Quando um filme não cai no gosto do público logo de cara, resta à crítica traçar um paralelo entre os prós e contras da produção e ver o que se salva e o que realmente é dispensável dentro dela.
Sucker Punch - Mundo Surreal é um tipo raro de filme que acerta tão bem em suas poucas qualidades que fica na corda bamba quase despencado por sua deplorável lógica narrativa.
Uma história que envolve mundos paralelos para fugir da realidade é um assunto realmente fascinante, que pode se perder na menor das falhas, e infelizmente a produção do tal diretor visionário abre um abismo gigantesco bem no centro da boa premissa, levando em consideração que o filme tem um início interessante.
E a história baseia-se nisso. Uma garota que é mandada para um sanatório, logo depois de perder a mãe, está prestes a ser submetida a lobotomia, e cria um mundo próprio para fugir das dores da realidade. Ao invés de seres excêntricos e lugares estranhos como é comum nas obras do gênero, temos uma dimensão repleta de monstros e guerreiros ( nessa dança entram nazistas zumbis, robôs, samurais gigantes de pedra, dragões, e por aí vai ) que protagonizam, junto de garotas com roupas curtas e silhuetas perfeitas, lutas bem coreografadas mas que abusam do efeito slow motion que chega a irritar depois da centésima vez que é utilizado.
O mundo de Baby Doll deixa de ser um reflexo de suas emoções e delírios para assumir forma alguma, desconexo com qualquer laço emotivo da personagem. Nenhum dos personagens alegorizam outros de seu convívio, ou talvez a garota que ela deseje ser em seu íntimo.
As situações não metaforizam a realidade ( exceto talvez pelo prostíbulo no lugar do plano do sanatório ), e alguns personagens vem e vão sem nem se apresentar, como é o caso do tal Homem Sábio, que entra em cena apenas para aconselhar as garotas com uma frase grotescamente carregada de significado de placa de caminhão.
Mas, como citei logo no início, Sucker Punch ainda pende em seus acertos. A qualidade visual do filme é inquestionável, com câmeras posicionadas em ângulos extraordinários, diante de cenários muito bem construídos, pintados e enfeitados.
As cenas de ação são realmente boas, e o ponto alto do filme ( embora a intenção do mesmo seja transmitir uma lição moral e de vida que não existe em momento algum, ou que esqueceram de contar, já que o roteiro é tão cheio de furos ), e se essas fossem a aposta central do filme, certamente que ele seria melhor visto. E talvez a cereja desse modesto bolo seja sua trilha sonora, realmente louvável com faixas bem selecionadas ( Sweet Dreams Are Made of This na voz de Emily Browning ficou simplesmente incrível ).
É claro que tudo isso seria o armamento perfeito a uma história afiada, e funcionaria melhor ainda se esta existisse, o que não é o caso, o que torna Sucker Punch - Mundo Surreal, uma espécie de vídeo game filmado, com gráficos excelentes mas pouquíssimo conteúdo.
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