Todo o ato final de Alien – O Oitavo passageiro é de tirar o fôlego, não apenas por conter os momentos mais angustiantes e tensos da projeção – que já contava com sequências totalmente apreensivas e dos alguns momentos mais emblemáticos do gênero ficção-científica. O que realmente faz a diferença, e transforma a última meia hora do filme tão memorável e assustadora, é toda a construção climática que Ridley Scott moldou cuidadosamente durante cem minutos. Assim, a escolha do diretor de criar uma obra mais intimista e com um horror que crescia aos poucos é, não apenas acertada, mas imensamente corajosa. Com isso chegamos a conclusão de que Alien dificilmente poderia ser comandado por um cineasta um pouco menos talentoso do que Scott, e ainda assim funcionar.
Após os créditos iniciais , somos apresentados a nave Nostromo, com planos amplos mostrando detalhadamente seu exterior, passando por salas de controle e corredores intermináveis, até chegar na sala onde os sete passageiros estão em adormecidos no hiper-sono. Depois da nave receber um alerta – um possível SOS – vindo de um planeta desconhecido, a equipe é acordada para investigar. Três deles descem ao inexplorado lugar e um acaba encontrando algo que se parece com um ninho, repleto de ovos sem nenhuma espécie de abertura e com vida orgânica dentro. Esse mesmo tripulante acaba voltando para a nave com um ser alienígena junto ao seu rosto, que é estudado com cuidado pelo cientista que descobre sistemas de defesas da criatura e que qualquer movimento inesperado pode acabar com a vida de Kane.
Quanto menos você souber sobre a história do filme antes de vê-lo melhor, afinal, o que realmente faz Alien – O Oitavo passageiro funcionar tão bem é a incerteza e insegurança que o roteiro transmite: O primeiro ato de concentra exatamente nos mistérios que cercam o enredo, não temos pista alguma para onde aquilo vai caminhar e isso deixa qualquer (desde já) roendo as unhas; o segundo é o mais surpreendente, já que vemos – pela primeira vez – o vilão do filme em seu estágio final e assistimos os personagens que conhecemos serem mortos da forma mais súbita possível; o ato final, além de conter as sequências mais tensas que eu já vi em uma produção cinematográfica, surpreende ao mantém a lógica de deixar o espectador no escuro (leia-se: sem ter a mínima ideia do que virá a seguir) até os últimos minutos de projeção. Alien ainda impressiona por ter sido feito em 1979 e não soar datado em momento algum: Além do básico (escala e proporção dos efeitos especiais) a equipe monta cenários absolutamente gloriosos para a época, com efeitos realmente extraordinários (desde as escotilhas de metal que se fecham num ângulo circular, até a incubadora de ovos aliens).
Contrapondo-se a outros filmes do gênero que pertence, Alien – O Oitavo passageiro é dirigido maravilhosamente bem por Ridley Scott: O diretor surge perfeito para o projeto não apenas em desafios complicados – como de esconder o monstro até o terceiro ato -, como também ao criar quadros lentos e “arrastam” um pouco a narrativa, mas que dão rápidas pistas sobre o que acontecerá a seguir – basta ver o olhar de Ash focado em Kane, durante a cena do refeitório -, e que são necessárias para o tom sinistro e aterrorizante do longa. Com isso temos cenas que circulam entre três gêneros: O Suspense (Dallas nos tubos de ventilação, por exemplo), Ficção-Científica (o próprio conceito de se passar numa nave espacial e conter vida de outro planeta) e o Terror (particularmente, um susto óbvio – clichê em filmes do gênero – e extremamente eficiente).
Acertando, ainda, na construção dos personagens (que mesmo não sendo tão multifacetados, envolvem o espectador que temem por o destino de cada um deles, mesmo não conhecendo tão bem suas respectivas personalidades), Alien – O Oitavo Passageiro é um dos poucos filmes que conseguem manter a plateia tensa todo o tempo. No final, o título deveria ser O Nono Passageiro, já que é tão envolvente, tão aterrorizante e amedrontador que você acaba se tornando parte da tripulação da Nostromo.
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