Paixão, lembranças, escolhas e redenção. O segredo pode ser guardado, porém jamais será esquecido.
Cinema. Por que logo que mencionamos essa palavra já associamos Hollywood?? Óbvio, este é o centro cinematográfico, é daí que surgem as maiores produções, maiores orçamentos, os melhores atores, mas reparem, saem os melhores é verdade, mas não os únicos! Hollywood pode ser o centro, mas o talento não tem local certo pra nascer e muito menos para desabrochar. “O Segredo de Seus Olhos” da Argentina quem diria, é um dos melhores filmes de 2009 e como sempre estamos ligados aos hermanos, nenhum filme brasileiro chega nem perto dessa verdadeira obra de arte de Juan José Campanella.
O maior trunfo do filme com certeza é sua narrativa. Inovadora em muitos pontos e encantadora ao mesmo tempo. Estando a frente de um trabalho tão desconhecido Campanella arrisca e sai com um êxito extraordinário. Desde os flashes entre a realidade e cenas do passado, até preposições de coisa que irão acontecer. Campanella é um dos diretores que mostram o poder do cinema latino, sempre ao lado de seu parceiro o ator Ricardo Darín, os dois realizaram trabalhos alternativos que devem ser acompanhados por todos, “O Filho da Noiva” de 2001 e “Clube da Lua” de 2004 são ótimas produções pertencentes a Campanella. Mas sua obra-prima chegou agora, sem perder para nenhuma superprodução norte-americana “O Segredo de Seus Olhos” é fabuloso em quase tudo que se propõem a fazer.
A trama do filme passa concentrada em Benjamin Esposíto (Ricardo Darín) que depois de trabalhar a vida toda em um Tribunal Penal, ele chega a sua aposentadoria. Solteiro, sem filhos, solitário e com tempo de sobra, Esposíto decide escrever um romance baseado em acontecimentos que lhe ocorreram há anos atrás. Mais precisamente um bruto estupro e assassinato de uma jovem, na época a Argentina passava por tempos conturbados de violência e corrupção. O desenrolar de sua ivestigação acabou que tomando proporções maiores do que o imaginado, o levando a correr risco de morte. Esposíto se afasta, de volta depois de 25 anos ele encontra sua antiga chefa, Irene (Soledad Villamil), uma antiga paixão que junto com ela o faz refletir sobres escolhas e principalmente sobre o propósito de sua vida.
O filme consegue traduzir de forma tão simples algo tão complicado e subjetivo: As escolhas da vida, e principalmente os olhos, isso mesmo os olhos, o direcionamento de nossos olhos é algo que serve de instrução de qual caminho estamos seguindo: Olhando sempre para o presente, vivendo a vida monotonamente sem preocupação, uma máquina; Olhando para o passado sofrendo com marcas de tempos atrás e questionando escolhas; ou olhar para frente e ir traçando um caminho a seguir. O filme toca nesses três pontos com maestria e sutileza.
Não é só o Brasil que é apaixonado pro futebol, o ufanismo “O País do Futebol” é um pouco subjetivo, a Argentina assim como nós respira futebol e “O Segredo de Seus Olhos” nos proporciona um plano seqüência extraordinário Entre uma das pistas para encontrar o assassino surge a idéia de que ele seja uma apaixonado pela equipe argentina, Racing, indo diretamente ao estádio Campanella simplesmente faz jogadas de câmeras excepcionais, inspirado com certeza em Scorsese ele realiza a melhor cena do filme dentro do estádio do Huracán (equipe rival). A cena que antecede a plano seqüência do estádio é tão brilhante quanto, o personagem Sandoval vivido brilhantemente por Guillermo Francella nos relata uma frase extraordinária:
“As pessoas podem mudar tudo: de rosto, de casa, de família, namorada, religião, de Deus… Mas tem uma coisa que não se pode mudar: Não se pode trocar de paixão!”
E como relatado um filme precisa de um roteiro – Campanella adapta brilhantemente o romance de Eduardo Scheri – e necessita de um elenco de primeira. Ricardo Darín que está em quase que todas cenas tem uma atuação brilhante, como já retratado o parceiro-mor de Campanella tem nesse o seu melhor papel, Solledad Villamil que vive Irene está ótima e acompanha com a mesma categoria seu parceiro de trama. O viúvo Morales vivido por Pablo Rago e principalmente Guillermo Francella fecham com talento todas as cenas do filme.
Fascinante. É fascinante a fotografia que Campanella utiliza, além dos subúrbios argentinos, a paisagem com os tons de luz sobrepostos são lindos, cenas que podem ser destacadas: Quando Esposíto dirige pela estrada, o horizonte, o reflexo do sol, cada centímetro retratado em tela é um fotograma que só a sutileza de Campanella poderia trazer essa beleza. A trilha sonora mesmo que simples também dão seu tom preponderante e impressiona.
Vale de alerta, talvez infelizmente esse seja o único jeito dos cineastas brasileiros tomarem vergonha na cara e começarem a produzir filmes decentes, se o único jeito disso ocorrer seja a ignorante rivalidade no futebol, que ocorra aqui também, tomara que isso surja no cinema também. Correria, favela, desgraça parece que a cabeça dos cineastas brasileiros só enxergam isso, e pensar que tiveram a audácia de colocar o ridículo “Salve Geral” para combater com “O Segredo de Seus Olhos” no Oscar. O filme foi a grande surpresa, desbancando o favoritíssimo “A Fita Branca” de Michael Haneke e vencendo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Enfim, é difícil apontar defeitos nessa produção, o que vale é a forma tão sutil que o filme se coloca e o poder do roteiro e de todas suas atuações e seu desenvolvimento.
O melhor filme fora do centro de Hollywood já realizado.
Nota: 9,5
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