Um mega sucesso de nosso cinema!!!
Ninguém poderia imaginar que um grupo de cangaceiros seriam a sensação do meio cinematográfico mundial de 1953.
O filme foi produzido pelos Estúdios Vera Cruz (a mesma produtora de clássicos como, Tico-Tico no fubá, Sinhá Moça, Caiçara, Floradas na Serra, entre outros), durante o ano de 1952. O Cangaceiro foi lançado em Janeiro de 1953 em São Paulo.
*CURIOSIDADE: Quando o filme foi lançado em São Paulo (Capital), o filme foi visto por um milhão de espectadores (naquele tempo a cidade tinha pouco mais de 4 milhões de habitantes).
Em Maio de 1953, o filme foi apresentado no super prestigiado Festival de Cannes, e saiu de lá com o prêmio de melhor filme de aventura e uma menção para a música Muié Rendeira, de qual falaremos mais em frente.
O filme faturou só no Brasil U$$1.500.000,00 e coube a Vera Cruz ficar com apenas U$$750.000,00 do lucro nacional. A Vera Cruz estava numa complicada situação, alguns de seus filmes não deram o lucro esperado, somente os filmes Tico-Tico no fubá, Sai da Frente, Nadando em Dinheiro (esses dois com o campeão de bilheteria Mazzaropi) e a superprodução e grande sucesso Sinhá Moça, o estúdio não tinha outra saída se não vender o filme para a Columbia Pictures por cerca de Cr$15.000.000,00 caso o contrário, se o estúdio quise-se lançar o filme internacionalmente teria que gastar uma fortuna.
Enfim, o filme foi vendido para a Columbia, que o distribuiu no resto do mundo... e o inesperado acontece...
"O CANGACEIRO BATE RECORDES DE BILHETERIA NO MUNDO", dizia as manchetes.
O filme faturou no mercado internacional a grande quantia para a época de U$$50.000.000,00 ( hoje esse valor seria algo em torno de 500 milhões de dólares), só para ter uma idéia do sucesso que o filme fez, o dinheiro que foi arrecadado no mundo daria para construir 10 estúdios da Vera Cruz( que eram gigantes para a época), ou para fazer 10 vezes o filme E O VENTO LEVOU (1939) e ainda sim sobraria dinheiro.
Mas como a Vera Cruz vendeu o filme, toda a grana arrecadada pertencia à sua dona ou seja a Columbia Pictures. A Vera Cruz ficou assistindo o sucesso de O Cangaceiro sem poder fazer nada. Podemos até dizer, que o maior sucesso da Vera Cruz foi o seu maior fracasso.
Durante o Festival de Cannes de 1953, o júri ficou encantado com a trilha musical, especialmente com a música que abre o filme "Muié Rendeira", lhe dando uma menção especial por esta música. Essa canção fez tanto sucesso, que até hoje é obrigatório que todos os corais do mundo saibam cantar essa canção.Por incrível que pareça, até hoje não se sabe quem escreveu essa canção, já que ela é de acervo popular.
O diretor Lima Barreto encontrou dificuldades para que o manda-chuva da Vera Cruz, o italiano Franco Zampari aceita-se a sua história. Zampari acreditava que Lima Barreto não sabia nada de cinema e que a sua história seria um grande fracasso. Mas para a sorte de Barreto, um dos diretores da Vera Cruz leu a história e quase obrigou Franco Zampari à pagar a produção de O Cangaceiro do contrário o diretor poderia bancar o filme e ainda processar a Vera Cruz.
A primeira cena do filme é inesquecível, o bando de cangaceiros andando à cavalo em contra-luz e cantando a antológica canção "Muié Rendeira", outras cenas também marcantes: a entrada dos cangaceiros na cidade à ser assaltada, o sequestro da professora, a volante que está em busca do grupo de cangaceiros, as noites no acampamento embelezadas com canções como Lua Bonita, Lampião e Sodade meu bem Sodade (não é saudade e sim sodade pelo fato do linguajar do povo da região), e é claro os dez minutos finais (recheados de ação e aventura).
O filme conta a história do grupo de cangaceiros do Capitão Galdino (inspirado em Lampião), que sequestra a professora de uma cidadezinha (Marisa Prado). A mulher do Capitão Galdino vivido por Milton Ribeiro( numa atuação antológica e sinistra) se chama Maria Clória que é apaixonada por Teodoro (Alberto Ruchel), mas este se apaixona pela professora e a ajuda na fuga. Galdino furioso promete vingança e vai atrás dos dois em meio as paisagens secas da caatinga. Teodoro consegue salavar a professora que volta para o seu lugar de origem, mas Galdino o encontra e como este achou que Teodoro foi um cabra macho enfrentando o chefe do grupo, lhe propõe um desafio: todos os cangaceiros do bando teriam direito à um tiro apenas, Teodoro por sua vez teria que andar em direção de uma àrvore e enquanto isso os cangaceiros disparariam em sua direção, se ele chegasse até a àrvore vivo poderia viver com a professora, do contrário pagaria tal façanha com a vida. Porém a sorte acaba traindo Teodoro que cai morto nas terras trincadas do sertão. O filme conclui como começou: os cangaceiros cantando "Muié Rendeira" em contra luz.
O diretor Lima Barreto faria apenas mais um filme A última missa(1960), mas o sucesso não se repetiu.Morreu pobre e sozinho.
O Cangaceiro(1953) é um clássico absoluto da Vera Cruz e do cinema brasileiro. Um filme que até hoje é estudado por críticos, cineastas e cinéfilos.
Um dos momentos mais altos e marcantes da cinematográfia brasileira.
Parabéns pela pesquisa e excelente comentário, veio para embelezar mais ainda esse filme, que é brilhante...
A trilha sonora que encantou o mundo esteve a cargo do injustamente esquecido Zé do Norte (grande músico popular). Verdade que Muié Rendeira é um motivo folclórico de origem controversa (os fatos apontam para Virgulino Ferreira ser um dos autores), mas a versão que foi as telas é de Zé do Norte. Na realidade Lima Barreto era um artesão competente e se cercou de pessoas talentosas. A inveja que caiu sobre si foi tamanha que sua carreira não prosseguiu. Como se fosse culpado pelo dinheiro ter ido para o exterior. Acho que esse desprezo vigora até hoje. É só vermos a baixa avaliação da película. Ninguém é profeta em sua terra. Infelizmente. Tenho em conta que A Última Missa (ou A Primeira Missa) deve ser uma obra de envergadura. Brasil é assim, ninguém respeita o verdadeiro talento.