Com atuação deslumbrante de Jeff Bridges e músicas belíssimas, “Coração Louco” consegue agradar em seu conteúdo final, apesar de não inovar em quase nada.
A música é uma das maiores paixões do ser humano, assim como qualquer um gosta de um filme, tem sua música preferida, seu cantor predileto, sendo este de qualquer estilo. É verdade que nossa cultura vem esfacelando tudo que já se foi feito pela música, se há anos atrás o MPB encantava o Brasil e muitas partes do mundo, hoje temos a infelicidade de escutar uma “música” – se é que pode ser chamado música – chamado Rebollation, Créu, e inúmeros aberrações que nos fazem ter saudade da década de 70, 80, mesmo sem ter vivenciado elas.
Então eu, um apaixonado por música, posso dizer que sempre fico satisfeito em filmes musicais. “Coração Louco” pode ter inúmeros defeitos, mas funciona como um refúgio e uma blindagem da escassez de músicas de qualidade que vivenciamos atualmente. Obviamente terei que analisar tecnicamente, mas meu coração falará mais alto, um coração também louco, louco por música.
Bad Blake (Jeff Bridges) é um cantor de música country fracassado, que leva uma vida dura depois de diversos casamentos, muitas turnês, além de excesso de bebida em inúmeras ocasiões. E por mais que tudo possa parecer errado, parece existir algo mais forte do Blake que o impede de deixar os cigarros e as bebidas. O cantor em decadência continua sua irresponsável rotina. Porém sua vida começa a mudar quando a jornalista Jane (Maggie Gyllenhaal) o convida a fazer uma entrevista. Começando a entender o valor da vida e iniciando um relacionamento com Jane, Bad Blake começa a lutar por uma redenção, aprendendo da maneira mais difícil, a se reabilitar, não só fisicamente, mas também seu espírito, seu coração.
Você já deve ter percebido que a história em si não possui nenhuma originalidade, segue a trajetória comum de inúmeras celebridades: Anonimato – Sucesso – Decadência – Redenção (isso para poucos). O grande problema é que o filme também segue na mesma linha de pensamento que as inúmeras biografias presentes por aí, não acrescentando nada de original, isso não deixa o filme ruim, mas o fará ser esquecido depois de um bom tempo. Isso provavelmente tenha acontecido graças à direção apenas normal de Scott Cooper, que tem sua estréia na direção e produção, então como é de costume eu sempre dou uma ressalva para estreantes.
Mesmo tendo, digamos uma precariedade em sua obra narrativa, “Coração Louco” possui inúmeros pontos fortes, vamos primeiramente analisar sua fotografia, que consegue impressionar, tanto pela beleza em si das paisagens retratadas no filme (as principais cenas foram filmadas em Albuquerque, Santa Fe e Los Angeles, todas no Novo México/EUA), mas há de se ressaltar toda qualidade técnica das apurações: Os movimentos de câmera, a saturação correta e os flash impecáveis dão uma junção maravilhosa, ou seja apesar de utilizar elementos básicos em sua fotografia, o resultado acaba sendo excelente.
Uma sacada muito bem feita utilizada por Cooper foi a de mostrar a diferença entre Bad Blake e Tommy Sweet (Colin Farrel) – que aprendeu a tocar violão com Blake, porém agora tem tudo aos seus pés: Distribuidoras, gravadoras, empresários, fãs….. Essa dualidade entre a ideologia de Bad Blake e Tommy Sweet é uma crítica escancarada ao atual cenário da música: As canções em si vêm ficando de lado, o que importa é somente alimentar os aglomerados fãs, com músicas vazias, porém “legais”. E infelizmente a ultima opção é quase que a prioridade das principais gravadoras, muitas vezes elas não selecionam os mais talentosos, mas sim qual músico terá uma projeção maior no futuro. Uma pena.
Talvez um dos maiores pecados de Cooper tenha sido a introdução de Maggie Gyllenhaal no filme – não que ela seja ruim, pelo contrário, uma atriz muito talentosa que demonstra mais uma vez sua competência (tanto que foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar 2010). Entretanto o seu papel foi pessimamente desenvolvido, destoando da história, deixando mais a idéia de um romance clichê, do que propriamente um drama de redenção
Se acima eu relatei que “Coração Louco” será esquecido daqui a um tempo, acho que estou enganado. Vamos lembrar sim desse filme, vamos lembrar porque foi ele que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Jeff Bridges.
Há 40 anos na estrada cinematográfica, finalmente chegou à vez de Jeff Bridges, o ator pela primeira vez consegue receber sua estatueta e logo no prêmio mais cobiçado, isso graças ao seu desenvolvimento sensacional do cantor solitário e decadente de música Country. Impossível não fazer uma ligação com “O Lutador” de Mickey Rourke, os dois tem trajetórias parecidas, tanto em seus filmes como em suas vidas pessoais. O papel parece ter sido feito para Bridges, o cantor caipira nada mais é do que ele mesmo. Se até hoje o ator George C. Scott é confundido com o general Patton, por seu papel em “Patton – Rebelde ou Herói?”, me arrisco a dizer que Bridges será confundido como o próprio Bad Blake.
Apesar de todas as ressalvas e elogios o filme sai com um saldo positivo.
Alimentando assim nós, fanáticos por cinema e música, com uma junção maravilhosa entre essas duas obras de arte.
Nota: 7,5
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