Da mudança até a notoriedade
Em meio às inúmeras adaptações, e agora até mesmo ‘adaptações de adaptações’, como no caso de Amazing Spiderman que chega ano que vem aos cinemas, fato é que os super-heróis invadiram mais do nunca a tela grande, e boa parte desse mérito, ou demérito para alguns, se deve a ação da recente produtora de cinema, Marvel Studios. E se anteriormente buscava trazer novos elementos como Tony Stark e Thor, agora é a vez de contar a história dos X-Men, que curiosamente talvez seja a franquia (ignorem o ridículo X-Men Origens: Wolverine) que mais tenha dado certo, isso contando todos os personagens da Marvel, mas não ainda produzidos cinematograficamente por tal.
Foi assim que em uma jogada extremamente arriscada, a história dos mutantes comandados por Charles Xavier e Erik ganha uma nova versão, desta vez em X-Men: Primeira Classe onde nos confrontamos com seus primeiros passos rumo a aqueles personagens tão conhecidos.
O filme conta a história do início da saga dos X-Men, revelando-se em meio a famosos eventos globais, como a colocação de bombas em países soviéticos. Antes dos mutantes se revelarem ao mundo, e antes de Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lensherr (Michael Fassbender) assumirem os nomes de Professor X e Magneto, havia dois jovens descobrindo seus poderes. Nada de arqui-inimigos: naquela época, eles eram amigos íntimos e trabalhavam junto com outros mutantes (algo familiar, algo novo) para deter o grande vilão, Sebastian Shaw (Kevin Bacon). Nesse processo, uma grave desavença aconteceu, dando origem à eterna guerra entre a Irmandade de Magneto e os X-Men do Professor X.
Em seu quarto trabalho a frente de um filme, o diretor Matthew Vaughn, depois do sucesso Kick-Ass: Quebrando Tudo, neste mais novo capítulo da saga X-Men consegue estabelecer durante toda produção elementos simbólicos sob personagens tão ligados ao cotidiano de muitos fãs. Tendo a dificuldade em demonstrar, por exemplo, o relacionamento de Charles Xavier e Erik, ou se preferir Professor X e Magneto, o cineasta com a ajuda de seus roteiristas consegue introduzi-los a uma dramaticidade forte e melhor ainda, consegue a todo o momento nos remeter a suas atitudes futuras, entenda-se sua trilogia original. Então em nenhum momento olhamos para Erik adentrando em um bar na Argentina sem nos distanciarmos da figura praticamente estática que temos de seu personagem entregado por Ian McKellen nas produções anteriores, sendo isso um dos grandíssimos méritos do longa.
Não satisfeito, o roteiro escrito a oito mãos por Ashley Miller, Zack Stent, Jane Goldman e o próprio Matthew Vaughn, consegue entrelaçar de maneira fascinante seus poderosos personagens em meio a combates armamentistas, Guerra Fria e a iminente a 3ª Guerra Mundial que estava prestes a acontecer. Sendo assim, o roteiro de X-Men: First Class consegue fazer com que a linha narrativa destes fatos históricos seja alterada pela existência de tais mutantes, que consequentemente, alternaria o alvo principal: Antes os soviéticos, agora os mutantes passariam a ser os próximos inimigos, como podemos observar em X-Men 1,2 e 3.
Ao conseguir desenvolver de maneira animadora sua história altamente inteligente e repleta de combates políticos, X-Men: Primeira Classe consegue se balancear apoiando-se em personagens fantásticos. Professor Xavier é entregado de maneira emblemática pelo ótimo James McAvoy (O Último Rei da Escócia), demonstrando sempre astúcia e logo do começo recebendo o status de líder, principalmente ao se estabelecer como o mentor na procura por mutantes. Contrapondo-se a ele, mas sem que isso fique visível e estereotipado, encontramos Michael Fassbender (Bastardos Inglórios) vivendo com extrema fortidão os anos jovens de Magneto, conseguindo a proeza em entregar uma atuação tão convincente quanto à de Ian McKellen. Sem medo em demonstrar e até mesmo dizer claramente, Erik não esconde sua real motivação: Vingança. Reunir os mutantes? Impedir uma 3ª Guerra Mundial? Isso pouco importa a Fassbender, seu único foco é o grande vilão Sebastin Shaw. Vivido por Kevin Bacon (Sobre Meninos e Lobos) que andava ligeiramente afastado de grandes produções, Shaw consegue logo em sua primeira aparição, na fantástica cena que motiva tal ‘loucura’ de Magneto, nos convencer de sua completa podridão, mas externando um poder de persuasão realmente assustador, mesmo que por horas seus poderes se tornem ligeiramente forçados, porém algo que não deve ser creditado a Bacon.
Completando o elenco encontramos Jennifer Lawrence (Inverno da Alma) como Mystica; Rose Byrne (Presságio) como a investigadora da CIA Moira MacTaggert; January Jones (Desconhecido) e sua sedutora Emma Frost; Nicholas Hoult vivendo Hank McCoy e posteriormente o Fera, além de Oliver Platt (2012).
Alguns pontos fracos da produção, como já relatado, é apresentar, apesar de um bom vilão, algumas situações deveras forçadas. O mesmo vale para situações com um alívio cômico praticamente exigido por produções da Marvel, mas que aqui, precisamente neste projeto mais ‘sério’, coloquemos assim, surgem deslocadas. Felizmente não encontramos nenhum romance que interfira drasticamente na linha narrativa principal, como por exemplo, aconteceu em Thor com seu patético relacionamento com Natalie Portman, mesmo assim ainda observamos uma ‘admiração’ da personagem de Jennifer Lawrence por Michael Fassbender ser jogada do nada, sem nenhuma construção escalonada de tal processo, chegando a uma cena em que Lawrence do nada, decide fazer uma ‘visitinha’ para Erik… Mas repito, isso não chega a influenciar diretamente as ações de tais personagens, o que de fato, releva consideravelmente estes equívocos.
Tecnicamente acima da média, X-Men consegue entregar efeitos visuais orgânicos e brilhantes, como podemos observar em seu belo combate final. Ao estabelecer uma direção de arte, comandada por John King (Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma) muito eficiente, a produção consegue ambientar de maneira espetacular os envoltórios do campo de concentração e posteriormente, da época em que se passa boa parte da história. Henry Jackman (Monstros vs. Alienígenas) é o encarregado da trilha sonora e ao elaborar composições sempre empolgantes consegue encaixá-las perfeitamente, mesmo que, pelo menos a principio, não tenha conseguido elaborar um tema marcante para o longa. Outro fator exuberante é sua incrível montagem, elaborada pela dupla Eddie Hamilton (Kick-Ass) e Lee Smith (Batman – O Cavaleiro das Trevas) que em momento algum deixa com que o ritmo do longa decaia.
Submetendo seus incríveis personagens a jogos políticos historicamente verídicos, X-Men: Primeira Classe consegue além de entregar um blockbuster eficientíssimo, com ótimas cenas de ação, um grande ritmo e efeitos de primeira linha, desenvolver uma narrativa exemplar sobre seus personagens. Neste mais novo longa da Marvel, acompanhamos passo a passo o primeiro contato de Charles e Erik com suas mudanças de hábito e genéticas, sendo desde cedo sempre acompanhados por um completo deslocamento da sociedade, para finalmente, ao término da produção, enxergamos tais personagens da forma com que conhecemos: Os notórios e emblemáticos Professor X e Magneto.
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