Quem for procurar avaliações sobre o terceiro filme relacionado com o mesmo nome/tema, “Cloverfield”, “O Paradoxo Cloverfield”, dirigido por Julius Onah, encontrará uma enxurrada de críticas pesadas, de notas baixas e de comentários mordazes à essa produção da Netflix. Primeiramente, devemos destacar que o filme de Julius Onah apresenta uma produção com ares ou estrutura maiores do que seus predecessores. A começar pelo elenco, que conta com nomes como Daniel Brühl, Gugu Mbatha-Raw e Zhang Ziyi, passando pelo cenário, pois a grande maioria das cenas se passa em uma estação espacial em órbita da Terra. Além do que, dessa vez o filme da franquia veio chancelada pela Netflix, produtora que acumula decepções cinematográficas.
A história de “O Paradoxo Cloverfield” começa, e se estrutura, em uma crise mundial de energia que obriga os cientistas a tentarem desenvolver uma fonte de energia infinita a partir de um acelerador de partículas. Para tanto, conscientes dos possíveis riscos, decidem realizar os testes em uma estação espacial (Cloverfield). À sombra desses testes, aparece um escritor que publica o livro “O Paradoxo Cloverfield”, apontando os perigos daquele experimento com o acelerador de partículas.
De fato, a premissa que norteia o roteiro é um tanto interessante (por que não, inovadora!?). Os perigos da colisão entre dois universos paralelos podem ser vistos como um alento para continuarmos acreditando na criatividade dos roteirista de ficção científica. Mesmo que muitos espectadores pareçam ter se decepcionado, podemos sim apontar algum mérito na forma como os três filmes se encadeiam, pois, é preciso entender que essa “franquia”, pelo menos ainda, não revela grande preocupação em “explicar tudo” para satisfazer as reivindicações de um público que só exige não ser exigido. Por outro lado, em alguns momentos, parece que “O Paradoxo Cloverfield” deixa sua inventividade de lado para ser comum (especialmente nas mortes das personagens, quando parecia que a estação espacial havia sido atacada por alguma entidade), ou melhor, mais comercial do que seus antecessores (culpa da Netflix?).
Muitos comentários negativos sobre o filme de Onah, sobretudo quando comparando aos outros dois da “fraquia Cloverfield”, esqueceram de analisar que “O Paradoxo Cloverfield” parece errar naquilo que os seus antecessores acertaram: o desenvolvimento da história e das personagens. Se os outros filmes contavam com poucos personagens e com uma narrativa episódica sobre a vida deles, em “O Paradoxo Cloverfield” temos uma narrativa mais extensa e complexa, o que certamente demandaria mais tempo e maior imersão nos personagens. Além do que, a película carecia de mais apuro na construção do roteiro, não para que fizesse sentido com a realidade, mas para ser verossímil no interior da própria história (a cena do braço decepado e a do reaparecimento da bússola são os melhores exemplos disso).
Por outro lado, a despeito das falhas que o filme de Julius Onah apresenta, é inegável que ele constrói e mantém o clima de tensão e mistério (parece que o filme derrapa de fato quando tenta também ser um filme de terror). A respeito da ojeriza que “O Paradoxo Cloverfield” parece experimentar, é estranho como alguns filmes tendem a ter suas falhas perdoadas mais facilmente pelo público, enquanto outros não. A melhor hipótese que consigo pensar é que são perdoados os filmes que conseguem cumprir aquela exigência do público aludida no início desse texto. Talvez esse tipo de análise e reação, comum com muitos filmes que retomam ou dão continuidade a outro, se fundamenta demasiado na expectativa criada.
De fato, comparando com seus antecessores da “franquia”, no filme de Julius Onah predomina o caráter de ficção científica (nos outros predominava o drama ou o thriller). O retrato dos problemas da Estação Espacial Cloverfield nos lembra outros filmes em que uma tripulação espacial passa por complicações e mortes estranhas, porém, na obra de Onah, não é a causa desses problemas a base do mistério (sabemos logo o que houve: o paradoxo Cloverfield), mas sim para onde eles levarão a tripulação e como ela os enfrentará (por isso a necessidade de trabalhar melhor a construção das personagens).
Se esteticamente “O Paradoxo Cloverfield” não procurou ser inventivo como o primeiro da série; se, também, não conseguiu superar o segundo como thriller (nem parece haver a intenção de superá-los nesses aspectos), foi na constituição da história de ficção científica – inventividade, independência e seriedade – que o filme de Onah se destaca. Não é preciso se assistir aos outros filmes da “franquia” para acompanhar “O Paradoxo Cloverfield”, mas, parece que só se pode compreender a “franquia” se assistir ao filme de Onah. Seria ignorância ou teimosia não reconhecer o mérito dessa película por ter conseguido esse feito. Se, de fato, era a isso que “O Paradoxo Cloverfield” originalmente se propôs, não há por que não reconhecer acertos no filme. Ele só falhará desastrosamente se sua intenção tiver sido outra, ou que o espectador já tivesse uma diferente pré-definida.
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