Narcos - A Primeira Temporada
- por Bruno Marise
Não tinha aderido ao hype
de Narcos até sair o primeiro trailer, com Wagner Moura devidamente
caracterizado e soltando a máxima "O plata, o plomo!". Depois disso,
a expectativa foi enorme até a estreia em 28 de agosto, com toda a temporada
disponibilizada no Netflix.
Logo de cara dá pra
sentir a mão de José Padilha na produção e direção, com vários elementos que já
estamos familiarizados em seus filmes: Tomadas aéreas, liberdade para os
atores, diálogos afiados e a polêmica narração em off. Para alguns, um
artifício barato que subestima a inteligência do espectador e estraga a
experiência audiovisual como um todo. Mas conhecendo o estilo de Padilha, de usar
o entretenimento como veículo para problematizar e contextualizar problemas
sociais, o recurso da narração serve bem a essa proposta. Guardadas as
proporções de produção hollywoodiana e dramatização da trama, Narcos deixa
claro desde o início que toda a história mostrada ali é verídica, e as imagens
reais de arquivo criam um efeito documental muito interessante. A série não se
resume a uma biografia encenada de Pablo Escobar. A atração, acima de tudo,
conta a origem do tráfico de cocaína e como ele se tornou um negócio
extremamente rentável, que envolve muito mais do que imaginamos. Ficamos
conhecendo todo o envolvimento do governo americano na guerra contra o tráfico,
e num espectro maior, a influência da Guerra Fria na geopolítica latino
americana. É assustador o quanto os Estados Unidos agiram e ditaram os rumos de
nosso continente.
A maneira como a persona
de Pablo Escobar foi construída é bastante interessante. Nos primeiros episódios
até simpatizamos com sua história de vida: Garoto de origem pobre que encontrou
no tráfico uma maneira de subir na vida e põe a família acima de tudo.
Praticamente um anti-herói latino americano, o "Robin Hood Paisa",
que cativa com sua engenhosidade e carisma. Vende cocaína para a playboyzada
gringa e compra casas para os pobres. Mas ao longo da trama, Escobar se mostra
apenas um assassino frio e megalomaníaco, cada vez mais paranoico e violento.
Essa desconstrução fica clara em algumas cenas, quando, por exemplo, Pablo
empunha a espada roubada de Símon Bolívar de maneira puramente narcisista,
demonstrando toda a sua vaidade cega e como ele realmente acreditava que era
uma espécie de messias fora da lei.
O tão criticado espanhol
de Moura incomoda sim, mas fica pequeno perto de sua atuação. E demos créditos
ao cara: Ele engordou 20 quilos para viver Escobar e morou na Colômbia durante
um tempo, aprendendo o idioma e o sotaque local em apenas seis meses. O elenco
de apoio é bastante acima da média, com destaque para o sempre subestimado Luiz
Gúzman na pele do maníaco Gacha e Pedro Pascal (Game Of Thrones) que convence como
o agente do DEA Javier Peña e nos faz esquecer totalmente de Oberyn Martell da
série da HBO.
A grande crítica negativa
em relação à Narcos foi por uma produção estadunidense se meter a contar a
história de um personagem marcante da América Latina, e obviamente de seu ponto
de vista. Mas lembremos de que quem está no comando é José Padilha, e ele não
tem medo de botar o dedo na ferida. Em nenhum momento a produção esconde como
foi a atuação dos EUA e da CIA em território Colombiano, e quais eram suas
reais preocupações ali. A história também foge do caráter maniqueísta, e os
agentes da polícia e do DEA não medem recursos para caçar Escobar, apelando até
para a tortura.
A primeira temporada de
Narcos confirma o que temos visto nas produções do Netflix: Material de
altíssima qualidade, total liberdade de criação e um formato que se assemelha a
um longa-metragem gigantesco dividido em várias partes. Por mais que o
envolvimento de José Padilha dê o toque contestador e caráter documental, a
série serve muito bem como entretenimento, e cativa, segurando a atenção do
espectador do primeiro ao último episódio. Cortesia da dinamicidade do roteiro,
edição afiada, ambientação fiel e equilíbrio entre drama e ação. Mais do que contar
a vida de Pablo Escobar, Narcos é uma trama policial, política e histórica
extremamente divertida e recheada de personagens fortes. O mais interessante é
pensar que grande parte dos acontecimentos são reais, o que torna toda a
história ainda mais atraente. Que venha a segunda temporada!
Excelente critica, o anti-herói que cativou, conseguiu me conquistar no início, vislumbrei um mártir, SQN gostei da forma como costuraram o personagem central, com a maldade desabrochando aos poucos, eu que não conhecia sua história a fundo, fiquei abismada com seu poderio, excelente série, Wagner Moura arrasou... Curiosidades interessante, para quem curte investigar mais a fundo a veracidade das séries... http://on.ig.com.br/imagem/2015-09-12/dez-historias-inacreditaveis-de-narcos-que-realmente-aconteceram.html
Muito bom!