Os portões se abrem. A torcida, e alguns curiosos, se acomodam nos seus lugares. Todos anseiam pelo começo do espetáculo. Poderíamos estar em um estádio, mas então as luzes se apagam e a tela se acende. Uma série de imagens evocativas acendem também, o brilho nos olhos do espectador. A emoção toma conta, e um turbilhão de sentimentos invade a sala: Nostalgia, fé, carinho, devoção e principalmente paixão. As imagens na tela refletem na memória do espectador que enche o peito de orgulho e diz: “Eu estava lá. Eu Faço parte dessa História”.
Estreia nessa sexta-feira, o documentário BORA BAHEA MINHA VIDA. E o que ele é senão um tributo ao torcedor do Esporte Clube Bahia e a história do próprio clube? Já na introdução, vemos que a paixão pelo clube é o que dá o tom. Depoimentos emocionados de jogadores e torcedores que enaltecem o seu amor pelo clube tomam a tela com a ágil edição que não permite que tantas vozes se tornem uma só. Mesmo com a repetição do tema, cada relato é uma diferente perspectiva sobre o fato. Você vai ver Raudnei falando sobre seu importante gol no Ba-Vi de 1994, assim como vai ver Binha, Lourinho e outros dando a sua versão do episódio.
O pontapé de saída foi dado, dando margem para a continuação do jogo. A história do clube começa a ser desenhada na tela por quem a fez. Vemos Rubem Bahia, lendário atacante do 1º time do Esquadrão de Aço datado de 1931, contar a sua história que se mistura com a história do Bahia. Começa então o mosaico de depoimentos que tecem a linha narrativa do filme. Passamos pelo citado Rubem Bahia, por uma reunião bem humorada dos jogadores responsáveis pelo título brasileiro de 1959, onde nos pegamos a observar como os outrora heróis se transformaram em pessoas frágeis e esquecidas, visto que o futebol não tinha o apelo midiático que tem hoje, capaz de elevar um jogador ao nível de um Popstar.
Usando de depoimentos não só de personalidades ligadas ao clube, como o exemplo de Pepe, lendário ponta de lança do Santos que foi derrotado pelo Bahia nessa mesma final de 1959, constrói-se então um panorama do que tornou o Bahia o clube que é hoje. Heptacampeonato Baiano, Campeonato Brasileiro de 1988, campeonato baiano de 1994, queda para a série B de 2003, martírio da série C em 2006 e 2007 e finalizando, ascensão do clube para a elite do futebol brasileiro em 2010.
Mas, o filme acerta de verdade quando se propõe a analisar não os feitos do clube, e sim as pessoas por trás desses feitos. Desde Lourinho, folclórico torcedor do Bahia que sempre teve uma ligação com o sobrenatural na busca pela glória da sua equipe, até depoimentos emocionados como o de Baiaco. Menino pobre do interior baiano, que sem perder a humildade e as suas raízes, se tornou um dos melhores volantes (senão o melhor) que a equipe já teve.
Mas, se eu pudesse definir o segmento primordial, onde a emoção transborda e o filme ganha força no seu retrato humano, esse seria o segmento direcionado à Beijoca. Folclórico atacante do Bahia (tido como o melhor que já vestiu o manto tricolor), Beijoca não comia reggae. Tinha sérios problemas com bebida, que rendem tanto histórias engraçadas, como a artimanha que Beijoca fazia de deixar um Caju embebido na cachaça e depois levar para a concentração. E quando todos olhavam, lá estava Beijoca, sentado calmamente, chupando seu doce e inocente Caju. Quanto histórias tristes, como as brigas e os problemas decorrentes do alcoolismo. Cabe aqui nesse momento, um pequeno adendo pessoal : Na exibição do filme, sentei-me próximo a Beijoca, que hoje abandonou a farra e é pastor evangélico, que ficou muito emocionado durante todo o tempo. Ao final, o diretor Márcio Cavalcante anunciou aos presentes a presença do ex-jogador e solicitou uma salva de palmas. Então alguém resolveu parabenizar Beijoca por sua história no clube e sua participação no filme. E então, o velho guerreiro, com lágrimas nos olhos, se vira para os espectadores-torcedores e diz : Por vocês, faria tudo de novo.
E afinal, mas do que sobre o clube, é sobre isso que o documentário se propõe a mostrar. A devoção de jogadores-torcedores, de técnicos e todas as pessoas que construíram a história do EC BAHIA. A paixão, a obra humana responsável por construir a história da instituição. Uma declaração de amor do clube ao seu torcedor, e um retrato das alegrias, tristezas e sentimentos que o clube pode dar para esse que o acompanha sempre, independente de divisão ou dificuldades. Pois esse é o maior patrimônio do EC BAHIA. Antes das estrelas, pode-se afirmar que é um time que se orgulha da torcida que tem. Um filme que vai na gênese do clube em busca da explicação do amor incondicional que a torcida tem pela equipe e que encanta e espanta o futebol brasileiro.
Esse texto foi feito por um torcedor do Bahia para possíveis torcedores do Bahia . O filme tem claramente o seu público-alvo, do qual eu orgulhosamente faço parte, que com certeza saíra mais do que satisfeito e emocionado (como eu que aqui escrevo, que em certo momento não consegui colocar o distanciamento em pauta e me rendi aos apelos do meu coração de torcedor cedendo as lágrimas) dos cinemas bradando : “Eu Faço parte dessa História”
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário