Nem precisa dizer que o ponto alto é a trilha sonora, inclusive havia espaço para muito mais, porém, não sei como funciona aqui a questão dos direitos autorais e tudo o mais. Ainda assim, o esforço de Portella em contar a história é homérico, pois conta com uma clara limitação técnica das alocações (ambientes externos e abertos, por exemplo, são sofríveis).
Ainda assim, o filme empolga, os atores são dedicados, mesmo com um excesso deles. No etanto, a edição e o roteiro pecam por saltos longos, por cenas episódicas e fragmentadas, de modo que, num cinema baseado em fatos reais, há algo de estranho quando as legendas se constituem como principal veículo de informação em detrimento das imagens. É o cinema brasileiro tentando tirar leite de pedra.
Note-se, por exemplo, as tomadas nos transportando para o Rock in Rio: as imagens reais arrepiam, as imagens do filme, dadas as limitações, suspendem o ar de imersão. Portella tenta muito, mas não tem como perceber que no geral é um filme com uma narrativa problemática, que soa mais como homenagem ao rock mesmo, com uma narrativa que se perde no excesso de personagens e não consegue traduzir em imagens toda a efervescência da década de 1980, inclusive política, com um tratamento interessante (pra quem acha que a extrema direita nasceu com o bolsonarismo), mas tão profunda quanto palavras prontas de uma plenária de movimento estudantil universitário.
Ao menos o filme tem alma, tem uma energia e uma lucidez do que pretender abordar, com todos os problemas técnicos e narrativos, consegue dar vida e voz a uma parte importante da nossa história, e de como o rock tem várias facetas, do independente e revolucionário ao seu uso comercial, e de como dialoga com tensões sociais de seu tempo. Vale sim a conferida.
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