Tratar de pensamentos, fantasias ou imaginações já é complicado, se tratando de crianças então a dificuldade aumenta. “Onde Vivem os Montros” foi falhou nesse quesito. Com uma boa idéia baseada no livro de Maurice Sendak o diretor Spike Jonze falha em sua execução.
Spike Jonze é considerado por muitos como um dos grandes produtores dessa nova geração, apesar de ter dirigido apenas três filmes o diretor conseguiu agradar boa parte do público. Spike foi indicado ao Oscar pelo roteiro nada tradicional de “Quem quer ser John Malkovich” e dirigiu também “Adaptação” filme que rendeu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Chris Cooper. Porém em seu terceiro filme Spike não conseguiu transmitir o que ele desejava. Sabendo-se que obviamente o público alvo de “Onde Vivem os Monstros” são as crianças o diretor acabou deslizando em alguns detalhes, por horas minuciosos, mas certas vezes gritantes.
Max (Max Records) é um menino extremamente solitário, ao mesmo tempo bagunceiro e com uma imaginação muito fértil. O menino sofre com a falta de atenção de sua irmã mais velha, Gracie (Pepita Emmerichs), e principalmente de sua mãe (Catherine Keener) atolada com seu emprego e com seu namorado (Mark Ruffalo) - que não sei porque literalmente nesse filme não pronunciou uma palavra - . Depois de uma discussão com sua mãe, Max foge correndo de sua casa. É aí que ele vai parar em um local desconhecido habitado por monstros nada cativantes, sendo considerado por eles um Rei.
A primeira parte do filme é extremamente interessante, se adentrando no mundo monstros, viajamos junto com Max nesse novo universo. Com uma trilha sonora magistral na qual vou resenhar posteriormente, conseguimos sim embarcar e acreditar no mundo criado por Max – esse talvez fosse o maior desafio de Spike, fazer o mundo criado por ele parecer crível – . Entretanto a segunda parte do filme é um desastre. O monstro Carol parece ter dupla personalidade, a personagem no começo extremamente simpática, amorosa começa a ficar rancorosa, raivosa com uma explicação totalmente sem nexo dada por Spike Jonze. O diretor deixa no ar algumas perguntas que só lendo o livro mesmo para saber. Ele não deixou claro o porque da briga entre Carol e KW? Porque Carol odeia tanto as corujas? Porque os monstros comeram os reis anteriores? E mais algumas arestas deixadas ou por descuido, ou imaginando que não iriam atrapalhar em nada. Atrapalhou.
Outro ponto que pode atrapalhar a recepção do filme é o fato dos monstros não serem nada cativantes ou no mínimo atraentes, uma criança olhar um bode com cabelos vermelhos e chifre talvez não seja a figura de seus sonhos. A parte o roteiro fraco, é fundamental destacar a parte técnica do filme. Uma fotografia espetacular, talvez a melhor cena do filme seja a tomada em que os monstros e Max estão em uma rocha observando o pôr-do-sol, fantástica. A própria imagem do pôster onde Max e Carol estão no deserto é simplesmente linda.
Mas o que merece um parágrafo a parte é a trilha sonora brilhante, o trabalho realizado por Carter Burwell e Karen Orzolek é sem sombra de dúvida a melhor parte do filme e sinceramente poucas trilhas sonoras conseguem atingir tanto no quesito emoção, mas em “Onde Vivem os Monstros” é completamente diferente. Carter Burwel que teve sempre uma carreira muito ligada aos irmãos Coen – Burwell já trabalho em filmes como “Teoria da Conspiração” e “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”. Recentemente Burwell compôs as musicas instrumentais de “Crepúsculo”. Porém essa pode ser a consagração de Burwell, com músicas fantásticas ele realizou seu trabalho mais perfeito. Burwell teve a parceria de Karen Orzolek, que já participou da trilha de “Não Estou Lá” filme sobre o cantor Bob Dylan, e compôs a música de tema de “Onde Vivem os Monstros”, chamada de All is Love – ótima por sinal.
Partes técnicas a parte faltou um pouco mais de cuidado para Spike Jonze, se o filme sobrou na edição e na composição do som, faltou muito no roteiro. O filme não é ruim – existem cenas lindas e comoventes, basta ver a beleza quando Carol e Max rolam na areia – porém pelas pretensões que eu imagino que Spike tinha, acabou pecando nesses aspectos.
“Onde Vivem os Monstros” deve ser acompanhado por todos, uma trilha sonora de arrepiar e uma lição vida – mesmo que mal contada – sempre caem bem.
Nota: 5,5
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