Não indicado para leitores de menos de 300 páginas...
É bem isto mesmo. De forma bem sintética, Na Estrada, a adaptação de Walter Salles para o cinema do romance homônimo de Jack Kerouac (On The Road, 1957) é recomendável apenas àqueles que já leram tal livro. Fora isto, os demais espectadores ficarão perdidos. Não é para menos, uma vez que o enredo do filme já se inicia na metade do livro, sempre contando partes da história com flashbacks que remontam ao Kerouac pós-aventura, ou seja, se preparando para escrever o livro. Antes de comentar melhor sobre os prós e contras da relação filme/livro, vale ressaltar aspectos técnicos do longa.
Dentre as atuações, podemos valorar apenas o papel desempenhado por Garrett Hedlund (Dean Moriarty), que evoca e traduz bem toda a magia que Kerouac propôs à personagem em seu best seller. No caminho contrário, Sam Riley decepciona ao mostrar um Sal Paradise morno e pouco interessado, diferentemente do que sentimos ao ler o romance. Dentre as personagens principais, me resta citar Kristen Stewart (Marylou), que, por si só, dispensa comentários. Sua atuação, mais uma vez, deixa-nos com vergonha alheia por desempenhar tão fracamente um papel tão forte como o de Marylou que, tomando novamente o contexto do livro, faz-se sentir falta do ar de prostituta que a personagem originalmente pensada exalava. Para concluir a parte das atuações, é interessante citar Kirsten Dunst, que desempenha muito bem o papel de Camille, colocando-se ao lado de Garrett como melhor interpretação.
No quesito fotografia, a alternância entre extremamente claro e extremamente escuro seria brilhante se não fosse explorada com tanta veemência. Há momentos em que se cansa de tanta transição numa escala de cor tão dispare. Afora isto, há belos lances de câmera e ângulos de filmagem, que valorizam a cena. Já pegando o gancho nesse viés técnico, o som é extremamente decepcionante, provavelmente a parte que mais decepciona no filme. Os leves momentos em que há uma sutil melhora, são as partes em que há as frenéticas "baladas" de bebop. Nos demais cortes, basicamente não há trilha sonora ou, se há, é bem precária; insta ressaltar, ainda, que os efeitos sonoros são bem humildes, o que não condiz com uma produção de Salles.
Voltando ao quesito filme/livro, os fãs se decepcionarão e os novatos ficarão perdidos. Estes por não conseguirem compreender o que está acontecendo e, aqueles, por sentirem falta de muita coisa pensada originalmente por Kerouac. Falta liame lógico entre os eventos e, uma coisa que muito me intrigou, foi que no filme o homossexualismo é explorado de forma exageradamente livre, totalmente oposto ao que ocorre no livro, onde tal fato é bem velado, o que dá graça à história, pois o leitor vai até o fim tentando entender se há ou não uma relação amorosa entre Sal e Dean. Faltou, ainda, toda a energia que Sal passa no livro, sua ânsia por sempre estar em movimento e se propondo a novas aventuras, sempre fazendo esforço para estar perto de Dean.
Todavia, nem tudo é ruim: os fãs se emocionarão (assim como eu) com cenas clássicas e citações de passagens do livro, bem como as agitadíssimas sessões de bebop e toda a existência frenética de Dean. Para os novatos, estes poderão sentir-se inclinados a lerem. Ainda que o filme não motive muito, pode ser que surja um interesse, mesmo que para compreender o que se vê na tela.
Concluindo, Na Estrada é um filme razoável. Nem bom, nem ruim, mas numa média que desagrada os fãs mais xiitas, que ficam com um gosto de quero mais.
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