse a comédia de lado, o resultado seria muito mais eficiente, e consequentemente, o papel de protagonista cairia no colo de outro ator.
Tendo o peso de encarar um personagem vivido por Bruce Lee, o desconhecido Jay Chou é uma boa revelação. Apresentando um aparente domínio em artes marciais, Jay consegue entregar todas suas cenas de ação com grande estabilidade, assim como nunca deixar de lado seu notável carisma.
Vivendo a jornalista Lenore, a atriz Cameron Diaz (Encontro Explosivo), pouco faz, tendo uma participação quase tão relevante quanto às de James Franco (127 Horas) e Tom Wilkison (Duplicidade). Relaxado, o vencedor do Oscar, Christopher Waltz (Bastardos Inglórios), consegue mesmo assim, surpreender ao entregar um vilão altamente agradável e sem se preocupar em parecer muito caricato, deixando o ‘terrível’ e elegante Bl-ood-nof-sky não decepcionar.
Sendo claramente apenas um bom passatempo, O Besouro Verde é entregado pelas mãos de um diretor que já demonstrou possuir muito talento, inclusive dentro deste próprio filme, mas que parece não acertar depois de realizar um dos filmes mais marcantes da última década. Deixando muito a desejar em seu lado cômico, e erroneamente, dando muito ênfase a este, a dupla Britt Reid e Kato terão que produzir muito mais ‘engenhocas’, se quiserem realmente, ganharem as manchetes dos grandes noticiários.
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