Irônica e ágil forma de passar uma dura e sincera mensagem, Ilha das Flores é um marco do cinema nacional, um curta-metragem que escreve um estilo de fazer cinema, obra daquelas imprescindíveis para estudiosos da sétima arte.
Partindo do plano comum, Jorge Furtado vai direcionando a narrativa de Paulo José a esmiuçar detalhes e mais detalhes sobre características de coisas comuns, como o que caracteriza um homem, um porco, um tomate, nos encaminhando até um duro, mais não menos real cotidiano de pessoas tão próximas, e ao mesmo tempo tão distantes.
O tom ousado de Furtado não poupa a ninguém, nem a Deus, nem a nós mesmos, complacentes e frutos da realidade - geradores ou participantes do processo, dependendo da concisão em que esteja. Furtado vai ao seu "quintal" e através da narrativa de Paulo José - gaúcho como o diretor - explora sua vergonha. Isso mesmo, o tom de voz da narrativa de Paulo José ao final do curta não é nem de longe o tom de resignação, de conformismo.
O ágil roteiro se desenvolve através de rápida edição das imagens sendo acompanhado pela voz rouca de Paulo José, explorando recursos narrativos onde um personagem, no caso um porco, por exemplo, revelar-se-á ao final da trama, o homem, que no início é um bípede, que possui polegar, etc., ao final será ou aquele consumista que nem sempre utiliza o que compra com seu próprio suor, ou aquele igualmente bípede, e que possui polegar que tem poucos segundos para pegar as sobras do homem consumista, sobras essas excluídas da alimentação do porco, por ele mesmo, o porco.
No desejo de revelar sua posição sobre a querela social que é a pobreza, sem isentar o humano de sua devida culpa, através de um ágil roteiro, sobrepondo imagens que auxiliem a narração de Paulo José, Ilhas das Flores é uma dura realidade de uns, retratada com maestria pelo talento de Jorge Furtado. Recomendado.
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