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Críticas

Cineplayers

Será que Danny Boyle foi mesmo um bom diretor?

3,0

Sunshine - Alerta Solar (Sunshine, 2007) é tão ruim que ficamos nos perguntando, terminado o filme, se o diretor Danny Boyle foi mesmo bom no início de sua carreira ou nós estávamos todos enganados. Depois de dois filmes interessantes e promissores, Cova Rasa (Shallow Grave, 1994) e Trainspotting - No Limite (Trainspotting, 1996), Boyle entrincherou-se numa série de filmes ruins e, agora, um cinema B de ficção científica com qualidade para lá de duvidosa e resultados constrangedores. Seria a maconha de A Praia (The Beach, 2000), com Leonardo DiCaprio, a responsável por tamanha catástrofe?

A trama. Em 2057, o Sol está prestes a se extinguir e, com ele, a humanidade. A última esperança da Terra é Icarus II, espaçonave que leva uma bomba atômica “com o peso de Manhattan” capaz de reacender a estrela. “Um novo Big Bang.” Do início ao fim, toneladas de clichês: o covarde que morre, a briga entre os dois galãs pelo comando, as panes que colocarão todos em perigo, o computador de bordo (feminino, como nos filmes Alien) que se vira contra eles, o louco que tenta sabotar tudo etc. Nada que não tenhamos visto milhares de vezes em praticamente todos os filmes de ficção científica, bons e ruins, nos últimos 20 anos (o que nem é um defeito em si), só que mal feito. Um cozido azedo e gorduroso.

Bom tempos em que o cinema usava o espaço sideral para discussões filosóficas e humanísticas, como Solaris (as duas versões são boas, tanto a original de Andrej Tarkovski, de 1972, quanto o remake de Steven Soderbergh, de 2002). Mesmo filmes menores, como Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977) e 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), conseguem prender o interesse e divertir com o mínimo de dignidade. Danny Boyle fez um filme violento, barulhento, pernóstico e vulgar. Uma espécie de Godzilla (idem, 1988) versão solar.

O elenco seria um atrativo: Cilliam Murphy, Chris Evans e Michelle Yeoh (de O Tigre e o Dragão [Crouching Tiger, Hidden Dragon, 2000]). Os desempenhos, no entanto, são sofríveis – afinal, são meros coadjuvantes dos efeitos e dos cenários. A parte técnica é tão sem inspiração (apesar de nomes premiados e conhecidos, além dos 50 milhões de libras gastos), filmada de maneira novo-rica e sempre do mesmo jeito, que lá pelas tantas ninguém agüenta mais travellings pelo escudo protetor da nave. E, claro, a grande desvantagem dos filmes de ação: o som é tão alto que não há como dormir durante a projeção. A trilha sonora infernal, acusticamente ofensiva e de uma mediocridade alarmante, não deixa ninguém se concentrar, pensar na trama e, o que seria mais razoável nesse filme, deixar o espectador dormir em paz.

Além disso, o diretor é todo firulas de câmera, distorções, vai-e-vem, gruas, escuros, cenas estouradas e um fastidioso etc. Uma versão anabolizada do brasileiro Fernando Meirelles – na verdade, trata-se de uma vasta tradição de diretores que vieram da publicidade. A figurinista de O Jardineiro Fiel (The Constant Garderner, 2005), Christine Blundell, trabalha aqui em Sunshine, tendo sido responsável pela mais ridícula roupa de astronauta já feita recentemente, em lamê dourado. Soma-se a isso as 500 tomadas de efeitos especiais e do pesado uso do CGI, tem-se um filme montanha-russa em que câmera parada e diálogos são uma raridade.

Trata-se do quarto filme equivocado de Danny Boyle. Além do citado fracasso comercial de A Praia, Boyle fez Caiu do Céu (Millions, 2004) e Por Uma Vida Nada Ordinária (A Life Less Ordinary, 1997), até que iniciou o ciclo B com sua primeira ficção científica, Extermínio (28 Days Later..., 2002) e este Sunshine. Em Extermínio, ele quis refazer A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968), de George Romero, pois um vírus se espalha e transforma metade de Londres em canibais ávidos por sangue humano. 

Já corre na imprensa americana um certo temor de que a avaliação de filmes terá de ser reavaliada. É que teve o início da temporada dos blockbusters e, segundo os críticos americanos, nunca os filmes de abertura da temporada mais rentável do ano foram tão ruins. Os quatro primeiros de 2007 - pela ordem, Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider), Sunshine - Alerta Solar, Colheita do Mal (The Reaping) e 300 (idem) - estrearam sendo motivo de deboche na maioria das publicações sérias. No entanto, todos foram razoavelmente bem de bilheteria. Algo parece estar errado: o descompasso entre público e crítica nunca foi tão grande.

De 300, disseram que era a versão hollywoodiana do Gala Gay, o tradicional baile de Carnaval do Copacabana Palace, igualmente lotada de halterofilistas seminus – Frank Miller, o autor da HQ que originou o filme, ficou tão horrorizado com o resultado final que vai dirigir as próprias adaptações de obras suas no futuro. De Motoqueiro Fantasma, que pelo menos serviu para explicar a calvície do Nicolas Cage (a cabeça pegou fogo). De Sunshine, que seria uma megalomania do Tocha Humana, a personagem de Chris Evans em Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2005). Entre outras brincadeiras.

De qualquer forma, quem é fã do Danny Boyle por causa de Trainspotting esqueça: não há nada em Sunshine que lembre o diretor em seu início de carreira, longe disso, a não ser que seja uma bad trip e eu não entendi direito.

Comentários (4)

Marcus Almeida | quinta-feira, 24 de Novembro de 2011 - 01:20

Será que Boyle já foi mesmo um bom diretor?

Não.

Leandro Nogueira Araujo | segunda-feira, 07 de Maio de 2012 - 09:58

Assisti recentemente em dvd e discordo da crítica acima. Gosto de ficção-científica e achei o filme muito bom. Embora a premissa do roteiro seja simples, o mesmo tem excelentes desdobramentos e prende a atenção do expectador.

Sebastian Heleno | terça-feira, 09 de Outubro de 2012 - 13:06

Gostaria de dar uma nota 0.0 para a medíocre crítica.

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