Afinal, o que se passa na cabeça de Terrence Malick? Dono de uma filmografia tão curta quanto impactante, o cineasta americano surgiu, sumiu e ressurgiu para o cinema. Conhecido por ser totalmente recluso (nunca se deixa ser fotografado e foge de entrevistas e festivais como o diabo foge da cruz), Malick é um dos grandes enigmas do cinema mundial. Afinal, o que faz um diretor de apenas 5 filmes em um espaço de 40 anos ser considerado um dos grandes do cinema? Em seu primeiro filme, Terra de Ninguém(1973), Malick já dava sinais de um futuro promissor. Com seu Road-movie sobre o propósito da violência (nesse caso, nenhum) que lançou um Jovem Martin Sheen ao estrelato, Malick surgiu para o cinema e o cinema esperava por ele. 5 Anos depois, Malick lançava Cinzas no Paraíso(1978) e passava de cineasta promessa para realidade. Fazendo um filme contemplativo abordando temas como a pobreza da classe proletária americana, a exploração do trabalhador e com um triangulo amoroso que lançaria um Richard Gere, o filme foi sucesso de crítica e ganhou o Oscar de melhor fotografia (Um Genial trabalho de Nestor Almendros).
Então, quando era de se esperar um novo filme, Malick some do circuito. Se enclausura na sua fazenda no interior dos estados unidos e esquece do cinema, mesmo sem o cinema se esquecer de Malick. Depois de 20 anos, eis que o diretor surge com seu ambicioso épico de guerra Além da Linha Vermelha(1998). Cansado da clausura, o diretor embala um novo filme 7 anos depois, O Novo Mundo(2005), e entra em processo de produção do seu novo filme, A Àrvore da Vida.
Vencedor da palma de ouro (mesmo havendo boatos de que o prêmio estaria destinado à Melancolia foi excluído do festival depois da polêmica envolvendo o seu diretor Lars Von Trier) no prestigiado Festival de Cannes (Onde Malick Chegou na premiere quando as luzes já estavam apagadas e se retirou antes do término do filme), o filme, por vezes não-linear e até não-narrativo, faz um estudo filosófico sobre a natureza humana e o papel do homem no planeta e no cosmo.
Qual o sentido da vida? Quão importantes somos no cosmo? Qual o nosso papel na existência? O filme, teológico por natureza, apresenta em tese, a história de Jack (Sean Penn fazendo figuração), um executivo sufocado pela vida urbana com suas paredes de concreto, amargurado pela sua infância. O Filme então evoca o passado e se perde em lembranças (sempre fragmentadas). Vemos o Pai Severo (Brad Pitt) que rege seus filhos com um amor austero que acaba por criar uma barreira entre pai e filho e a mãe, sempre espontânea e amorosa (Jessica Chastain) que se contrapõe à rigidez do pai.
Com o tom contemplativo, marca na obra do cineasta, que parece ver beleza e se perde entre a grama molhada, o balanço se movendo com o vento, na brisa que move as cortinas, o filme logo se concentra em debater as diferenças e a existência entre Deus e Natureza. O Pai, homem de Deus, que acredita no destino divino que rege suas vidas (“Eu sempre paguei meu dizímo”) e a Mãe, que está em comunhão (Estado de Graça) com a Natureza (Constantemente focada brincando com o vento, a água, a grama). A mãe, etérea e quase divina para os filhos, tem na natureza o seu Deus e na sua relação com a “Graça” (Bondosa e Onipresente) rege os seus filhos.
Eis que Malick então decide indagar: Qual a importância da Humanidade? O filme responde através de um importante plano: O Surgimento do Universo. Recrutando o veterano Douglas Trumbull (Responsável pelos efeitos de 2001), somos apresentados a um plano que vai da gênese do universo até a gênese dos sentimentos humanos (“Como na seqüência dos dinossauros, onde a natureza, até então indiferente, mostra-se compassiva e piedosa). Esteticamente primorosa, a seqüência utiliza-se de Mozart (Lacrimosa) e da trilha sonora composta pelo excelente Alexandre Desplat, para criar uma catarse e demonstrar que perante o universo, somos ínfimos.
Á Árvore da vida é acima de tudo uma experiência sensorial. Evocando sentimentos que habitam em todos nós, o filme estuda a condição humana, a instituição familiar e os próprios sentimentos que são o elo entre a humanidade e o que quer que ela acredite (Em Deus ou na Natureza). Então, vemos que Malick faz uma celebração à vida humana, desde o seu nascimento (Ou do Universo), passando pelo seu crescimento e amadurecimento (nas experiências vividas pelo jovem Jack) e terminando com a reconciliação com o passado. A árvore da vida é um filme sobre todos nós e sobre afinal, o que nos faz humanos.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário