O filme é a dramatização de uma história real absurda que verdadeiramente chocou os EUA em 1965 e vai causar indignação a quem assistir à película. Portanto, ele funciona muito bem para aqueles que não conhecem detalhes deste “crime americano” (Inclusive, o próprio título estraga um pouco a surpresa que o assistente leigo no caso teria ao final).
No início, vemos uma mãe zelosa em uma destas igrejas comunitárias americanas, cuidando de seu filhinho pequeno “chorão” e um casal que ganha a vida em quermesses circenses, com suas duas lindas filhas quase adolescentes (Sylvia e Jennie Fae Likens), discutindo que o trabalho seria mais fácil se alguém tomasse conta delas por uns dois meses. Após o culto dominical, as meninas acabam fazendo amizade com as crianças daquela mãe solteira (Gertrude Baniszewski) e vão para casa dela. Quando o pai vai buscá-las, recebe uma proposta de deixá-las aos cuidados de “Gertie”, afinal, “quem cuida de sete, pode cuidar de mais duas”...
Aí o espectador já fica preocupado e tenso. Afinal, qualquer pai que tenha um pingo de preocupação com os filhos diria um muito obrigado, ou, pelo menos estudaria melhor o “ambiente familiar” daquela senhora tão bondosa. No entanto, para surpresa de todos, não é o que ocorre e, assim, começará a reconstrução de um dos crimes mais revoltantes e sem sentido já cometidos a uma pessoa boa.
A partir daqui, não há mais o que dizer ou comentar, ou se estragaria a surpresa, o choque e a revolta a cada cena (creio que até para os conhecedores do caso). Desta forma, o roteiro simples e de fácil compreensão vai apresentando, aos poucos, as verdadeiras personalidades da família Baniszewski, moldadas por uma mãe inconstante e que apresenta problemas psiquiátricos. Não há emoção. A câmara se mantém sempre distante, neutra, sem analisar o que está se passando. Talvez por isso a indignação vá aumentando cada vez mais ao longo do filme. O espectador fica angustiado diante de tamanha passividade; quer fazer algo, mas não pode, assim como todos os personagens envolvidos na trama...
A presença de Ellen Page, mais uma vez brilhante, coroa a atuação de um elenco bastante competente. Destaque também para Catherine Keener, que conseguiu dar o tom certo à personagem inconstante da mãe solteira de meia idade. Até as crianças, que costumam ser insuportáveis neste tipo de drama, trabalham bem, conseguindo passar toda a indiferença que é sugerida pelo roteiro.
Talvez a maioria das pessoas não goste do filme e até abandonem a exibição antes do final, tendo em vista a “realidade” sem sentido mostrada em tela (se não soubéssemos que é baseado em uma história real, acharíamos que o filme é mais uma dessas imaginações do tipo “Violência Gratuita”, do Michael Haneke). No entanto, para aqueles que consigam controlar a indignação e a revolta, ficará uma lacuna em suas mentes: Como isso pôde acontecer? Culpar a quem? Não é possível, deve estar faltando alguma coisa neste enredo!...
E é aí que entra a reflexão sobre nosso mundo moderno, onde “os problemas dos outros são apenas deles e nós não temos que nos envolver”. Ou seja, é a indiferença do ser humano para com o que acontece à sua volta. É a própria degradação familiar, onde os pais não se preocupam com os filhos. É a sociedade totalmente passiva diante de toda violência à sua volta. Enfim, não é apenas mais “um crime americano”, mas uma afronta ao ser humano, uma total indiferença em relação ao valor da vida e à importância de cada pessoa.
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