“Se você pode aguentá-los, você pode superá-los.”
Invencível é um filme inofensivo. Suas pouco mais de duas horas refletem uma experiência que em nada acrescenta ao espectador, tal qual olhar durante esse tempo para um copo transparente vazio. A segunda produção de Angelina Jolie na direção, aliás, é tão sem personalidade própria que não me surpreenderia caso eu esquecesse que o vi logo depois de digitar as últimas palavras desse texto. É um filme que não serve nem para ser odiado, não merece o esforço, não tenta nem ao menos ser ruim de verdade, mascarando-se com algumas qualidades aqui e ali.
Talvez o principal mérito dessa empreitada de Jolie na direção seja o de provar a importância do talento do nome na cadeira de direção em um filme. Uma história real espetacular por si só não garante uma obra espetacular, o filme parece gritar. Por que, sim, a trajetória de Louis Zamperini impressiona. De garoto em quem poucos depositavam alguma esperança longe dos crimes à destaque nos 5000 metros nos Jogos Olímpicos de 1936, onde deu a volta mais rápida da prova até então, passando por sua luta por sobrevivência ao longo da Segunda Guerra Mundial, Zamperini prova merecer a alcunha de “inquebrável” do título original. Não a toa, o filme finalmente emociona quando coloca na tela uma gravação da figura real realizando seu sonho pós-guerra de voltar à correr, com mais de 80 anos de idade. Ali o filme funciona, por méritos de Zamperini, mas aí já é tarde demais, em minutos os créditos sobem.
Por que Jolie sabe os botões que precisa apertar para emocionar, mas a coisa toda é tão telegrafada ao espectador que a coisa fica difícil. O roteiro é uma colagem de clichês de filmes melhores – e assusta ver o nome dos irmãos Coen na coautoria do roteiro ao lado de Richard LaGravenese e William Nicholson -, a fotografia, indicada ao Oscar sabe-se lá como, é aquela obviedade de tons exageradamente cinzas e constantes panos enquadrando o céu azul atrás dos personagens, os atores, com exceção do esforçado Jack O’Connell no papel de Zamperini, são vergonhosos (Miyavi, intérprete do carrasco japonês do protagonista, em especial, é dos rostos mais inexpressivos do cinema esse ano e seu personagem parece protagonizar uma subtrama que mistura desprezo e respeito por Zamperini que morreu na sala de montagem) e para fechar tudo, a trilha sonora de Alexandre Desplat, que parecia incapaz de errar, chega a irritar, sempre óbvia e chamativa, se tornando ensurdecedora nos momentos em que quer emocionar.
Existe um bom filme escondido em uma parte ou outra de Invencível. A luta de Zamperini e dois companheiros para sobreviver à deriva no oceano por mais de quarenta dias é um exemplo. A cena em que uma fila de prisioneiros esmurra o protagonista é outro. E há também indícios de que a coisa toda poderia ser ainda pior, como qualquer aparição do irmão do personagem de O’Connell, que parece um livro de autoajuda ambulante, sempre disposto a disparar frases e mais frases de superação – a que abre esse texto é só uma delas. Mas esses momentos em que existe alguma passionalidade são escassos. O que fica em 90% por cento da produção é algo sem vida mesmo. Daí que quando um abraço que deveria ser o ápice emocional da narrativa finalmente surge, o resultado é uma breve reticência por parte do espectador, já que nenhuma emoção surge de dentro pra fora. Fica só a trilha de Desplat tentando empurrar esse sentimento de fora pra dentro.
Aí fica aquela sensação óbvia e irônica de que Zamperini, um homem tão “inquebrável”, recebeu uma cinebiografia tão frágil que quebra à primeira lembrança. Isso claro, se chegar ao ponto de ser lembrada.
Jolie como diretora... Se saiu uma grande atriz!
Nem vi o outro dela (nem acho que vou ver hahaha), mas se for como esse seria melhor ela ficar só na atuação mesmo, Lucas.