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Samurai Cop

(Samurai Cop, 1991)
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Críticas

Cineplayers

O estraçalho subversivo esquecido por Godard?

10,0

Um mafioso oriental e seus capangas unidimensionais (como absolutamente todos os personagens sensacionais desta esculhambação) tocam o terror na cidade e cabe a um homem – “conhecedor” da cultura nipônica – interromper esta turma na base da porrada: o Samurai Cop. Isso aí. Um norte-americano que passara um tempo no Japão, é alcunhado de samurai e além de ser um galanteador contumaz (a fita tem tanto erotismo soft porn quanto cenas de ação avulsas), maneja armas e espadas com a habilidade de um ninja terceiro-mundista que um cinema safado como esse visa em procriar.

Lutas avulsas de início, sem respiros ou subterfúgios, além da equipe aparecer em reflexo de óculos do grande vilão. Uma qualidade necessária a estes filmes é a questão do ritmo. Já que sabemos de todas as dificuldades para uma produção desta envergadura a termos de orçamento – já que eu analiso cada obra buscando ir de acordo com a realidade material de cada fita, o que aqui no caso é uma condicionante tanto de anti-proeminência técnica tradicional, quanto no trato financeiro [numa lógica marxista faz um sentido visceral quando nos pormenorizamos pela introjeção de capacidade material das obras] –, então cabe aos envolvidos aloprarem na dinâmica das ações de seus personagens. Ditas estas tergiversações, a falta de grana não serve de desculpa para ritmo lento. O que, obviamente, não significa que acelerar somente é algo certeiro como escolha narrativa e pronto, mas não matar o espectador de tédio é função primordial do cinema bagaceiro, e muitas vezes ele acerta. Samurai Cop é um acerto. Ou seja, ele não diverte apenas pelo seu caráter de raspa do tacho, mas por conta de sua vontade em animar a tela com sacanagem e selvageria. Os respiros propostos são focados no erotismo onde não só o protagonista, mas outros personagens participam de momentos íntimos regados a músicas eróticas fuleiras e maravilhosas que criam o clima brega perfeito que rima com a estrutura da fita. E quando se conurbam às ações? Como quando juntam uma cena sexo no meio da cena de ação – o Samurai Cop é atacado enquanto investiga, e corta para uma putariazinha dum capanga e sua mulher, mas a cena de ação interrompida ao meio não volta mais. Timing maroto. Coito da ação interrompida. Essa grosseria e falta de atenção/noção permeiam o projeto e ajudam no seu charme e jamais permitem o tédio. Essa vantagem é sensacional. Estamos dando atenção às cenas de diálogos de classe (bizarros) – "Você quer me comer?", além das piadas racistas e sexistas sobres paus –, e partimos em seguida para a libidinagem e em seguida da ação. E vão se revezando na montagem. Assim a diversão é garantida. Um esquema exploitation anos 90 de terceira divisão com vontade e orgulho em existir como cinema.

Os personagens existem mediante um fiapo de roteiro que os permita perambular pelo filme, além de proporem frases feitas divertidas e asquerosas, que somem às suas próprias unidimensionalidades, em termos de efeito para o tom erótico, ação ou comédia, tanto em desenvolvimento em cena ou então quando estão profundamente deslocadas. E como tal, são proferidas num tom over de gente da estirpe de Robert Z’Dar como Yamashita  – o eterno policial psicopata Matt Cordell da trilogia Maniac Cop [Maniac Cop - O Exterminador (Maniac Cop, 1988), Maniac Cop 2 - O Vingador (Maniac Cop 2, 1990) e Maniac Cop 3 - O Distintivo do Silêncio (Maniac Cop 3: Badge of Silence, 1993)] – com seu absurdo queixo proeminente e atitude de psicopata a serviço do crime, mas que vive sob a égide (altamente torta) de um samurai; e do protagonista policial samurai yankee Matt Hannon que em sua carreira constam os trabalhos do próprio Samurai Cop (Samurai Cop, 1991), sua sequência Samurai Cop 2: Deadly Vengeance (Samurai Cop 2: Deadly Vengeance, 2015), e de um trabalho anterior numa fuleiragem chamada American Revenge (American Revenge, 1988), que propõe o exagero de expressões canalhas para vender seu personagem com heroísmo compenetrado de um sujeito que só erra ao não trazer nenhuma testemunha viva para a delegacia; pra fechar o trio masculino de destaque temos Mark Frazer como Frank Washington [de destaque – talvez única participação – só a dialogia Samurai Cop], que com suas caras e bocas diverte como o parceiro pilantra do Samutai Cop, aqui numa tentativa vagabunda de emular o esquema buddy cop. Como bônus o vilão mor da fita, Cranston Komuro como Fuj Fujiyama, que aparece com seu penteado estaqueado a cara dos anos 80 e muita canastrice mandacionista. Uma beleza. Em relação as mulheres o material não oferece nada mais do que a beleza de moças lindas que servem somente à excitação e tortura. As linhas de diálogo quando não jocosas, subservientes aos homens são divertidas pelas total falta de noção do material ao tratar de sexo, como quando a atriz de filmes B norte-americanos Melissa Moore como Peggy [Invasion of the Scream Queens (Invasion of the Scream Queens, 1992) e Torre do Medo (Hard To Die, 1990)], busca o tempo todo parceiros para o sexo, seja dentro da delegacia ou então no meio de uma investigação que interpela um companheiro de farda que, já que eles não estão fazendo porra nenhuma, se não poderiam trepar. Do nada. Um filme sutil. Apetitosamente sutil.

Este filme é importante. Subverte pesado o cinema tradicional acadêmico norte-americano. É tão ignorantemente ruim (deliciosamente com a falta de recurso óbvia à vista), que não consegue replicar o tradicional citado de forma alguma. A montagem é toda atravessada e estrompada na continuidade, a fotografia muda as cores (quentes e frias) o tempo todo – assim como a luz que ilumina os planos –, corte a corte nas mesmas cenas e nos mesmos ambientes; ou quando muda o cenário (mesmo ambiente) numa cena só, num vai e vem esquizofrênico anômalo, como quando carros se encontram no início de uma perseguição em determinado momento em que é perceptível a troca entre ruas diferentes; ou quando numa das famigeradas cenas de luta, o cenário simplesmente é trocado plano a plano, por qualquer motivo que seja, provavelmente por alguma refilmagem, já que o protagonista está com cabelo diferente em certos planos (evidente que usa uma peruca marmotosa) – a luta começa nuns matos mais densos, e no plano seguinte estão num descampado, uma beleza. Fora as escolhas de olhares atravessados dos personagens de um lado a outro, sem encaixe tradicional na montagem. O som fora de sincronia corrobora bem com as atuações canhestras classe “Z” do elenco. Violência braba (mal feita, mas braba). O Jean-Luc Godard passou a vida toda tentando subverter a linguagem e não viu esse filme? Enquanto ele passara décadas provocando e apontando o fim da linguagem e os caralhos, aqui tinha uma obra altamente subversiva e anti-cinema que o próprio francês jamais teve a incompetência para vomitar filmicamente. Um dos elementos da subversão artística no cinema consiste em avacalhar a ordem das coisas. E parafraseando/adaptando Maiakovski, para uma arte revolucionária, necessita-se de uma forma revolucionária. Sacanagens e simetrias escrotas à parte, Samurai Cop (Samurai Cop, 1991) serve ao cinema exploitation citado, diante de todas as suas características narrativas objetivas, afinal é um filme policial de ação que explora sexo e brutalidade a rodo. O fato de ser altamente competente (do seu jeito acidental) em seu caráter amador é um plus para a curtição. Nisso a fita do Samurai americano alopra desavergonhadamente. Sebosamente.

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