O "parasita" é tanto os Kim e os Park quanto aquilo que suga o que há de mais importante
[CRÍTICA COM SPOILER!!]
Filme que ganhou atenção mundial, Parasita surpreendeu a todos ganhando 4 Oscars em cima de favoritos como 1717, de Sam Mendes, e O Irlandês, de Mario Scorcese, e toda essa repercussão não foi a toa: Parasita é o reflexo dos cenários políticos marcados pela miséria e desigualdade e a visibilidade de problemas que não são vistos, principalmente em um país como a Coréia do Sul que sempre é mostrada como um país desenvolvido, tecnológico e sem nenhum tipo de problema social (o que foi combatido pelo filme de Bong Joon-ho.).
Como todo filme que mostra o contraste da humanidade e o conflito que essas contradições deixam no cenário político, econômico e social, Parasita é a ponte entre a família Kim e a família Park; a primeira vivendo em um porão de uma casa em um bairro de classe baixa e a segunda em uma grande mansão em um bairro de elite. Além de ter várias cenas em que focam no ambiente dos dois lugares, com o objetivo de focar nos detalhes possíveis, o filme tem outra maneira de mostrar como a desigualdade é presente no país: Os sobrenomes das duas famílias, Kim e Park, são dois dos três mais populares em comuns nas duas coréias, junto com “Lee”, mostrando também que a contradição entre um Kim e um Park é tão comum quanto a presenças desses sobrenomes na Coréia do Sul, sem contar o fato de que o sobrenome Kim é mais comum do que o Park (21% contra 9% entre os sul-coreanos).
Esse contraste da realidade presente não só na Coréia do Sul, mas em todo o mundo, acaba passando despercebido pelos Kim logo após todos os membros da família estarem empregados em alguma função na mansão dos Parks, pensando e agindo como se eles fossem parte da segunda família. A falta de consciência de classe de um grupo que já se sente privilegiado e pertencente a uma elite que sempre os oprimiu é presente nos Kim quando Choong-sook afirma que “não é necessitada” para Moon-gwang, a antiga governanta dos Park, quando encontra seu marido preso no porão.
Existe a discussão se o termo “parasita” é direcionado para aqueles que vivem no porão e que entram de forma ilícita na casa dos que vivem na mansão, ou se é direcionada para os que vivem na mansão e que exploraram e retiram os recursos dos que vivem no porão. Na verdade, o termo “parasita” acaba sendo direcionado para ambos quando seu significado seja a relação entre as duas famílias, independente de quem parasite quem, e, ao mesmo tempo, o termo significa aquilo que retirou a vida de membros de ambos as famílias e que casou tristeza para todos: a ganância, o egoísmo, a vaidade e o preconceito. Portanto, existe um leque de significados para determinar o que, realmente, possa ser o tal “parasita”, o que faz com o que o filme tenha um leque de interpretações, cujo é um requisito para um grande filme e uma grande obra de arte.
Toda a aventura que ocorreu pelos Kim começou com a chegada de um dos amigos de Ki-woo, Min, carregando um talismã, preciosidade comum na cultura de alguns países asiáticos que gera sorte e lucro para as famílias. È nítido a importância desse objeto para o entender o filme pois todos os acontecimentos ou falas que acontecem devido a ele são parte de uma construção lenta do contexto social do filme. O primeiro é o comentário feito por Choong-sook após Min traz a rocha, onde a matriarca afirma: “Seria melhor se fosse comida”, mostrando que as necessidades básicas materiais são mais importantes do que a religiosidade em momentos de extrema miséria. O segundo é quando Ki-woo desce o porão da mansão dos Park para entregar o objeto para Moon-gwang e seu marido, Geun-sae, como presente e pedido de desculpas, mas acaba recendo uma golpe do objeto que quase o mata. E, por fim, o terceiro momento é quando a rocha é devolvida para o rio onde foi achado, ou seja, voltou para seu lugar de origem assim como a família Kim voltou para a miséria depois dos acontecimentos da festa de Dae-Song. Em nenhum desses momentos o talismã é mostrado como preciosidade carregada de esperança e sorte que pode livrar alguém da pobreza e da miséria, mas apenas um objeto que só é utilizado ou visto como algo material, e o fato dessa rocha não ter nenhum tipo de simbologia religiosa ou espiritual é porque a desigualdade e a pobreza não são problemas espirituais, mas problemas reais e físicos, até porque já dizia Kim Ki-taek: “É por isso que as pessoas não devem ter planos. Sem plano, nada pode dar errado”.
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