Mais um bom retrato sobre a educação, com pegada naturalida
Por mais que não tenha a pegada realista de trabalhos como "Entre os muros da escola", não se pode negar que İlker Çatak fez um trabalho muito bom aqui. Talvez o único defeito seja nos personagens secundários mesmo, mas a composição da professora protagonista e dos seus alunos, cerne do filme, é primorosa.
Numa escola conservadora, temos a cena inicial já mostrando uma espécie de Inquisição sobre os alunos, com a direção insistindo para que eles dedurassem algum colega, tudo isso provocado por pequenos furtos que ocorrem naquele ambiente, os quais não são bem explicados, mas sim mais citados.
Leonie Benesch está estupenda como a professora protagonista da história, que resolve filmar por conta própria seu casaco pendurado na sua cadeira da sala dos professora, com uma armadilha meticulosamente brotada para pegar o responsável por aqueles pequenos furtos. Dito e certo: a câmera violadora da privacidade dos professores pega o responsável, mas não totalmente o rosto, tão somente a roupa, gerando interpretações dúbias e interessantes a respeito da autoria do crime.
Mas o filme não é apenas sobre uma investigação policial, e sim como as suposições afetam professores, alunos, direção, pais (a cena da reunião, excelente). É um microcosmo cuja teia vai sendo emaranhada de forma gradual e muito bem amarrada pelo roteiro, com grande destaque para o garoto Oskar (Leonard Stettnisch), o primeiro da turma e o que mais será impactado pelo drama.
Trata-se de um filme que tenta ir além da "cena-crime" para discutir aspectos psicológicos da projeção do outro num espaço onde claramente há margem para diversos papéis, como a liderança de uma turma de sexto ano, por exemplo. Absolutamente nenhuma cena é descartável, seja nas aulas ou na sala dos professores, ou no jornal da escola feito por alunos que conseguem inserir "racismo estrutural" no discurso da escola, tudo há um porquê de como vão lidando com as tensões.
E a real, é que a escola está completamente perdida e não sabe lidar com a situação. Oskar, o garoto mais afetado, tem uma postura tão centrada que é de dar dor ver ele sofrendo as consequências das relações sociais, pois não importa quão inteligente seja, a escola e todo o espaço pedagógico vai muito além das lições de matemática.
Mais um belo exemplar de filme sobre o mundo da educação, com destaque para o roteiro e para o ritmo do filme, mesmo que desbalanceado nos personagens, consegue transmitir muito bem a importância e o drama vivido pelos personagens principais. Ótimo representante no Oscar, ainda que não seja o favorito à estatueta.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário