É um fato bastante normal nos interessarmos por estórias bem contadas e que envolvam algum tipo de reavaliação da existência, ou pelo menos, que nos remetam às lembranças do passado; de todas as experiências que tivemos através dos anos, que antes pareciam nunca vir, mas que constatamos, ao olharmos para trás, terem passado rápido demais. Algumas dessas estórias, tão bonitas e encantadoras, são contadas por nossas avós e, sejam elas experiência que ocorreram de verdade ou apenas fatos ficcionais, não é o que de fato importa, mas sim o fascínio que elas nos trazem. Assim como nossos avós, o cinema tem um grande peso nos ensinamentos que levamos para nossa vida. Durante nosso crescimento não ficamos alheios aos ensinamentos que o mundo ao nosso redor nos trás e o papel de certos filmes está lá; filmes que ficam na nossa mente e servem de aprendizado para as mais diversas questões relacionadas à existência humana. De certo modo, é importantíssimo mostrar esta relevância do cinema, e que ela não se perca nas gerações cada vez mais desinteressadas por obras que realmente tenham conteúdo.
Mr. Nodoby é uma dessas estórias, cheias de significado e que traz fascínio em cada um de seus frames – o que remete as mais variadas obras como Forrest Gump, Peixe Grande e até mesmo Morangos Silvestres. O ponto de início do filme não é muito claro, mas logo identificamos a sua proposta de narrar os acontecimento da vida de Mr. Nobody – Nemo Nodoby –, pela figura do próprio na sua velhice. Em vários aspectos, Mr. Nobody lembra outro bom filme chamado The Fall, que além de trazer uma bonita narrativa, com um visual incrível, faz uma bela homenagem aos primórdios do cinema, trazendo para nossas mentes um sentimento ao qual por vezes esquecemos, da importância de certos valores e de como as coisas são mais bonitas do que nos lembramos realmente. O sentimento passado por Mr. Nobody é o mesmo, como se ao final do filme abríssemos nossos olhos para as pequenas coisas que sequer notávamos; é aquela mesma ideia explorada por Crimes e Pecados, de que a vida humana é incrível e que, nós humanos, temos a belíssima característica de transformar coisas, teoricamente, sem relevância em momentos importantes vida e que definirão, junto às nossas ações, nosso papel no mundo. Mas além de analisar a beleza da vida por este ponto de visão, Mr. Nodoby é um filme sobre as alternativas que a vida nos dá e como uma pessoa lida com as difíceis decisões que tem que tomar durante sua jornada no mundo.
Pois bem, o ano é 2092 e Nemo é o último homem que deve a morrer naturalmente na Terra. Nada se sabe sobre o “Sr. Ninguém” e uma última tentativa de descobrir suas origens e quem de fato era (detalhes da sua vida) é realizada, o que nos leva aos complexos caminhos da vida. Contar mais sobre a estória é estragar uma rica experiência, além de uma tarefa bastante complicada pelo estilo narrativo. Mr. Nodoby explora, desde o nascimento de Nemo até o ano de 2092 (passando por outras épocas, passadas e futuras), as conseqüências que determinadas ações implicariam na vida de Nemo. As diversas linhas narrativas – se é que podem ser consideradas linhas – se misturam da maneira que não dá pra saber o que é realidade, sonho, mentira ou verdade. Estão lá, além de vários questionamentos existenciais, fatos científicos (como as dimensões do universo ou a origem do sentimento de medo), sentimentos humanos, discussões sobre o controle da vida e destino. Um prato cheio para horas e horas de reflexão.
A ambientação que perpetua a obra, estranhíssima em um primeiro momento - uma mistura, ainda que seja uma comparação exagerada, de filmes como Idiocracy, Southland Tales e O Guia do Mochileiro das Galáxias -, se mostra mais do que acertada para criar um mundo que embora faça sentido e transpareça uma realidade, tanto de felicidade como de tristeza, também é onírico e apto a receber os mais diversos momentos de surrealismo e sonhos, ao longo do desenvolvimento. Quando nos acostumamos com esse aspecto do filme, é impossível não se identificar com a beleza estética, ainda que não seja tão fantástica quanto à de The Fall e possua momentos de gosto duvidoso - exagerados. Em relação ao elenco, dando ênfase a Jared Leto, estão todos bem postados dentro da narrativa e mesmo que ninguém faça um trabalho excepcional – na verdade são trabalhos individuais bastante regulares – logo causam a tão importante identificação com o espectador.
E o fruto dessa identificação, vem com o tempo. Mesmo que em diversos momentos a narrativa dê uma diminuída no ritmo, o que faz o interesse cair um pouco, e nem todas as alternativas mostradas para a vida de Nemo sejam verdadeiramente interessantes – a linha narrativa com Anna é de uma simplicidade e beleza tocantes – ao final, é difícil não estar imerso naquele universo. As lições aprendidas sobre a vida e sobre as suas nuances – uma mensagem semelhante é apresentada em Click, o que também o faz ser um filme bastante tocante – são absorvidas por cada um à sua maneira, mas parece de senso geral o quão bela ela é. Em certo momento, um jornalista indaga a Nemo: “Você não tem medo da morte?”. A resposta é: “Eu tenho medo é de não ter vivido de verdade”.
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