Um reflexo da sociedade atual, um espelho do mundo contemporâneo, mesmo assim vemos que ainda pode existir alguma surpresa e imprevistos num universo de controle e poder! Basicamente é isso que “veremos” na obra de Cronenberg? de fato não! Tudo é muito mais complicado do que parece, onde somos levados a uma “viagem” cheia de complexidade, indagações e muita reflexão!
Não somos apresentados a uma obra simples, a intenção é que nada nos chegue com facilidade. A realidade projetada por De Lillo e recriada por Cronenberg é ainda mais aterrorizante do que o panorama de 1984. Lá a ameaça vem de um sistema com controle ditado por “um dono da verdade” e aqui vemos outros contornos uma vez lidando com interesses pessoais em que o inimigo esta ao lado e não no alto da pirâmide.
Acompanhamos a jornada de Eric Packer ( Robert Pattinson), um gênio milionário que em sua limusine só deseja ir ao barbeiro cortar o cabelo, mas enquanto não chega, aposta na bolsa uma arriscada jogada contra moeda chinesa e a medida que algumas situações ocorrem vemos uma transformação absurda.
O ponto forte é justamente os diálogos que quase sempre fazem parte da esfera de divulgações filosóficas, em um primeiro ato ( sem tantos recursos) ate certo ponto repetitivo e previsível a atenção consegue ser voltada para justamente o texto escapado para pseudofilosofia e para digressões que realmente fogem dos personagens e ate do próprio filme, o clima que vai se instaurando no decorrer do trajeto nos leva a refletir e certa perturbação acaba atingindo nossas mentes. É difícil, truncado.. por isso avaliações imediatas não serão suficientes! Vejam, revejam, revejam novamente e mesmo assim talvez não tenha total compreensão, onde cada detalhe faz a diferença, a atenção e conexão com a trama é fundamental, por isso talvez a obra seja seletiva, existem cenas difíceis de serem acompanhadas já que nenhuma das anteriores possui conexão com a sucessora. De fato temos que aceitar que COSMOPOLIS não é um filme comercial, não é blockbuster, a obra exige que o telespectador esteja ativo e conectado, uma bobeada e a cena poderá ir por agua abaixo. o alvo de rejeição e criticas, como era de se esperar pode ser dada por total falta de compreensão, mas o que hoje é ignorado, amanha pode ser indispensável nas prateleiras de títulos cults.
Cronenberg desafia o publico e o que deveria ser um simples entretenimento vira uma obra estranha mas de uma intensidade fascinante, com sensações incisivas e atuações precisas a obra ganha força e nos surpreende a cada minuto onde acompanhamos tensão “natural” que nos intriga ate o ultimo segundo. Vivendo sua primeira experiência com câmeras digitais ele consegue criar uma perfeição em um ambiente claustrofóbico, acompanhados de closes extremamente próximos aos personagens que deixa o telespectador ainda mais desconfortável e sufocado.
A fotografia de Peter Suschitzky é a marca principal do longa. Valorizando as cores e formando enquadramentos e ângulos de câmera pouco convencionais e com muita profundidade, Suschitzky confere uma identidade visual deslumbrante à obra. Isto pode ser observado principalmente nas cenas no interior da limusine e quando Packer e Elise estão em uma lanchonete.
Personagens muito bem trabalhados favorece ainda mais COSMOPOLIS. Robert Pattinson esteve bem, se adequando ao papel, compondo um personagem difícil, Pattinson enfim conseguiu fugir um pouco do seu “eternizado” vampirinho, por mais que muitos tenham a opinião que o mesmo foi favorecido pelo papel, eu discordo! Podemos ver inicialmente um Eric Packer com uma calma e frieza impressionantes ate chegarmos ao maravilhoso ponto em que podemos conferir um Packer com tamanha ferocidade e epifania em seus olhares e trejeitos, o que não podemos negar, que foi muito bem feito pelo bonitinho, por mais que o personagem seja estoico vemos uma entrega do rapaz, onde cenas tensas e duvidosas vão de encontro ao mesmo que reage de maneira regular. O sarcasmo com diálogos elaboradíssimos que impulsionam a narrativa provavelmente farão Robert Pattinson ir em direção a novos rumos, se antes o jovem encontrava certas limitações em suas interpretações, que exigiam menos de seu potencial como ator, aqui, este é um fator que pouco deverá ser julgado, pois ele o faz decorosamente bem, sejamos justos!
o resto do elenco esteve brilhante, com destaque para Paul Giamatti que se destaca com movimentos extremistas e violentos, que já basta para despertar qualquer publico. A sincronia perfeita de kevin Durand e Juliette Binoche sem duvidas levantam a cena também.
Cronenberg consegue mais uma vez imprimir sua marca, com uma adaptação onde a violência e a transformação é gerada de forma eficiente e bem elaborada, fazendo com que o filme se torne interessante demais . Com um trabalho em que diálogos fantásticos fazem o diferencial, mais uma vez Cronenberg nos brinda com uma fascinante obra!
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