Nos dias de hoje, e até mesmo em tempos atrás, o enorme número de filmes lançados a cada dia e sua assídua disputa pelo público faz com que alguns deles percam espaço e passem despercebidos. O mais curioso desse fenômeno é que boa parte desses filmes apagados pela concorrência são longas de qualidade considerável. Espírito Selvagem ( All the Pretty Horses, 2000), é um claro exemplo disto. O que leva um filme dirigido por Billy Bob Thornton( indicado a dois Oscar e quatro Globos de Ouro pelo seu trabalho como ator e vencedor do Oscar de roteiro adaptado em 1997), estrelado por Matt Damon e Penélope Cruz, editado por Sally Menke( editora de boa parte da filmografia de Quentin Tarantino) e produzido por ninguém menos que Mike Nichols, a passar longe do sucesso de bilheteria e crítica? É difícil entender.
Na estória temos os amigos John Grady(Damon) e Lacey Rawlins(Henry Thomas), dois jovens cowboys insatisfeitos com a vida que levam e com o provável futuro que os aguarda. Em busca de novos ares, a dupla parte rumo ao México, onde esperam desfrutar da vida que desejam. Somos então apresentados a uma sequência de belas paisagens, um dos pontos fortes do filme, e ao garoto Jimmy Blevins, que vem a se tornar o problemático do grupo. O elenco, que mais tarde ganha o reforço de Penélope Cruz, passa longe de realizar um trabalho notável, mas convence dentro das possibilidades criadas pela trama, desenvolvendo bem os personagens.
Do meio para o fim, o filme muda por completo em sua dramaticidade, nos levando a vários questionamentos sobre o amor, a vida e o orgulho. É também nesta parte que se destaca o trabalho do diretor, criando cenas marcantes e conduzindo bem os pontos de virada da estória. O que talvez possa ter levado Espírito Selvagem quase ao anonimato no Brasil, é também seu maior acerto: Billy Bob Thornton não cede aos clichês e aos truques de marketing, deixando a trama se desenvolver em ritmo preciso(nem tanto) para alcaçar todo o seu potencial. Não se pode negar, claro, que todo o potencial de thornton seja abaixo do potencial que mãos mais habilidosas como, por exemplo, as de Joel Coen poderiam alcançar.
E por falar em Joel Coen, vale lembrar que o escritor do livro no qual se baseia o roteiro é Cormac McCarthy, autor de Onde os Fracos não tem Vez( No Country For Old Man, 2007) e A estrada( Road, The, 2009). De fato, em Espírito Selvagem o roteiro não foi tão bem amarrado quanto em outras adaptações do escritor, o que não diminui um filme tão acima da média, como é o caso.
Por fim, um filme que possui qualidade em todos os aspectos, que vai além do que se espera ao assistí-lo sem expectativas, tornando-se uma grata surpresa. Um longa que não chega a ser espetacular, mas que merece ser visto e revisto. Um filme pra se ter em casa e ver sempre que mesmisse estiver tomando conta das salas de cinema.
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