Não é querendo menosprezar religião de ninguém, e sim ressaltar a linguagem do cinema mesmo, porque ficar ouvindo por duas horas o Edson Celulari esbanjando coisas como: "Vou falar algo importante sobre o amor. Ame", numa trilha impregnada, tem que ter muita disposição. E sinceramente, fui com todo o coração aberto, mas a mim me pareceu que, além de sofrer com a normatização dos corpos em vida, na outra vida tudo é muito igual, até mesmo mais moralista (ainda bem que eles sabem disso). É um Karma mesmo, saí da sessão desejando que tudo fosse diferente do que fora apresentado.
Mas tecnicamente falando, embora os efeitos visuais estejam numa mistura entre o filme do Robin Williams "Amor Além da Vida" (que inclusive foi indicado a melhores efeitos em 1998) e a novela brasileira "Os mutantes", acabe sendo funcional em vários momentos.
Acho honroso pontuar que a produção tenta ao máximo criar um ambiente único, conferindo certa personalidade ao filme. Particularmente, gostei de alguns cenários e da fotografia em preto e branco de certos momentos, e esse apelo visual, no final, embora tenha momentos constrangedores, é positivo, como dito, um esforço para se enquadrar à narrativa.
Algo que me chamou muito a atenção foi a montagem e a edição desse filme, não é fácil trabalhar com histórias paralelas, e achei que foi uma opção corajosa e satisfatória, obrigando o espectador a ficar mais atento do que de costume em filmes como esse.
Porém, é o texto e o nível dos diálogos, bem como das atuações, que são o maior desastre aqui. Temos o mesmo desastre em "A cabana" ou em "Deus não está morto", mas aqui tudo é muito pior, principalmente quando inventa de falar sobre temas como desigualdade de gênero e racismo (e olha só que coisa, a alegoria das pessoas "perdidas" é escura, e das pessoas "de bem" é muito mais alva, coincidência?).
É um filme que abraça o senso comum e entrega tudo tão mastigado e didático, tão maniqueísta, que talvez se eu fosse um garoto de 10 anos fazendo catequese eu me empolgaria. Só senti vergonha alheia mesmo e vontade zero de me aprofundar na doutrina, ainda que eu perceba uma boa intenção por trás do longa.
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